Prólogo

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Seus passos ecoam através do piso e paredes de mármore. Conforme avança em direção ao final do corredor, dúvidas corroem sua mente. As chamas que iluminam seu caminham movem-se conforme o deslocamento de ar gerado pela figura e as convida para dançar.

No fim de seu trajeto, o corredor mal iluminado agora dá lugar a um belo jardim decorado com as mais belas espécies de flores, colunas monumentais e fontes artificiais. O perfume floral e adocicado da paisagem invadem suas narinas, mas mesmo isso não é o suficiente para acalmar o seu coração. A figura parada, à beira de uma piscina, aguarda enquanto seus olhos se adaptam a brusca mudança de luminosidade, observando atentamente o sol brilhando forte acima de sua cabeça. O céu no Monte Olimpo sempre é do mais puro azul, sem nuvens e com uma leve brisa ventando constantemente. A única coisa capaz de mudar esse clima é a vontade de Zeus, Deus dos Deuses. Mas no momento, a calma e serenidade do clima contrasta com o seu interior. Zeus esta preste a tomar uma decisão a qual nunca imaginou que teria que tomar. E isso exige muita concentração.

Com passos firmes e decididos, Zeus adentra a piscina de águas sagradas enquanto joga seu manto sob a grama. Já no meio da piscina, com a água pela cintura, ele espera que as pequenas ondas se acalmem e sua imagem se torne nítida sob a superfície espelhada, lançando um olhar novamente aos céus.

Imagens do passado começam a se formar e a refletir diante os olhos de Zeus, que mais uma vez as observa com muita atenção. As imagens de guerras travadas por seus filhos e irmãos entre si, pela conquista da Terra, ferem seus sentimentos paternos. Atena, Poseidon, Hades e Apollo. Todos promovendo a violência entre seus seguidores e trazendo morte e destruição ao planeta que eles supostamente deveriam amar e proteger.

– Sim, já tomei a minha decisão final. Os deuses aproveitam-se de sua condição divina e tentam sobrepujar uns aos outros, esquecendo-se que são todos irmãos no sangue. Qual pai gostaria de ver seus filhos e irmãos digladiado-se em vão? Talvez eu tenha errado em ter lhes dado tanto poder. Mas agora chegou a hora de me redimir. Os deuses não estão prontos para viverem entre os humanos e nem entre si!

Com um giro abrupto, a divindade mira seu olhar a um canto mais remoto do jardim.

– Hermes. - Sua voz soa firme e onipotente.

Das sombras, de trás de um pilar, uma figura que testemunhara tudo o que ocorreu, responde ao chamado de seu pai. Agora se revelando um jovem homem esguio, de cabelos azuis escuros trajando também vestimentas divinas, se aproxima da beira da piscina e se ajoelha.

– Sim meu pai? Estou aqui para servi-lo.

– Chegou a hora. Você já sabe o que deve ser feito. Faça-o!

Hermes respondeu apenas com um sinal de cabeça.

*Hemisfério Norte do planeta - Sibéria*

No frio intenso do inverno siberiano, um garoto espera a beira de um buraco feito no gelo pelo retorno de seu amigo. Jacob esta andando de um lado para o outro, ansioso, afinal já faz muito tempo que Hyoga esta lá embaixo. Mesmo para um Cavaleiro, ficar tanto tempo nas águas geladas do norte pode ser mortal.

"Vamos Hyoga, você já esta ai embaixo há muito tempo!! Você prometeu que não demoraria..."

Algumas centenas de metros abaixo do gelo que cobre o grande mar do norte, Hyoga nada em direção ao fundo do mar, enquanto tenta, mais uma vez, alcançar o navio onde repousa o corpo de sua mãe.

"Mesmo com a baixa temperatura, o corpo de minha mãe deve estar começando a se deteriorar. Devo alcança-lá logo e, se eu pudesse construir para ela um ataúde de gelo, seu corpo duraria para sempre."

Nesse momento, uma estranha sensação interrompe os pensamentos de Hyoga. Um cosmo muito poderoso vindo de um ponto muito mais profundo do mar alcança o Cavaleiro de Cisne, fazendo-o perder sua concentração.

"Estranho. Tive a impressão de ter sentido um cosmo extremamente forte vindo das profundezas do mar. Mas isso é impossível, nem mesmo um Cavaleiro alcançaria essa profundidade com vida! A não ser que..."

Enquanto isso na superfície, Jacob corre desesperado de um lado para outro gritando por seu amigo.

- Hyogaaaaa!! Por favor, volte!! Já esta ai embaixo por tempo demais!!! - Com as mãos em formato de concha, os gritos do garoto se perdem em meio ao vento.

– Ai meu deus!! O que poderá ter acontecido!?!? É isso! Não tem jeito! Vou entrar!

Em uma pose heroica, Jacob se prepara para saltar, mas no último momento Hyoga retorna a superfície. O menino é obrigado a lutar para recuperar o equilíbrio e não tocar a água congelante.

– Se preparando para um mergulho Jacob?! - O sorriso estampado no rosto do jovem Cavaleiro apenas ajuda a evidenciar o tom descontraído de sua voz.

– Graças a Deus você está bem! Pensei que tivesse morrido! - responde o pequeno, sem esconder um certo alívio por não mais precisar se aventurar nas águas geladas. – Nunca mais apronte uma dessas comigo! - E Jacob acerta um soco na barriga de Hyoga que ri meio sem jeito.

Já agasalhado e a caminho de casa, um pouco atrás de Jacob, Hyoga para e olha novamente para o oceano tentando entender o que sentira. Uma estrela cadente rasga os céus boreais da Sibéria e Hyoga pressente que algo esta para acontecer.

Continua...

Sagas Titânicas - The Century WarsOnde histórias criam vida. Descubra agora