Capítulo um.

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Naquela noite, ela mais uma vez sonhou como as coisas eram no começo, quando mudaram de cabeça para baixo sem dar aviso prévio. Sonhou com a pequena Juniper chorando em plenos pulmões, de seu rosto avermelhado e de seus olhinhos inchados e banhados por lágrimas. Sonhou como era difícil estar fora do país com uma criança de poucos meses, e com o quanto ela desejava voltar para casa e se sentir "protegida" pelos braços de seus pais negligentes. Sentiu falta de como sua vida era fácil enquanto eles não sabiam de nada, e de como era bom ter um monte de melhores amigas tagarelas para rir e conversar durante a aula. Sonhou que tinha dezoito anos outra vez, e que estava quase se formando no ensino médio, e sentiu novamente como era estar ansiosa para um baile de formatura e um fim de semana em um sítio em algum lugar afastado com sua turma do terceiro ano. Quase pôde sentir o calor das temperaturas altas e quase nunca amenas do Rio de Janeiro, onde costumava morar, e quase sentiu-se como antes, quando a breve lembrança de ser chamada de adolescente mimada resvalou em sua memória.

Porém, o despertador de som irritante e estridente a acordou, e lhe mostrou que as coisas não eram mais daquele jeito. Ela tinha vinte e seis anos, uma filha de oito - quase nove - anos, e muitas outras responsabilidades, como colocá-la no ônibus da escola antes que ele partisse e chegar ao trabalho sem se atrasar de novo. A vida era corrida, mas valia a pena, e servia para lhe mostrar o quão forte ela era. Com um impulso os seus pés tocaram o chão frio e ela se arrepiou, soprando os lábios e fazendo aquele som engraçado. Cambaleou sonolenta para fora do quarto, em direção ao banheiro, enquanto o celular desistia de berrar (e que Deus abençoasse sua filha por ter descobrido aquela função de soneca no despertador) e lavou o rosto apenas para conseguir afastar o sono por tempo o suficiente. Depois disso, seguiu para o quarto de sua filha. Ao abrir a porta, suspirou. As paredes precisavam de uma pintura - e por mais que Juniper tentasse disfarçar as partes descascadas com seus papéis cheios de desenhos sobre o fundo do mar, ainda era visível todo o estrago que o tempo fizera nas paredes.

A garotinha dormia virada para a parede, e tinha uma perna atirada por cima do monte de cobertores embolados, a sua mania adquirida ainda quando bebê. A mãe sorriu, enquanto abria a cômoda para para pegar o uniforme da menina, e logo depois reuniu sua mochila e seus sapatos todos juntos para que ela não precisasse correr pelo quarto como costumava fazer pela manhã. Um estalo em sua cabeça, a fez lembrar que na noite anterior colocara o despertador para tocar quarenta minutos antes - e então pareceu fazer sentido que ainda estivesse tão frio por ali, mesmo que elas quase nunca usassem o ar-condicionado -, então não precisaria acordar Juniper tão logo.

Decidiu deixar sua filha dormir e voltou para o seu quarto, escolhendo tomar banho antes dela. Assim, daria tempo da água do chuveiro esquentar e a mais nova não precisaria esperar, e nem tomar banho gelado logo pela manhã. Camila - a mãe - ligou o chuveiro e começou a se despir juntando a roupa para colocar no cesto posteriormente, e com uma breve coragem entrou no chuveiro. Xingou baixo com a água muito gelada, mas enfiou-se até a cabeça debaixo do chuveiro, tremendo enquanto fechava seus olhos bem apertados. Após alguns momentos, pegou o sabonete, ensaboou-se o mais rápido que conseguia e fez o mesmo para se livrar da espuma. Até cogitou lavar o cabelo quando a água começou a ficar morna, finalmente, mas sabia que acabaria demorando demais por capricho, e atrasaria a sua filha, e ela mesma. A brasileira resmungou, girando o regristro até que a água agora quente, caísse fraca o suficiente para não gastar tanto enquanto ela se vestia e ia acordar sua filha. Caso desligasse, a água esfriaria outra vez. Tremendo, se enrolou na toalha e com o cabelo pingando nas costas correu na ponta dos pés para o quarto.

Depois de se secar e vestir seu uniforme - que ela novamente tinha esquecido de passar, mas por sorte não parecia tão amarrotado -, enrolou uma toalha seca no cabelo e foi acordar Juniper. A menina de nariz arrebitado era toda resmungos enquanto a mãe dava-lhe beijinhos estalados na bochecha e no ombro descoberto. Aos poucos a criança despertou e com um bico manhoso abriu os olhos, esticando as pernas pela cama, enquanto tremia levemente e bocejava. Camila riu, achando que a filha parecia um gatinho que se espreguiçava. Pediu que a mais nova fosse tomar banho, e avisou que a água estava quente, para que aquilo animasse um pouco mais a filha. Juniper ensaiou um sorriso que apesar dos esforçou parecia mais uma careta de dor, provocando mais risadas em sua mãe. Enquanto a pequena ia para o banheiro aos tropeços e pedidos de cuidado de sua mãe, Camila ia em passos apressados para a cozinha, preparar o café da manhã, dela e de Juniper. Caçou o pão de forma, o queijo, a alface, tomates e o presunto que tinha comprado na noite anterior. Aquele tipo de sanduíche era o favorito de Juniper, segundo a menina, tinha gosto de feriado. O pote de manteiga de amendoim continuava fechado no fundo da geladeira, ele era para os dias difíceis. Quando as coisas ficavam apertadas, o lanche favorito de Juniper se tornava torradas e manteiga de amendoim - mesmo que Camila soubesse que aquele não chegava nem perto de ser digno do gosto de sua filha, mas que a garotinha era compreensiva, isso ela era.

Gotta Be You. - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora