Diante do que passava, apelei a um cunhado com vínculos numa empresa bastante grande, visando montar uma distribuidora, posto que, em comentários passados, ouvira apenas elogios. Seria um area desconhecida para mim, mas, como dizem, pouco importa o ramo e sim o rumo que se dê a ele.A pessoa que gerenciava e fazia as indicações, apesar de ser amigo do cunhado, notei que era muito mais amigo do patrão.
Via contatos telefônicos foram-me oferecidos verdadeiros "abacaxis" (o que pude no futuro constatar já sendo um distribuidor, como veio a ocorrer), que estavam disponíveis por assim o serem.
A primeira, nos cafundós do Rio Grande do Sul, outra no Paraná, em cidade turística que fazia divisa com o Paraguai. Amigos me desaconselharam, pois é típico, em locais com essas características, um sujeito aprontar nas bandas de cá e se refugiar nas bandas de além fronteira.
Teimosamente rodei dois mil quilômetros e, "in loco", nas visitas a imóveis para locação, acreditem, os mesmos eram entregues desprovidos de armários, vasos sanitários, bancadas de cozinha e, muitas vezes, até instalação elétrica. Na calada da noite, era comum o inquilino pegar sua tralha, como também a que não lhe pertencia, colocar num baú e procurar abrigo no país vizinho.
Posteriormente recebi a oferta de uma cidade no norte do estado de Minas, cuja localização geopolítica não gerava perspectivas positivas para o tipo de atividade.
Cansado e desesperançoso diante do transcorrer de um blá-blá infrutífero, liguei para o tal gerente Rizzo.
Com sutileza para que nada azedasse, agradeci o esforço que ele fazia em atender a um pedido feito e que visava meus interesses. Destaquei, de forma bastante sútil, que meu objetivo era uma cidade dentro dos limites do meu estado.
Reforcei, em tom de brincadeira, "imagine um paulistano tocando um negócio no meio de gaúchos ou mineiros". Na realidade, o paulista não é bem visto, talvez por ser o estado mais rico da união e isso contamina o cidadão que chega sendo erradamente visto como um invasor endinheirado.
Dizia isto com convicção, uma vez que, em experiência anterior, isso ficara bastante nítido no contato com o pessoal mais elitizado, ao trabalhar numa construtora mineira. Incrível, por ser uma empreiteira o dia a dia com mais de dois ou três mil "peões" isso nunca ocorrera.
No fim da conversa, considerei que, apesar de ter sido jeitoso no falar, tudo tivesse ido por água abaixo. Pena que não foi, diria anos depois.
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MORRI AOS 54 ANOS
Non-FictionUma trajetória de vida se modifica sob o impacto do diagnóstico positivo de câncer e suas consequências. Tudo leva o autor, vivendo dentro dessa realidade, a realizar uma viagem em direção ao seu passado, narrando e reavaliando sua história.