Você já se sentiu sozinho ao extremo?

2K 383 316
                                    

Saio do veículo sentindo o mundo girar. Acho que bebi um pouco demais, ainda que tenha tapeado meu estômago com algumas porcarias. Josh ainda está bem, desfilando com seu traje brilhante e incrível. Nos despedimos rapidamente, porque já está vindo uma tonelada de câmeras e eu não quero sair em nenhuma delas.

Felizmente entro rapidamente, seguindo-o um pouco afastado. Devo ter aparecido no fundo de inúmeras fotografias, porém já não ligo muito para isso. Ele está conversando com outras pessoas, mesmo assim continuo seguindo-o. Bem, ele não está me apresentando a ninguém e eu evito me sentir triste por isso. Não tenho tanta importância assim para ele me apresentar aos seus amigos internacionais, né? Vou pensar assim por enquanto.

— Vou te deixar um pouco sozinho. Não se preocupe comigo — aviso perto do seu ouvido, por conta do volume da música.

Um dos amigos dele nota nossa conversa, então pergunta-o algo. Josh sorri e olha para mim, quando percebo todos estão fazendo o mesmo.

— Meu amigo estadunidense, Noah Urrea — escuto-o falar aos caras, que logo se apresentam um por um e vêm me cumprimentar com apertos de mãos.

A conversa segue, mas não faço parte dela. Estou me sentindo deslocado. De repente vem mais pessoas de diferentes idades e estilos e todas estão conversando entre si e nem uma olha para mim. Eu não sou do ramo, não conheço ninguém, não sei o idioma. Estou mais perdido que Nemo, a diferença é que não tem ninguém me procurando.

Quando Beauchamp torna-se parte do alvoroço de apertos de mãos, cumprimentos, risadas e afins, eu vou-me embora antes mesmo de ser mais excluído. É o momento dele, não vou atrapalhar. Estou meio zonzo com tamanha multidão e euforia. De repente me lembro que nunca pesquisei sobre ele na internet, deve ser por isso que malmente conheço sobre sua carreira França-Estado Unidos ou seja-lá-mais-que-lugar. Queria poder ter tido esse zelo, porém conseguimos ser amigos mesmo sem essa questão.

Estão servindo bebidas, eu não hesito em aceitar. Bebo uma, duas, três e já chega. Como um croissant para não passar mal e saio um pouco para fumar. Meu vício me consome, me alimenta, torna-se parte de mim. Quero que isso me guie pela noite.

— Ei, amigo, você poderia me arranjar um também? — um cara aparece ao meu lado. Eu tomo um susto instantâneo por escutar inglês sem ser da boca de Beauchamp e me viro para ele. Ele é alto.

— Hã... Pode ser — tiro um cigarro da caixa e entrego-o. O moço o põe na boca e eu pego o isqueiro, vindo com todo o cuidado fazer uma concha ao redor da chama para não apagar ao acender o cigarro.

— Valeu — ele agradece e se acomoda ao meu lado.

Estamos liberando fumaça em silêncio. Ambos sabemos por que estamos aqui, é claro, então não há muito o que conversarmos. Assim que seu cigarro chega ao fim, ele joga-o ao chão, agradece mais uma vez, me deseja uma boa noite e entra com um jeito impecavelmente imponente. Ele é estadunidense e isso é uma surpresa para mim. Bem, é melhor eu voltar e beber mais alguma coisa.

O evento já começou, mas não me parece muito interessante. Eu não estou entendendo nada e gostaria do meu celular aqui neste momento. Talvez se eu encontrar o Josh por aí eu consiga convencê-lo a me emprestar o seu por algum tempo. Mas não dá, Josh agora está falando e eu não paro de pensar em quão lindo, maravilhoso e talentoso ele é.

Ele está com esse jeito meio tímido agora e ri de alguns comentários alheios. Ele gagueja, aperta o microfone bem forte e cita os Estados Unidos incontáveis vezes. Mas em nenhuma delas ele olha para mim, talvez sequer se lembre que me trouxe debaixo do braço. Agora ele está falando algo sobre livros, porque essa é a palavra que mais está repetindo. Ele coça o nariz, pisca os olhos, expressa uma agonia facial com o som irritante do microfone e agradece ao moço que o concerta para ele. Beauchamp se curva, ainda que aqui não tenha esse costume.

café et cigarettes  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora