SEIS

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ARTHUR PETERSON

Começo a arrumar as caixas, tiro alguns livros e quadros com fotos de família, os coloco na estante, puxo um exemplar de Walt Whitman.

Algo caí, deixo o livro no lugar.

Era uma foto, a única  que eu tinha da minha mãe biológica.

Sabina, faz quase quinze anos que não a vejo, não sei como me sinto sobre isso. 

Não é como se eu tivesse tido ótimos momentos com meus pais biológicos, mas querendo ou não do que adianta a raiva?

Arrumo alguns livros, tentando achar uma ordem que pareça certa.

Olho vagamente a foto, ela estava usando o vestido amarelo, o mesmo vestido ao qual ela foi  embora, ela conquistou sua liberdade, e de alguma forma eu tive que sofrer as consequências. 

A lembrança vem como um raio.

— Me conte, tenho certeza que é uma boa história. 

Ele dizia com o bastão na mão.

Por que isso? Balanço a cabeça tentando afasta tal lembrança.

Meu pai não foi um bom exemplo, nem mesmo perto disso.

— Vamos garoto, não me der motivos para ferrar com essa sua cara de merda.

Eu não tinha coragem, como diria que ela foi embora? Como diria que minha mãe tinha ido e me deixado com ele.

Continuo a arrumar as coisas, um gesto de auto defesa para tentar fugir daquilo.

Minhas mãos tremiam.

Eu tinha seis anos, se ele me batesse de novo eu iria morrer.

Tudo parecia se misturar de maneira torturante, a minha infância parecia tão presente, como se eu fosse ainda aquele menino.

— Maldito.  O primeiro golpe foi certeiro no rosto.

No momento que ela saiu dizendo para eu ficar bem, eu sabia, ela estava livre e eu era apenas uma distração.

Ela precisava de tempo, sei lá, para sair da cidade, quem sabe do estado?

— Diz cadê ela? — Ele gritou me acertando com mais força.

Calma, vai ficar tudo bem, a policia já deve está chegando. 

Era a única coisa que eu queria acreditar. 

Os golpes ficavam cada vez mais fortes, por causa da dor eu não conseguia conter um choro dolorido, mas eu estava feliz, mamãe estava bem, eu não a veria mais sofrer.

Eu tentava me convencer, que aquilo não tinha sido cruel, ela não me abandonou por que quis, ela me amava, não era?

— Filho da puta desgraçado, me diz onde foi a vagabunda da sua mãe? Garoto, você quer morrer sendo um mentiroso? Ok, por mim tudo bem.  Ele começa a me acertar muitas vezes, tanto que não sinto mais nada.

Lembro de pensar, que minha visão estava falha, o cansaço estava insuportável, mas se eu acabasse dormindo, eu tinha medo de que não acordar.

O Que é o Amor?Onde histórias criam vida. Descubra agora