Lembranças 3

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 Confesso que eu cresci sendo totalmente egoísta, nunca precisei dividir nada, com ninguém absolutamente nada. E quantas vezes depois eu não escutei que “eu não criei filho egoísta” e sinto lhe informar caríssima mãe mas você criou sim.

   A minha única companhia era os livros, era a única coisa que me era permitido ter, a e é claro a maioria dos brinquedos que eu queria estava a minha disposição, mas eles não te dão nem um sentido de ser importante, nada é simplesmente vazio, uma carinha de plástico, um pedaço de papel tudo eterno e tudo vazio.

   Hoje eu sou extremamente fria, mas os meus maiores companheiros que me ajudaram a crescer foram assim, nada de muita emoção nada de muito carinho, nada de amor, nada de nada. Tenho que dizer que eu não aprendi a abraçar, não aprendi a dizer eu te amo, não aprendi a ser afetiva com as pessoas, realmente eu não sei o que elas vêem quando me olham, mas eu sei o que tem por dentro uma alma atormentada que busca incessantemente alguém que possa simplesmente a aceitar.

  Nos livros eu aprendi que o amor é generoso, compassivo, e nunca espera mudar o ser amado, porque se entende os problemas e o coração muitas vezes atormentado. Na vida eu aprendi que o amor é egoísta, quer tudo para si e não existe a divisão, que quando uma coisa é minha é só minha, mas se é do outro pode ser dividida, que as responsabilidades, caem em cima de uma só pessoa mesmo que ela nem tenha a ver com a historia, e que as pessoas só querem ganhar coisas para si mesmas, é algo extremamente triste, algo que não deveria acontecer.

  Lembro-me também que sempre que eu me sentia oprimida, e tinha uma vontade alucinada de chorar eu nunca corria para os braços de um ser humano era sempre um ursinho ou o chuveiro, e sinceramente eu amava muito mais o ursinho do que os meus próprios pais, porque ele estava ali sempre comigo e nunca me criticando, me aceitando e ao contrario de muitas pessoas, ele nunca me deixava sozinha e mesmo sendo de pelúcia, eu sentia que era algo ou alguém a quem amar. As pessoas dizem uma frase muito comum “costumamos amar as coisas e usar as pessoas”, mas se você não tem a oportunidade de amar alguém, as coisas se complicam eu sempre encontrei uma barreira em cada pessoa que entrou em meu caminho. Algo invisível, mas sempre delimitava como você deveria ser para entrar em seu grupinho, algo que nunca me enquadrei, nunca consegui seguir padrões nunca os quis.

   Entretanto tinha um espaço que eu adorava, eu podia ser pelo menos um pouco eu, as pessoas la não se enquadram em grupinhos, não tem estilo pré definido, e você pode gostar delas, sem esperar nada em troca. Esse tempo se foi e agora finalmente compreendo que todos somos humanos costumamos sempre esperar mais e quando você cai do cavalo a única solução é levantar e começar de novo, porque a vida infelizmente é feita de mais baixos do que altos. E ela não te espera levantar, se não tiver força de vontade, vai ficar parado e quando finalmente acordar, será só você e mais uma multidão que, sem você, conseguiu seguir com suas vidas.

Diário de uma doente mentalOnde histórias criam vida. Descubra agora