Estou presa

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Ola, Bob, isso aqui se mantém estupidamente igual a todos os outros dias. Essa loucura toda esta me contaminando, eu costumo viajar com palavras soltas ou o barulho do vento, o calor do sol. Coisas que as pessoas que vivem nesse mundo tão atordoado e cada vez mais rápido não perdem seu valioso tempo para aproveitar. Perco-me em pensamentos e memorias e quando me dou conta se passaram horas, e presa como estou me vejo divagando sobre o futuro e presa nas lembranças do passado. A cada dia me torno uma refém da mente e os homens a experiência da conversa e da partilha torna se cada vez mais supérfluo, já não sei se lembro mais como conversar com o outro, estou a quanto tempo aqui?  As minhas cordas vocais devem estar travadas de tanto tempo que não a uso, não lembro mais se passou um dia, uma semana, um mês ou um ano, o que estou me tornando?

Eles me fazem analise sobre analise, querem que eu fale, mas sempre, sempre finjo que não escuto, mas depois de tanto tempo eu nem me lembro do que faço, do que eles me perguntam é apenas mais um amontoado de dias, dias sucessivos e asfixiantes. Perco-me olhando para pequenos fragmentos, a grama o cimento, pequenos buracos, insetos, cores, tudo me parece mais interessante e quando percebo volto a realidade bruscamente com um grito, que no meu pequeno mundo, tão confinante é como um furacão desestabilizando tudo, e depois me perco novamente organizando todos os espaços e tentando desesperadamente fechar algumas memorias.

Me deixam paranoica com tantos gritos e portas batendo, quando me apercebo das pessoas, E finalmente consigo olha-las, vejo raiva, medo, desgosto, estresse, e muito muito ódio, e nesse momento recebo um baque tão grande, porque independente do que faça é sempre esse olhar que vejo quando olho para as pessoas, e neles eu vejo que realmente não deveria estar aqui, é tão angustiante, vejo meu coração sendo dilacerado diariamente por memorias, e pesadelos e quando finalmente consigo me envolver com o mundo de fora, mesmo que seja apenas pelo olhar, aquele pedacinho de esperança que eu mantive com tanto cuidado, se vai e só resta o vazio, e uma vontade imensa de ser uma parede, ou uma mosca para ser esmagada.

Não aguento mais essa loucura, essa prisão, tudo isso me dá calafrios, vejo vidas perdidas, vejo injustiça, vejo ódio, e tudo isso me corrói, me corrói de tal forma que creio que estou vivendo em um poço de ácido, e esse ácido queima tanto quanto as palavras que foram feitas para magoar.

Diário de uma doente mentalOnde histórias criam vida. Descubra agora