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saída à francesa

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saída à francesa.

teu vôo foi às sete da manhã. já são dez da noite. tu saiu à francesa amor. conquanto, diante do fato da tua vivência na europa, eu não me surpreendo com isso. foi de fininho, repentino, sem se despedir nem nada. foi assim comigo. mas volta, amor. volta, tá? que o café tá quentinho, vai esfriar. o lado esquerdo do sofá tá te esperando, tá ficando frio, vem aquecer. você me machucou de verdade. não porque tu foi, foi porque tu disse que nada lhe faria querer algo comigo. e eu senti. sim, senti isso e ainda sinto. mas deveria ter sido eu a partir. deveria ter ido na primeira espetada, na primeira dorzinha, no primeiro incômodo. e então você me incendiou. honestamente, nem sei porque amo-te. teus defeitos me enjoam tanto que sinto vontade de vomitar de dor toda vez que te vejo. mas agora não vou te ver mais. e então você ficou frio, distante e passou a me evitar. e eu sinto muito, sinto muito mesmo. nem você foi capaz de me aguentar. logo você. tenho que parar, benzinho. parar de te colocar no pódio, lhe coroar, me curvar, lhe enaltecer. mas se você aparecesse agora, dizendo que se arrependeu e coisas assim, com mala e tudo, cabelo bagunçado e máscara no rosto... sabe, se tu aparecesse assim, dizendo que quer meu café, que queria me ver, que está louco por isso... poxa vida, Josh. se tu aparecesse assim, eu juro que eu seria o homem mais feliz do mundo. mas dói. dói perceber que não fui nada. nem amor nem dor, fui só alguém que você passou o tempo enquanto esteve um pouco solitário nas suas obrigações. supri tuas necessidades supérfluas. lhe dei tudo que você precisou. mas você não quer mais. não te completo. te somo. e sem eu na tua vida, você não capota nem sofre. vai ficar bem. e enquanto choro, batendo a colher na xícara para que escute de longe e volte aqui, eu sei que você está muito bem sem mim aí. sem grude, sem nicotina, sem pessimismo. você prefere assim, tá anotado. você me deu beijos, lembranças, marcas físicas, um livro e uma vontade de desexistir (se é que isso existe). e cá estamos nós, em cantos diferentes, falando idiomas diferentes, lidando com pessoas diferentes. e eu queria ter sido suficiente para você. tu quase me chamou de amor. tive seu coração bem na pontinha dos meus dedos, mas não pude agarrar. você fugiu antes disso. você se foi. e gritou comigo, assim como gritei com você. você foi cruel comigo, assim como fui com você. queria que não tivéssemos brigado, queria não ter ficado com raiva. mas ainda estou bravo, ainda está doendo. então se você aparecesse aqui, eu não saberia muito bem o que fazer. o que iria sentir. então, por favor, não apareça. eu não quero ter de padecer mais do que me aconteceu. quero apenas deitar, dormir, e esperar que tudo esteja bem quando eu acordar. e você bem longe de mim. eu ainda te quero, mas desisti. ainda choro, mesmo que eu saiba que é errado. onde se viu isso? chorar por conta de outro alguém, por não ter sido suficiente para outro alguém, por não ter conseguido fazer esse alguém ficar contigo. e eu sei bem por quanto tempo irei me culpar. sei bem por quanto tempo irá doer. e está doendo. doendo muito. insuportável. aquele nível de dor e ardência que corrói tudo, procura-se algo para apertar bem forte antes que rasgue os próprios dedos. como se tu tivesse me arrancado a pele, lasquinha por lasquinha. tá ardendo, tá doendo, tá sensível. mas vai parar na mesma intensidade. é no que eu quero acreditar. por enquanto, deixe-me aqui com meu café amargo e meu maço de cigarros. eles nunca me abandonaram.

café et cigarettes  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora