/lunes, 25 de maio de 2020/

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Já fazia um mês que eu estava naquele apartamento, isso mesmo, parece uma loucura, né? E era, uma das mais loucas que já havia topado participar, um mês de completo isolamento com ele, algo que nunca tínhamos vivido, jamais compartilhamos casas em todos esses anos, era sempre um hotel, umas noites no apartamento de cada um, mas nunca vivemos uma história de casal adulto, que compartilha casa, tarefas e o dia. Não sabia dizer ainda o que estava sentindo em estar ali, tudo parecia muito irreal, toda a situação de quarentena, o caos no país, a saudade da família, a impossibilidade de sair, de buscar diversão na rua, a dificuldade de ir ao mercado, a uma farmácia, o medo de encostar em algo ou em alguém, tudo parecia tão louco que acho que nossas intuições sentiam que precisávamos nos desapegar de nossos orgulhos antigos e viver apenas o carinho que sentimos um pelo outro, afinal podia ser a última vez que nos veríamos.

Havia chego a semana em que o Dani viria para cá, eu ainda não sabia como aquela situação mexia comigo, afinal, eu ainda não entendia nem o meu lugar naquela conjunção familiar. Poncho se mostrava completamente à vontade com a minha presença ali e eu decidi que iria fingir naturalidade perante tudo isso que estava acontecendo. A campainha tocou, me assustando, quase joguei o copo no chão, parei de lavar a louça para escutar o que eles iam conversar.

- Hola pequeño T-Rex, como estás? - seu tom de voz era radiante

- Pues bien - pude escutar sua gargalhada

- Na mochila estão algumas coisas que ele escolheu para trazer, uns jogos e uns lanches também - dessa vez quem falou foi ela, fazendo com que meu ar faltasse - Qualquer coisa me liga, mas acredito que não terá problema.

- Pode deixar, obrigada por vir trazer - me aproximei um pouco mais do corredor de onde eu conseguiria ouvir mais - fica tranquila que eu levo ele.

- Tá ótimo, se cuidem, cuidado se precisar ir a rua - ela falou calma - Tchau pequeno, a mamãe te ama! - escutei ela dar um beijo no pequeno

- Se cuida também, te amo! - ele deu um beijo na testa dela e aquilo bagunçou toda a estrutura que eu estava tentando montar dentro de mim, eles realmente tinham um carinho muito grande entre si.

Escutei a porta bater e voltei para a cozinha, terminando de lavar a louça, porque Poncho faria o almoço.

- Dani, esta es la tía María - ele caminhava até mim com o pequeno no colo e eu ainda estava em choque sem saber como reagir

- Hola Dani, como estás? - sorri e ele tapou o rosto com as mãos, encarei a Poncho nervosa e ele negou com a cabeça

- Que hace ella aquí? - disse com o rosto escondido no ombro do pai

- Ela veio para ficar com o papai - Poncho o mantinha no colo e ele seguia com o rosto deitado no ombro - Tiene sueño?

- No - levantou rosto e voltou a me encarar, mantive meu sorriso para ele

- Que quieres hacer hoy? - Poncho falou o levantando até o teto e ele soltou uma gargalhada

- jugar futbol - pediu que Poncho o colocasse no chão e foi correndo para o quarto

- Não precisa ficar nervosa, daqui a pouco ele se acostuma - veio até mim e me deu um selinho

- O que a gente está fazendo? - falei desacreditada e insegura

- Vivendo o inusitado - segurou meu rosto, distribuindo beijos ao redor dele - Preciso ir ver o que ele está fazendo - riu e saiu da cozinha

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Acordei com Dani em cima da minha barriga e Dulce deitada em cima do meu braço, rapidamente me lembrei que estávamos vendo um filme antes de dormir e acabamos todos dormindo sem nem perceber. Tentei ajeitar o pequeno, mas com uma mão só foi impossível.

/ era pra ser / DyPOnde histórias criam vida. Descubra agora