/viernes, 12 de junho de 2020/

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Uma semana havia se passado e ele continuava me mandando mensagem para saber como eu estava e porque de eu estar evitando respondê-lo, eu só conseguia ignorar, eu não conseguia imaginar a hipótese de contar a "novidade" para ele. Eu passava o dia deitada na cama, vendo alguma coisa na TV, sem saber o que fazer com toda situação, tirando Zori ninguém mais imaginava o que estava acontecendo, até porque em quarentena ninguém se visitava mesmo, então era mais fácil esconder tudo isso.

Zori me ligava todos os dias para saber como eu estava me sentindo, se eu estava me cuidando, me alimentando bem, se eu tinha ido ao médico e se eu queria que ela se mudasse pra minha casa nesse momento de isolamento. Eu recusei o máximo que pude, mas chegou um momento eu que não suportava mais vomitar sozinha, já me sentia fraca, sem saber o que comer, pois nada parava no meu estômago.

- Maria, vamos ter que chamar um médico aqui, não dá mais - ela falava enquanto me ajudava a voltar pra cama - Já é a décima vez que você vomita hoje, está pálida e fraca - foi ela me colocar na cama e eu vomitar de novo e então ela ligou para sua médica, pedindo que fosse até a minha casa.

A consulta durou quase 1 hora, ela me examinou por completo, me fez várias perguntas e como a ideia é que eu não saia de casa, me sugeriu que chamasse o laboratório em casa para pelo menos fazer os exames de sangue. Por fim, me diagnosticou com hiperemese gravídica, condição que faz a gestante vomitar mais do que o normal, necessitando de acompanhamento médico e algumas vezes de medicação. Enquanto ela me dava todas as recomendações e indicações de tratamento, Zori me encarava assustada, por saber que eu não poderia ficar sozinha em casa estando nessa condição de saúde, por fim a médica cansou de dar más notícias e agendou a próxima consulta para 15 dias.

Zori a levou até a porta e já voltou dizendo que eu teria que contar para o Poncho, pois era papel dele me acompanhar nesse momento e ela sabia que ele não se negaria a fazer isso. Foi até a mesinha de cabeceira e me entregou o celular.

- Liga para ele, Maria - ficou me encarando - Se você não ligar, eu ligo - bufou preocupada - Mas, como você já tem 35 anos e ele 37, eu sei que vocês serão maduros dessa vez para lidar com essa situação - continuou me encarando até que me viu desbloquear o celular realizando a chamada.

Enquanto escutava o telefone chamar, meu corpo congelava e tremia, sentia medo, pavor, desespero de ter que falar isso para ele, eu seguia sem saber o que sentir em relação a toda essa situação.

- Dulce, está ai? - escutei sua voz do outro lado da linha e sai do transe

- Oi, Pon - suspirei e minha voz sumiu

- Está tudo bem? - ele falava preocupado

- Sim, está sim e você, como está? - tentava dissimular para ver se a coragem vinha

- Tudo bem também, estava pensando em passar ai, porque você não respondia minhas mensagens, fiquei preocupado - seu tom já era tranquilo, com certeza nem imaginava o que estava acontecendo

- Quer vir hoje? - soltei um pouco do ar que estava preso em mim

- Pode ser, levo algo pra jantar? - meu estômago embrulhou só de pensar em comida, respirei fundo olhando pro teto para tentar afastar o enjoo - Ta ai? - perguntou em virtude do meu silêncio

- Consegue vir agora? - falei apressada já me virando pro vaso de novo, o banheiro já era meu novo habitat, deixei o telefone de lado enquanto vomitava e vi que ele desligou a chamada, provavelmente viria até mim.

Zori entrou no quarto me procurando e me viu vomitando pela milésima vez, lavou meu rosto, me deu um pouco de água gelada e se sentou ao meu lado no banheiro, recostando minha cabeça em suas pernas. Em 30 minutos escutamos a campainha tocar.

- É ele! - levantei de seu colo e ela me encarou apreensiva

- Eu vou lá abrir e vou em casa, ok? - assenti - para que vocês possam conversar tranquilos - me deu um beijo na testa e deixou a garrafa de água ao meu alcance, em 2 minutos ele já entrava no quarto, procurando por mim

- Estou no banheiro - gritei fraca

- Porque está aqui? Ressaca? - abriu um sorriso bobo e eu retribui com um choro descontrolado, que não consegui segurar quando vi seu rosto - Ei, o que houve? Desculpa! - se abaixou a minha altura e segurou meu rosto - É algo sobre seu casamento? - cerrei os olhos com toda força do mundo, sentindo eles queimarem ao escutar ele me perguntar aquilo, cada vez menos conseguia pensar em uma maneira de contar a ele o que estava acontecendo.

- Pon.. - tentava controlar os soluços do meu recente choro descontrolado - eu.. - funguei e solucei novamente e ele só me encarava, dessa vez um pouco preocupado

- Tudo bem se não quiser falar, eu estou aqui com você - sentou ao meu lado e me abraçou de lado

- Eu estou grávida - falei em um súbito e aproveitando que nossos olhares não estavam se encontrando. Senti ele puxar o ar e se mexer para voltar a estar de frente para mim, então fechei os olhos, não queria encará-lo - não precisa falar nada, eu entendo se você não quiser esse filho, está tudo bem - eu falava descontroladamente, mantendo os olhos fechados e ele então encostou o indicador em meus lábios me fazendo parar de falar.

- Como você pode achar que eu não vou querer esse filho? Está louca?! Olha pra mim, abre os olhos para encarar a felicidade dos meus em saber dessa notícia - abri os olhos lentamente e ele me encarava com os olhos brilhando, marejados e também com um leve ar de susto - Nós seremos pais excelentes, ardilla. Você duvida disso? - neguei com a cabeça

- O que vamos fazer? - o encarava com medo e apreensiva

- Vamos fazer aquilo que faz alguns anos planejamos - ele riu - vamos criar nosso filho, juntos!

- Eu vomito mais de 15 vezes por dia - falei exausta e ele arregalou os olhos

- Como assim? Você já foi no médico? - me encarava assustado

- Ela veio aqui hoje, por isso resolvi te contar, porque meu diagnóstico é hiperemese gravídica e não posso mais ficar sozinha, essa condição faz com que eu vomite mais de 15 vezes por dia, não conseguindo passar nem 2 horas sem vomitar, nada para no estômago, nem água - ele parecia perdido em tudo que eu falava, tentava assimilar toda a informação

- Há quanto tempo está assim? - pausou e pensou - Quando pensava em me contar que tudo isso estava acontecendo? - falou um pouco nervoso

- Tem 2 semanas que os sintomas pioraram, então hoje Zori chamou a médica que me examinou por quase 2 horas e então deu o diagnóstico - eu tinha a voz fraca

- Então, vamos arrumar suas coisas para irmos pro meu apartamento - o encarei e neguei com a cabeça

- Não quero sair da minha casa - falei séria

- Dulce, mas não é querer, você não pode ficar sozinha - falou sério também

- Porque você não pode ficar aqui? - o encarei irredutível

- Porque o Dani vai lá para casa essa semana, não posso trazer ele pra cá, não é um ambiente conhecido pra ele - ao me dar conta do tamanho do problema que eu tinha arrumado, foi inevitável não vomitar de nervoso dessa vez

- Impossível eu te deixar aqui, vou arrumar sua mala - segurava meus cabelos e eu já chorava por não aguentar mais toda a situação.

/ continua /

Será que ela vai ou vai ficar em casa? 

Não deixem de comentar aqui o que estão achando :)

/ era pra ser / DyPOnde histórias criam vida. Descubra agora