Alice

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    Hoje eles me fizeram um monte de perguntas, quem sou eu? Quantos anos tenho? O que faço da vida? De onde sou? O que faço aqui? Onde vivo?

Enfim todas as perguntas que se fariam para alguém, que nunca se viu. Porem creio que eles ainda não entenderam que tudo o que eu disser será levado contra mim. Por isso fiquei só olhando o interrogador com cara de quem não escutou nada. Não tenciono contar para você também, não consigo confiar em nada em ninguém que posso ser lido ou se comunicar. Talvez um dia quando estiver delirando em loucura te conte.

   Nunca tive medo da justiça dos homens, apesar de muitas vezes ela ser desumana. Nunca acreditei nesses deuses, afinal todo dia surge mais um. Mas eu sei que os humanos precisam de algo em que acreditar independente de sua forma ou se existe ou não. Até hoje só consegui acreditar no meu próprio cérebro, apesar de não conseguir tocá-lo tenho plena consciência de que ele existi, é a minha única fé e o meu único medo.

   Até o momento nunca tive que pensar que poderia enlouquecer só com a fantástica habilidade de pensar que existe no homem, deveria ter pensado. Após a minha decisão de não falar decidi que escrever seria a única forma de não me prender comigo mesma. Hoje entendo que é por isso que as pessoas não gostam de ficar em silencio, o cérebro quando não está em pleno acordo com o corpo e o espaço pode se tornar uma arma de destruição voraz.

   Afinal o que as pessoas esperam que eu diga que sou culpada de algo? Que eu violei algumas regras? Simplesmente não faço ideia. Quando me trouxeram aqui eu não havia pronunciado uma palavra, e não vou falar enquanto permanecer aqui, é um espaço confinante sabia? Uma parede cinza clara, uma cama de hospital e grades na janela, acho que eles têm medo de que eu pule. Talvez essa não seja uma má ideia.

 Descobri que, se não falar eles não podem me avaliar, portanto essa é a melhor forma, mas não sei o que eles vão fazer daqui a pouco, vão descobri quem eu sou, óbvio, mas eu não quero ir para casa, nem pretendo ficar aqui, só que eu também não sei para onde quero ir. Enfim eu não sei se tenho mais casa.

Diário de uma doente mentalOnde histórias criam vida. Descubra agora