/sábado, 6 de junho de 2020/

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Já tinha uma semana que eu estava em casa, sozinha, sem família, sem amigos e sem Poncho, os efeitos que ele me causa ainda estavam vivos e bem acordados, sonhava com ele, com nossos dias, com nossas histórias, nossa vida até hoje.

Fui até a cozinha para preparar algo de comer, cozinhei um macarrão, fiz um molho e quando ia sentar para comer senti minha pressão baixar, me deixando com as mãos totalmente dormentes e logo depois um vômito a jato saindo de mim, implorei para que minha gastrite me perdoasse por todas as emoções sentidas nessas últimas semanas, eu sabia que seria difícil para meu corpo até que todos os efeitos passassem.

Mas, talvez eles demorassem a passar, porque eu continuava falando com Poncho todos os dias como se realmente tivéssemos uma relação, isso me deixava cada vez mais nervosa e ansiosa, fazendo com que meu estômago se revirasse sem se importar o momento do dia.

Conforme a semana foi passando, as coisas em casa foram acabando e como estava há muito tempo presa em casa, resolvi que iria rapidamente no mercado do bairro, que sempre foi bem vazio, por ser um bairro bem seleto e pouco movimentado. Enquanto terminava de escolher minhas coisas, Zori me avistou e veio falar comigo, foi uma felicidade incrível poder encontrar alguém no meio disso tudo, mesmo sem poder compartilhar um abraço, que me fazia tanta falta nesses dias. Conversamos um pouco, sobre como estava sendo esse momento, até que me veio outro ataque do estômago, me fazendo estremecer, a máscara me atrapalhava em respirar fundo para que pudesse acalmar meu corpo e então corri para pagar tudo, antes que viesse outro acesso.

- A quarentena está acabando com sua gastrite, né Dul? - ela passava pelo caixa ao lado do meu

- Sim, estou vomitando pelo menos umas vezes por dia e me sentindo fraca, com pressão baixa - suspirei, tentando me manter de pé

- Das outras vezes você também se sentia fraca? - estranhou e me encarou curiosa

- Não, mas eu não estou me alimentando bem, então deve estar somando tudo - já colocava minhas coisas na bolsa, quando me deu outro teto preto e bambiei quase caindo

- Ei Dulce, como vai voltar pra casa assim? - ela me encarou assustada - Vou te levar até em casa, ok? Deixa suas bolsas que eu levo.

Enquanto íamos até minha casa, Zoraida teve um súbito e parou.

- Existe chance da sua gastrite ser outra coisa? - a encarei confusa, só queria chegar em casa tomar um banho e deitar

- Como assim? - ela tentava expressar com o olhar o que estava pensando - Seja clara, Zori! Não quero perder tempo na rua - meu tom era estressado

- Dulce, existe a chance de você estar grávida? - me encarou ansiosa e eu vi o chão se abrir ao pensar naquela possibilidade - Não precisa nem responder, vamos na farmácia - mudou a direção indo no caminho para a farmácia - Na verdade, vai indo pra casa para evitar exposição e te encontro lá - ela falava e eu só obedecia, ainda incapaz de aterrizar.

Fui caminhando até minha casa atônita, sem nem perceber o caminho que eu fazia, mentalizava um único mantra em minha cabeça.

- não pode ser, não pode ser, não pode ser. Como você pôde deixar isso acontecer, meu deus! - andava desorientada que nem percebi o momento que já entrava em casa.

Fui direto para a lavandeira, tirando a roupa e me dirigindo pro banheiro do primeiro andar mesmo, deixava a água bater em meu corpo e arrepiar todos os meus poros, eu não podia acreditar que havia ignorado o fato de eu não estar tomando nenhum anticoncepcional por conta do casamento, todos os pensamentos vinham até minha cabeça feito foguete e a cada segundo eu acreditava mais na hipótese de Zori. Terminei o banho, coloquei o roupão e fui esperar ela chegar deitando no sofá.

Em poucos minutos ela chegou e então, entrei no banheiro com o corpo gelado, as mãos tremendo como se estivessem em uma ventania. Olhava para a caixa do teste e não tinha coragem de abrir.

- E ai, Maria? - Zori falava do outro lado da porta

- Ainda não fiz, Zori - suspirei chorosa - Tenho medo! - exclamei em um fio de voz

- Amiga, fica tranquila, você ainda é casada no papel, a situação não é de todo ruim - soltou uma risada compreensiva, mostrando que nem imaginava o que estava acontecendo ali

Abri o teste, enquanto minha visão me traia ficando cada vez mais turva, sentei no vaso e fiz o bendito xixi, fechei os olhos enquanto contava os segundos mentalmente, hesitei em abri-los novamente, não queria dar de cara com um positivo, mas de que adiantava o que eu queria, não é mesmo? Levantei ainda com as pernas trêmulas, me faltava ar para respirar, meu corpo inteiro doía. Abri a porta em um súbito e vi Zori sentada ao lado dela, ao encontrar seu olhar não aguentei e desabei em lágrimas.

- Ei, não fica assim - levantou e me abraçou, me acolhendo em seu colo - Deixa eu ver o resultado, me dá aqui - entreguei e ela então recuou - Ué Maria, deu positivo - ela começou a rir e me abraçar - Amiga, parabéns! - segurou meu rosto, mas eu não conseguia sentir nada, estava completamente alheia aquela comemoração dela - Está com medo de como ele vai reagir? - ela se referia a Paco

- Sim - e eu me referia a Poncho

- Vai ligar para ele? - me encarou vendo que eu não tinha reação - Ele está em Puebla?

- Não vou ligar e ele não está em Puebla - me encarou com a expressão confusa

- Mas, ele não tinha voltado pra lá? - ela ainda não entendia o que estava acontecendo ali

- Zori, olha pra esse teste - levou o teste a altura dos olhos - aí está dizendo 4 semanas - suspirei - 4 SEMANAS, ZORI - esbravejei desesperada e ela seguia me encarando, dessa vez preocupada

- Dulce, quem você encontrou há 1 mês atrás? - sua voz passou a ter preocupação no lugar de alegria e eu só abaixei o olhar negando com a cabeça - Por favor, me diz que você sabe quem é o pai desse bebê.

- É claro que eu sei e você também sabe! - levou alguns segundos para que o cérebro dela pudesse encontrar a suposição perfeita para essa situação

- Não pode ser, eu não acredito - se virou de costas pra mim e buscou uma cadeira para se sentar - agora quem precisa respirar sou eu - sentou e apoiou a cabeça entre as mãos - Como isso aconteceu? Há 1 mês atrás estávamos em quarentena total - ela falava em desabafo, sem precisar que eu respondesse

- Eu fiquei 1 mês na casa dele - assumi minha vulnerabilidade, afinal, não daria mais para negar o que havia acontecido

- Estamos falando da mesma pessoa, né? - ela voltou a se virar para mim - Estamos falando do Poncho, é isso mesmo? - falava desacreditada

- Sim - abaixei o olhar desapontada e o silêncio reinou ali por longos minutos.

/ continua /


Estou boazinha e vou soltar logo o outro 🌟

Mas, não deixem de comentar. Dulce conta ou não conta? 

Acham que vai ser uma situação fácil de resolver?

/ era pra ser / DyPOnde histórias criam vida. Descubra agora