Você namoraria comigo?

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Eu nunca tinha dançado de uma maneira sensual, nunca tinha me visto na necessidade de seduzir alguém através de movimentos eróticos e gemidos tendenciosos. Mas agora é uma exceção, porque não estou vendo mau algum em fazer isso uma vezinha só para chamar atenção do meu bofe. E ele aparentemente está gostando muito, porque não para de rir e me chamar de louco, enquanto grava com o celular burguês dele.

O pessoal está gritando alguma coisa que eu não consigo entender, também nem me esforço nesta vã tentativa. As luzes piscam e eu sinto meu corpo mover-se em êxtase em cima desse balcão. Tem três funcionários putos da vida, pedindo para que eu desça logo antes que me tirem à força. Não estou nem aí para eles, esse é o meu momento de brilhar e ninguém pode tirar esse meu minuto de fama.

A música que está tocando já repetiu "baby girl" umas cinco vezes, no mínimo, e em todas estive olhando para Josh como se não quisesse nada — porém querendo. Eu adoraria que ele fosse meu sugar daddy, sério. Eu fui muito burro em pensar que essa parada de sugar daddy era ruim, porque poder agarrar Josh e ainda ganhar presentinhos em troca é exatamente o que eu quero agora.

— E o quê?!!! — eu grito para o meu público, insinuando tirar a camisa creme que estou vestindo. Ela é muito soft e nem combina com a noite. Ela está toda suja.

Arranco a camisa do corpo e jogo-a bem na cara de Josh, que prontamente agarra-a e ri feito um louco enquanto eu deslizo a mão pelo meu corpo, suplicando atenção. Ele vai me parar se eu for longe demais? Espero que não, pois eu estou adorando seduzi-lo na frente desse pessoal todo. E que barman chato do caralho que não me deixa dançar em paz, qual o problema dele? E daí que eu estou em cima do balcão, porra? Vou descer o soco nele. Mas, ah, de novo o "baby girl" e eu deslizo a mão na minha própria coxa, chamando atenção do canadense para ela. Ele morde os lábios de nervoso... Caralho, ele está amando! Eu vou rir disso até 2018... Calma aí, em que ano a gente tá?

— Não, não — nego os pedidos do barman para que eu desça, recuando dos seus braços tentando me agarrar.

— Va te faire foutre! Sors d'ici! — o barman barbudo grita comigo, então eu rio mais histericamente por ele ter dito meu palavrão favorito de todos os tempos.

— Olha só, Josh! Ele é muito carinhoso comigo! — chamo a atenção de Josh, gritando com ele.

O barman avança para tentar me agarrar, mas ele deveria saber que não se toca num corpo que já tem dono. Credo, ele parece um monstro vindo até mim. Por isso adianto os passos para a outra parte do balcão. Só quero me livrar desse estrume antes que ele me alcance.

Mas eu me fodo todo no meio do caminho, como praxe, e escorrego num líquido aleatoriamente derramado no meio do balcão. E pela pressa e agilidade com que me movimento, é de se esperar que eu tome uma queda bem gostosa de danada. Só não esperava que meu joelho fosse dar uma sarrada na pontinha do balcão um segundo antes de eu encontrar o chão pela segunda vez só nesta noite. Afinal, em que inferno está o meu anjo da guarda? Ô, porra, aparece! Estou precisando de você agora!

— Meu Jesus todo poderoso! — resmungo, contorcendo-me no chão a espera de alguma alma bondosa para me resgatar.

— Já é a segunda vez! A segunda vez! — alguém urra ao meu redor e há tantas luzes e tantas silhuetas que não sei nem mais onde estou.

Talvez eu esteja com frio ou estou tremendo de nervoso. Se mexo minha cabeça rapidamente, ela dói. Se tento me levantar, caio outra vez. Eu nem sei se ainda estou vivo ou numa ilusão. Às vezes eu só quero o colo da minha mãe para chorar um pouquinho em silêncio, porque tudo é complicado demais e barulhento demais. A vida é frustrante e eu quero beber rum pra esquecer que estou vivo.

— Champ, divide esse pirulito comigo? — peço manhoso, encostando minha cabeça na parede do banheiro. Estou sentado no sanitário, sem calça, com um saco de gelo no joelho esquerdo para ver se assim o meu hematoma sai. Não está funcionando muito bem.

— Não — ele responde sem olhar para mim. Ainda bem que minha calça está cuidadosamente cobrindo minha roupa íntima, senão eu com certeza iria maliciar esse momento nosso.

— Champ, me deixa fumar, por favor — peço, fazendo beicinho, mesmo que ele não esteja vendo.

— Não — sua resposta é objetiva.

— Champ, você namoraria comigo? — bingo para mim que finalmente o fiz tirar os olhos do celular e olhar na minha direção.

— Para de fazer pergunta idiota, é claro que não — ele ri, então volta a pôr a cara no celular e chupar o doce. Eu não estou brincando, mas espero que ele esteja.

— Champ, o que acha de nos casarmos?

— Eu não gosto de você — ele caminha até mim e se senta no meu colo. — Só gosto de gastar tempo com você.

— Então você gosta de mim — sorrio, tentando não surtar com o fato de ele estar sentado em cima de mim justo no momento em que estou sem calça, ainda que ele esteja sentando nela. — Porque gosta de passar o tempo comigo.

Josh ri e isso me atinge de um jeito indescritível. Ele é como a peça mais rara e preciosa de um museu, como o melhor chocolate da caixa ou um deus no meio de meros mortais. Eu acho que o sorriso dele cura depressão. Deve ser por isso que me sinto tão bem.

Ou será a bebida? Às vezes me dá vontade de vomitar... Mesmo assim, eu quero mais bebidas.

Josh tira o pirulito da boca, me puxa pela nuca e eu só sinto sua língua chamar a minha para um sexo selvagem no Louvre. Eu sou atrapalhado, apressado, eufórico. Ele é calmo e lento, minuciosamente cuidadoso. Nosso descompasso se atrapalha, nós rimos, ele nos grava, eu beijo sua nuca e faço-o suspirar. Estamos loucos em Paris e eu não paro de xingar. Num quarto de hora eu me visto, capengo pelo club agindo como se estivesse bem. Eu acho que meu joelho nunca mais vai funcionar normalmente. Talvez eu sempre dependa dos braços de Josh me segurando pela cintura para poder andar. Não é de longe ruim.

E eu nem sei em que porra de dose estou agora, só sei que Josh e eu não paramos de conversar e tirar fotos, gravar vídeos e gritar com a Siri como se ela tivesse culpa de ser uma máquina burra que não consegue entender as palavras emboladas de dois bêbados como nós. Mas eu estou só um pouquinho alterado, só um pouco. Tenho provas. Haha.

Queria estar fumando agora. Bebida e cigarro seria uma estúpida combinação, extremamente incrível e desafiadora. Mas Josh não me deixa fumar, apenas me empresta seu celular para eu me distrair. Então eu aproveito e tiro inúmeras fotos engraçadas dele, talvez possamos rir disso depois. Sua franja está uma bagunça e só há três botões fechados da sua camisa. Hihihi, eu estou adorando.

— Champ, o que acha de irmos para um motel? — pergunto, deslizando a mão pela sua coxa. Eu quero muito, muito transar com ele agora. Não importa quem será o passivo ou ativo, eu só quero estar numa cama com ele.

— Você sonha demais, Noah — ele fala embolado, servindo-se de uísque. — Vai ver se eu tô na esquina.

— Por favor...! — imploro, sacudindo-o pelos ombros — Você não quer?

— Se eu quisesse, a gente já estaria lá — e então bebe num só gole, daí vem sua centésima careta da noite. — Para de me tocar assim.

— Por que você não quer ir comigo? Aposto que iria com tantos outros! — esperneio.

— Porque somos amigos, Noah — sua pronúncia está mais arrastada que comumente. — Somos amigos.

— Ai, foda-se amizade, Josh. Eu não quer ser seu amigo, eu quero foder com você — puxo-o pelo quadril para se sentar no meu colo e ele não tenta fugir. — Por favor, só hoje...

— Para, é sério — Josh se levanta, quase cai, mas se segura na mesa com rapidez. — Eu não posso fazer isso com você.

— Por quê? Por quê? Por quê? Por quê?

— Nada, eu estou com sono... — Josh boceja, tira o cartão de crédito da carteira e resolve que este é o fim da nossa noitada.

Queria beber mais, fumar, estar num motel com ele, tê-lo para mim. Enquanto vejo sua expressão incrédula ao checar o valor total da nossa farra, vou pensando para qual finalidade devo rezar: Josh me amar de volta ou eu deixar de amá-lo. 

café et cigarettes  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora