Capítulo 01

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Em alguns anos a vida muda drasticamente. Ou não. Você encontra sua felicidade. Ou não. Você pode estar construindo uma família. Ou não.

Sophia Davenport estava presa no "ou não" por toda sua vida. Chegando no "quase lá" e dando um passo para trás. Talvez querer construir tudo do zero sem a ajuda de ninguém seja o fator que complica seus passos. Passos tortos, mas passos.

E no auge dos seus vinte e nove anos ela decidiu mudar sua vida. Decidiu dar um passo mais aberto, mais distante. Ela decidiu que agora sairia do "quase" e iria para o finalmente.

─ Acho isso uma loucura sem tamanho ─ Elisa, sua irmã mais nova, disse na mesa do café da manhã.

─ Por que uma loucura?

Elisa levantou o olhar para a irmã. As duas se tornaram carne e unha nos últimos sete anos. Logo após a morte da irmã mais velha, Jully, as duas se viram na necessidade de união. E eram as melhores amigas do mundo!

Moravam juntas em um apartamento dado pelos pais e dividiam todos os segredos. Era uma pela outra, e sempre será assim.

─ O que é uma loucura?

A voz do Theo ecoou pela cozinha. Theodoro Davenport, o único filho homem da família, também dividia o apartamento com as irmãs. O garoto mal pôde esperar pela idade de sair de Portugal, das garras dos pais e, principalmente, da irmã caçula, Melina. Com seus dezenove anos é o adolescente mais rebelde que a família já viu.

─ Não era para você já estar na faculdade? ─ perguntou Sophia enquanto ele se sentava à bancada.

─ Relaxa, irmã. ─ Pegou uma torrada e se recostou na cadeira. ─ Mas, o que é uma loucura?

─ A Sophia se mudar para Aspen, no Colorado ─ respondeu Elisa sem olhar para o irmão.

─ Por quê? ─ Ele arqueou uma sobrancelha para a mais velha. ─ Qual a razão, Sofi? Você tem tudo aqui em Nova Iorque.

─ Mas, ao mesmo tempo não tenho nada.

Os dois irmãos a encararam ao mesmo tempo. Sérios, como se ela tivesse dito o oitavo pecado capital.

─ Eu amo vocês, acreditem. Mas, preciso construir minha vida. De verdade.

─ Ela nos ama? ─ Elisa perguntou drasticamente para o irmão. ─ Ama?

─ Não sei, maninha. Ela diz que vai nos abandonar.

─ Quem ama não abandona.

─ Então ela não ama ─ Theo deu de ombros e colocou a torrada na boca, de uma vez, fazendo Sophia revirar os olhos.

─ Podem parando com todo esse drama ─ chamou atenção deles. ─ Vocês sabem o quanto quero mudar. Mudar de vida. Apenas isso.

─ E por que Aspen? ─ Theo fez uma careta. ─ Sério. Aspen é um lugar para passar uma semana, com a galera, apenas para esquiar. E não para morar. Sophia, o lugar é muito frio. Você não gosta do frio.

─ Eu gosto do frio ─ ela murmurou.

Ela não gostava do frio. Antigamente. Sophia era do verão, Elisa do inverno e Jully do outono. Mas, depois da morte da mais velha, as coisas mudaram. Perder a Jully abalou drasticamente as irmãs, e suas personalidades e gostos não ficaram de fora da mudança.

─ Que seja, Aspen fica longe daqui ─ Theo continuou.

─ Em média oito horas de avião ─ Sophia disse.

─ E umas trinta de carro ─ ele rebateu e encarou os olhos azuis da irmã. ─ Como você virá nos visitar todos os fins de semana?

─ Para tudo se pode dar um jeito.

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