Capítulo 4.

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“Que estavas a fazer aí?, perguntei ao gato que se atreveu a vir na minha direcção, roçando-se  nas minhas pernas, como se estivesse a dizer ‘não fiz nada de errado’.

“Vá, anda ali comer”, peguei nele e dirigi-me à cozinha onde tinha a sua cama e tigela.
Voltei para a entrada para pegar nos sacos de compras e levei-os para o wc, para arrumar aquilo e tratar do meu banho. Liguei a água quente para encher a banheira, eu precisava de relaxar de tudo. O perfume pu-lo na estante dos perfumes, sais de banho no armário, com excepção ao que ia usar no banho, com um dos shampoos fiz a mesma coisa, enquanto os restantes também foram para o armário. Maquilhagem para a caixinha que tinha na gaveta do armário e pronto, o resto decidia depois, porque ainda faltavam mais dois pequenos sacos.

Lentamente fui tirando a roupa que ainda tinha vestida, ficando totalmente nua, amarrei o cabelo num coque simples e pus a toalha à mão para quando saísse do banho. Liguei a música no telemóvel para estar música ambiente e acendi sete velas junto à banheira. Ainda fui buscar um copo de banho, meio cheio e finalmente caminhei para a banheira vendo o gato a ir para cima da cama.
A água estava na temperatura necessária para não me queimar ao entrar, ma so suficiente para estar quentinha para estar lá algum tempo.

O quão a minha vida tinha mudado em tão pouco tempo. Aqui estava eu, sozinha em casa com o gato, sem companhia para o fim de semana, como se tornou habitual nos últimos tempos. Estava na altura de mudar, era agora que ia voltar de corpo e alma uma “nova” vida.
Procurei o nome da Guida no telemóvel, ela sempre me apoiou e ajudou no que precisei, esteve sempre lá para mim, e eu é que a larguei. Então era agora ou nunca, e ao fim de três toques ela finalmente atendeu a minha chamada.

“’Tou?”, a voz fina e suave dela entoou do outro lado da linha.
“Guida, sou eu, a Ana.”
“Então olá desaparecida, como estás?”
Depois de três meses sozinha? Ah pois… “Bem e tu?”
“Estou bem.”, um silêncio ficou entre nós, só se ouviam respirações.

1,2,3,4.

“Queres combinar algo para esta noite? Sabes que os rapazes não estão por cá, então aparecias e vias um filme cá em casa, falávamos um pouco. Acho que precisávamos disso Ana.”
“Apareces cá a casa? Tenho saudades tuas.”
“Claro, às 21h e pouco apareço aí, tudo bem? E queres que leve algo?”
“Não, não, apenas aparece cá, conduz com calma”

Terminei a chamada e vi as horas, exactamente 20h, ainda tinha algum tempo. Estive mais uns 20 minutos lá na banheira a pensar em nada, apenas aproveitar o momento e cantar o que ia sendo reproduzido pelo telemóvel.
Soltei o cabelo e ligando o chuveiro lavei a cabeça, sem antes ter mergulhado por inteiro na água espumada e perfumada, que entretanto tinha começado a esfriar. Lavei bem e pronto, estava pronta a vestir o pijama e ligar o aquecedor na sala. O mal deste sítio é ser bastante frio, mas o aquecedor em poucos minutos aqueceria de novo todo o espaço.

Alcancei a toalha e sequei-me, coloquei a toalha à volta do meu corpo e peguei numa pequena do armário para pôr no cabelo durante um bocado. Olhei-me ao espelho, tão diferente que me sentia. Dirigi-me à sala enrolada na toalha e na mão levei o pijama e roupa interior e ao chegar à sala liguei o aquecedor no máximo para aquecer mais rapidamente. Liguei a televisão só para ficar como som de fundo e finalmente vesti-me.

Mais uma recordação dos rapazes: este pijama todo ele quentinho de um tom cinza e preto, muito simples e lindo, mas com os pormenores deles. Sim, porque eles fizeram questão de pôr os seus nomes na parte de trás da camisola, com o símbolo da banda na parte da frente das calças, do lado esquerdo.

Fui ao pequeno, mas com alguma profundidade gavetão à beira da televisão e peguei dois cobertores leves e um dos que se costuma pôr na cama. Este cobertor era especial, nada de cama, só sofá com amigas. Peguei no telemóvel e liguei para a pizzaria, encomendei uma familiar gigantesca com bebida e tudo, a Guida muito provavelmente nem sequer tinha jantado, mas faminta como é come a qualquer hora.

20h50. Ela estava mesmo a chegar, e só a partir das 21h é que ela tocaria à campainha, nem um minuto mais cedo, mas para se atrasar já estava à vontade.

Os dois saquinhos ainda estavam no wc à espera que os arrumasse, então ainda os fui buscar para arrumar. Um frasquinho de aromas para a casa estava por lá e depois de abrir o pequeno boião e colocar lá os pauzinhos pus na janela do quarto.
Amava totalmente o meu quarto, porque tinha daquelas janelas em meio circulo que dava para pôr lá sofás e assim e foi exactamente isso que fiz. Então a borda da janela tinha espaço largo e suficiente para pôr o frasquinho de aromas.

 O outro saquinho não estava a reconhecer. Era azul-bebé com desenhos castanhos beges e de tamanho pequeno. Ao pegar nele repararei que tinha um cheirinho a laranja, um pouco forte até, mas ao mesmo tempo discreto. Abri com cuidado para não estragar o saquinho e sentei-me no sofá para ver com atenção o que era. Pela caixa fina vi que era incenso de laranja, o tal aroma agora reconhecido, depois tinha a parte de madeira onde se coloca o incenso com um desenho bonito que me lembro de ter visto em qualquer lado, mas onde? Boa pergunta Ana, pensa, pensa. E ainda tinha um pequeno objecto, não era bem um objecto, mas sim uma rosa vermelha encerada, e enrolada no caule tinha um papel. Abri-o com cuidado, pois estava lá preso e não queria estragar aquilo, porque definitivamente não era meu, não tinha comprado aquilo. Muito provavelmente até seria da Nina e veio junto quando lá fui buscar as minhas coisas. Então lá abri o papel e comecei a ler:

“Nem tudo o que parece é, nem todo o chão é plano ou céu é claro. Contudo há sempre uma nova oportunidade e um novo caminho a percorrer, uma nova derrota e uma nova vitória. Somos todos loucos, então aproveita a tua loucura que é a vida.
P.s.: As rosas secam, mas essa é tua eternamente Ana.

Edward S , 7º - A5.”

“Mas que raio?”, perguntei a mim mesma. Quem seria o Edward S. que acabara de me dar isto? Será que o conheci em algum sítio e não me lembro? Mas e “7º - A5”, o que será?

A campainha tocou e com isto vi que eram 21h e a Guida finalmente teria chegado. Caminhei para a porta e lá estava ela, com o seu cabelo emaranhado no noto da cabeça, numa rabicha feita à pressa e com a pizza na mão, enquanto o rapaz das pizzas entrava no elevador, juntamente com o rapaz que suponho ser o novo inquilino cá do prédio. Apesar de ele já cá estar à duas ou três semanas pelo que o porteiro Nuno me disse na terça-feira passada. Na verdade nunca lhe fui desejar as boas-vindas, talvez amanhã ao final do dia lhe vá dar uma palavrinha.

“Guida, entra!”, puxei-a para dentro e pousando a pizza em cima do pequeno sofá da entrada dei-lhe um grande abraço. Já não estávamos tão unidas como antes, mas um abraço pode-se dar sempre, certo?
“Oh, não me amasses, quero desprender o cabelo!”, riu ao meu ouvido e vi que tinha trazido a mala maior, muito provavelmente com o pijama. Esta rapariga está sempre prevenida para tudo.

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@anacoelho17

I don't wanna love youOnde histórias criam vida. Descubra agora