/sábado, 20 de junho de 2020/

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O dia seguinte chegou e eu só percebi quando Poncho veio me avisar que o laboratório entraria para realizar meus exames e logo depois entraria a equipe da clínica para montar o home care. Eu não tinha forças nem para contestar nada que acontecia ali, apenas aceitava que estava passando por aquilo e não tinha o que fazer.

Após fazer todos os exames, a enfermeira veio, conversou comigo, me explicou o que aconteceria e logo depois me colocou no soro, era muito incômodo aquilo tudo, me sentia presa, enjaulada, além do isolamento eu ainda estava atrelada a uma cama, sem conseguir me mexer e vomitando mil vezes ao dia.

- Ei, tudo bem? - ele sentou ao lado da cama e colocou meu cabelo atrás da orelha e eu apenas neguei com os olhos e segurei sua mão, tentando apertar - Estava pensando hoje, você não quer que eu chame a sua mãe ou sua irmã? - arregalei os olhos como pude

- Não! - falei firme, mesmo com a voz fraca

- Porque ardilla, não tem motivos para você passar por tudo isso sozinha - ele tentava argumentar e eu só pensava que nada disso era para estar acontecendo, como eu encararia minha mãe

- Não estou preparada para contar para ninguém - suspirei sem força

- Se você piorar, eu vou precisar chamar ela - ele deu de ombros

- Eu vou melhorar - afirmei confiante

Para minha infelicidade, após 2 dias eu não melhorei, seguia desidratada e sem conseguir me alimentar. Então o que menos esperava e desejava aconteceu, vi minha mãe entrar pela porta daquele quarto que nem meu era, a vontade de morrer me preencheu de tal maneira, que eu não tinha nem ar para respirar, observar suas expressões enquanto ela andava até mim foi me estremecendo dos pés a cabeça. Poncho a acompanhou até a porta e de lá só acenou para mim, enquanto a via entrar.

- Quando você pensava em me contar tudo isso, Dulce? - ela tinha a voz calma e encarava todos os aparelhos ainda em um misto de nervoso e ansiedade

- Não sei - abaixei o olhar

- Você pretendia passar por tudo isso sozinha, sem nem avisar a sua mãe? - se sentou nos pés da cama

- Não estava completamente sozinha - dei de ombros

- Como está se sentindo? O que você sente? - me encarava preocupada, dessa vez deixou transparecer

- Mal, devastada, presa, sufocada - respirei fundo sentindo o peso dessas palavras

- Minha filha, você tinha que ter me chamado desde o início - passou a mão por meu braço, depositando carinhos

- Estou muito mal, mãe - suspirei chorosa e ficamos em silêncio - com vergonha também - ela me encarou - não queria te contar que esse bebê estava acontecendo, ninguém sabe, não sei o que farei com essa informação - deixei umas lágrimas escaparem

- Dulce, agora não importa a notícia e sim sua saúde - ela me cortou, mostrando que não queria discutir isso comigo naquela situação

- Me perdoa? - seguia chorando

- Não tenho pelo que te perdoar, você é adulta e decide seu destino - agora segurava minhas mãos - a enfermeira vem hoje?

- Não, Poncho troca o soro quando acaba e ela vem amanhã junto da médica para me dar alta, se Deus quiser - a observava encarar cada detalhe daquele quarto

- A quanto tempo ele está separado? - ela encarava um porta retrato que tinha ao lado da cama, com uma foto dele e Dani

- 8 meses - suspirei derrotada e ela ficou em silêncio - A gente não está junto, foram só algumas vezes - tentava me explicar vendo que ela parecia pensar muitas coisas

- Vocês nunca estão juntos, mas sempre estão - suspirou pesado - isso até demorou para acontecer - engoli seco vendo ela se referir a minha gravidez como "isso"

- Eu e Paco ainda podemos voltar - tentava melhorar aquela situação e ela gargalhou amarga

- Ahh ta bom, Dulce! O que você quer fazer da sua vida? - me encarou enquanto rodava pelo quarto e eu só me calei

- Tia Dul, posso entrar? - Dani apareceu na porta e assenti para ele, que entrou para pegar um brinquedo

- Oi - ele dei um tchauzinho para minha mãe, que respondeu com um sorriso

- Bonitinho ele, né? - voltou a sentar na cama

- Sim, um amor! - o silêncio se fez de novo

- Como posso te ajudar? - me encarou

- Pode me dar um abraço? - abri os braços com esforço e ela foi até mim, ao sentir seu colo cai em um choro silencioso e doloroso, sentia ela acariciar meus cabelos e ir deixando a armadura cair, querendo apenas ser meu porto seguro

- Vai ficar tudo bem, ok! - falou enquanto seguíamos abraçadas

/ continua /

/ era pra ser / DyPOnde histórias criam vida. Descubra agora