Silêncio

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Eu tenho vergonha de esconder a minha parte que grita, tenho vergonha de deixar ela guardada no bolso, juntando fios e botões perdidos.
Já vi tanto, já li tanto, já vivi tanto, que as vezes sinto medo, tanto medo de gritar
Tenho vergonha de não ter mostrado o dedo do meio para os homens mais velhos de carros buzinando
Tenho vergonha de ter ficado desconfortavel e ter mudado de lugar ao invés de pedi para o cara parar de olhar as minhas pernas
Tenho vergonha de dizer alto e ao bom som, que os caras que falam que conhecem muito, que querem mostrar as suas cores como grandes pavões, que querem apagar a luz de outra garota, que estão perdendo o seu tempo tentando diminuir uma mulher por ser mulher.
Às vezes não consigo acreditar em mim mesma, porque eu sei que devo falar tudo isso como um grito de guerra, não só por mim, mas pelas milhares de mulheres que estavam indo para o trabalho, pelas garotas mais novas que estavam indo pra escola, pelas que gritaram, mas que não foram ouvidas, pelas que foram estrupadas, mortas e sequestradas, ou só pelas que tiveram que se cobrir por um regra idiota, mas que não foram lá ensinar aos homens que não é convite pra tocar ou olhar.
Às vezes quero que gostem de mim, mais do que quero mudar o mundo.
Mas o silêncio também é um ato de violência.

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