Você é tão cult!

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Barbeado, estou vestindo roupas largas e confortáveis. Bege, como a cor do café com leite que bebi cedo pela manhã para enganar Beauchamp. Ele tem uma dificuldade extrema em compreender que não tomo café. Não, eu só como uma refeição por dia e olha lá! Mas ele simplesmente não aceita isso, vive reclamando. Passamos a manhã trocando farpas, ele me empurrando coisas que não queria comer. Eu sei que ele tenta, sei que se importa e isso me deixa lisonjeado. Mas é muito difícil fazê-lo mudar de ideia. E eu estou me preparando argumentavelmente (se essa palavra não existe, pois agora passa a existir) para o almoço. Preciso juntar as melhores desculpas para formar uma única.

Enquanto o almoço não chega, ocupo-me com arte, dividindo-me entre colheradas poéticas no livro que Josh me emprestou e afagos sutis na seda do seu short. Ambos jogados no sofá, estamos com as pernas sobre o outro e isso faz com que eu me pergunte quais são as minhas pernas e quais são as dele. Sei que a coxa onde jaz minha mão esquerda é a dele, mas abaixo do joelho está um ninho de passarinho, enrolada na minha, quase impossível de se achar. O ventinho sacode a sala, empurrando a cortina sem zelo algum. Está fresquinho e gostoso. Estou num bom humor.

- Noah - me chama. Tiro os olhos das palavras e encontro seu semblante pensativo. Lindo. Suas sobrancelhas juntinhas pela confusão interna. Eu amo ele. Amo ele.

- Diga.

- O que você entende de beleza?

- Beleza?

- Sim.

Você.

- Ahn... Não dá pra conhecer alguém pela beleza, então acho algo superficial - coço a nuca.

- Só isso? Desenvolva, por favor - faz um gesto para que eu dê continuidade.

Endireito a postura e paro o carinho na sua coxa.

- Ah, eu não sei. Acho que universalizamos o que um determinado grupo de indivíduos acha bonito. Eu não acredito que devemos levar tanto em conta essa questão, Josh, porque varia. Achamos bonito quem nos é mais confortável de observar, quem nos agrada mais visualmente. É um tanto ruim, sabe? Envolve diversas questões delicadas sobre os segregados. Como aceitação externa e interna - engulo em seco, pronto pra parar de falar besteira. Eu sei que Josh não me acha inteligente o suficiente e estou patético falando essas coisas. Eu nem tenho embasamento. Só estou falando porque pensei que pareceria alguém decente para ele, mas estou completamente arrependido.

Consigo ver seus olhos detrás das lentes redondas, eles estão focados em mim. Volto a deslizar a mão pela sua coxa para roubar-lhe a atenção, fazê-lo não dar trela ao que estou falando. Ele deve estar achando que sou idiota. Se ao menos pudesse me lembrar de algum filósofo que falou sobre isso, poderia muito bem usar seu discurso. Não quero ter discurso próprio. Eu sei que Josh vai me achar idiota.

- Continue - ele ajeita o quadril sobre minha coxa, o que faz minha mão deslizar para a parte interna da sua. Estou muito perto de onde não deveria estar e ele não parece se importar com isso.

- Tem certeza? - quero saber, cuidadosamente começando um carinho na parte interna da sua coxa. Ele concorda com a cabeça. - Sabe, acho que beleza é uma questão de prazer. A arte, por exemplo, é bela e nos enche de prazer. Quando algo é belo e nos agrada, é prazeroso. Tipo você. Você é belo. E, para mim, é prazeroso estar contigo e te ver. É assim que vejo a beleza: algo que nos dá um prazer interno e, assim como qualquer coisa prazerosa, queremos mais e a que melhor nos agrada. Mas, claro, também é um objeto de segregação.

Ele me encara, talvez esperando que eu continue ou conclua. Mas prefiro assim mesmo, deixar o meio no ar, para que ele conclua do jeito que quiser, como lhe convém. Mesmo assim, ele continua me olhando. Olho de volta. Seus lábios avermelhadinhos, pedindo o consolo dos meus. O cabelo de tamanho médio na cara, jogado sobre o óculos dourado. Ele praticamente em cima de mim, com esse short de seda tão para cima, que parece uma sunga, e essa camiseta toda torta.

café et cigarettes  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora