Alguns dias se passaram desde a reunião que deixou a revista inteira de cabelo em pé. Miranda estava realmente infeliz aquele dia e descontou tudo em cima do fotógrafo da revista que no fim, ficou sem emprego. Nesse dia eu entendi porque a chamavam de Dama de Ferro ou Coração de Gelo, mas não estava totalmente convencida de nenhum dos dois apelidos carinhosos.
O fim de semana havia chego mais uma vez, e eu recusei todos os convites para festas ou barzinhos, eu só queria a minha cama, trabalhar na Runway estava me deixando moída. Lily e Doug, meus colegas de faculdade haviam se mudado para Nova Iorque após conseguirem um emprego. Lily cursava arte e conseguiu um emprego em uma galeria e Doug era contador. A intenção do fim de semana era comemorar o fato de finalmente estarmos próximos de novo, mas eu só conseguia pensar que a minha cama estava me chamando e o meu travesseiro era muito macio para eu deixa-lo sozinho, já se passava das duas da tarde e eu não conseguia me soltar dele.
— Por favor Andy, eu juro que é a última vez que eu te peço. – Lily reclamava do outro lado do telefone.
— Você disse isso das últimas três vezes que me ligou e eu neguei, Lily! – Rebati rindo.
— Eu estou com saudades e você agora vive para essa revista em que trabalha. – Haviam dois dias que Lily tentava me tirar de casa depois do serviço ou me convencer a sair com ela e Doug no fim de semana. – É um ótimo momento para você nos apresentar a Emilly! – Argumentou mais uma vez. Douglas e Lilian nunca tiveram oportunidade de conhecer Emilly, mas ainda existiria momento para isso.
— Emilly deve estar tão cansada como eu Lily, ou até mais. Ela estava ficando louca essa semana com a edição da revista que sai na segunda-feira.
— Andréa, para de ser chata. Nós não nos vemos desde a formatura! – Revirei na cama irritada, eu entendo sua saudade, entendo que não nos vemos há meses. Mas ela também deveria entender que eu estava muito cansada.
— Vamos fazer assim, eu prometo um almoço amanhã, para você e Doug. Aqui em casa. Mas eu não vou sair hoje à noite com vocês. Eu estou cansada, só quero dormir. Pode ser?
— Tá bom Andy, já que você prefere assim, nós nos vemos amanhã. Chego aí com Douglas as onze.
— Tudo bem então, até amanhã.
— Até sua chata.
Desliguei o telefone e me cobri totalmente voltando a dormir como se nada tivesse interrompido o sono que eu estava tentando colocar em dia. Acordei com meu telefone tocando novamente, já estava ficando irritada com a insistência de meus amigos. Porém ao olhar a tela, o nome que brilhava não era o de Lily ou o de Doug, mas sim o de Miranda.
Sentei na cama e olhei as horas, já se passavam das oito, o que essa mulher poderia querer comigo, em um sábado, depois das oito da noite?
— Alô? – Disse completamente insegura.
— An-dré-a, Preciso que traga aqui em casa um Triple Caramel Chunk, as meninas estão me pedindo e não tem. Você tem meia hora.
— Onde fica a su... – E antes que eu pudesse completar a pergunta, o telefone já havia sido desligado.
Ótimo, agora preciso descobrir onde essa mulher mora, porque até hoje eu nunca pisei naquela casa. Além de sair para comprar sorvetes que eu ao menos vou comer. Maravilha.
Levantei na cama em um pulo e coloquei a primeira roupa que encontrei. Moletom, calça e vans, está ótimo, pois não estou em horário de trabalho. Entrei no site do Ben & Jerry's procurando onde eu conseguiria encontrar essa marca de sorvete a essa hora. Bingo, um Walmart perto da minha casa vendia, restava apenas saber se haveria o sabor que me foi solicitado.
Liguei para Rebecca em desespero, ao mesmo tempo que fechava a porta do meu apartamento e me colocava a descer as escadas.
— Rebecca, qual o endereço da Miranda? – Fui me atropelando nas palavras e não dei tempo para ela fazer qualquer questionamento.
— Vou te enviar por sms, mas o que aconteceu? Você parece tão agitada.
— Miranda quer sorvete... Na verdade, as gêmeas querem sorvete! – saí do meu prédio em disparada para o Walmart mais próximo e ouvi a risada abafada de Rebecca do outro lado da linha. Nossa relação havia melhorado significativamente após o sanduíche natural, o que tornava nosso trabalho mais leve.
— Bem, eu só tenho a te desejar boa sorte.
— É, eu sei. Preciso desligar. – Disse atravessando a rua correndo e quase sendo atropelada.
— Boa noite Andy. – Rebecca disse suave do outro lado da linha e desligou. Às vezes eu me recusava a acreditar que essa era a mesma mulher que havia me recebido no primeiro dia na Revista.
Nem um minuto depois meu celular vibrava notificando um sms, era o endereço de Miranda. Cruzei o mercado de forma apressada rezando para que tivesse o sabor que me foi solicitado e quase ajoelhei no chão e agradeci quando vi os últimos 3 potes. Peguei os sorvetes e saí correndo de volta para o caixa. Paguei e saí do mercado desesperada atrás de um taxi.
Para a minha sorte, havia um ponto em frente ao mercado, o que era bem estratégico para quando as pessoas terminassem suas compras.
Entrei no carro e passei o endereço para o motorista, pedindo para que ele corresse o mais rápido que pudesse. Miranda morava para o lado completamente oposto ao da minha casa. Quando cheguei, paguei a corrida e desci do carro checando imediatamente o relógio. Faltava um minuto para completar meia hora, e quando pensei em tocar a campainha, a porta da casa da minha chefe se abriu.
— Finalmente. – Disse impaciente estendendo as mãos em minha direção.
Estiquei os sorvetes e reparei duas cabeleiras ruivas ansiosas atrás de Miranda. Eu nunca havia visto as gêmeas antes, mas elas eram lindas. Quando voltei a encarar minha chefe, percebi o bico em sua face e me dei conta que as minhas roupas não deveriam estar a agradando em nada. Enquanto eu me vestia com a primeira coisa que encontrei, Miranda estava finíssima em um vestido preto que se moldava perfeitamente ao corpo. Ela não usava meia-calça como na revista e nem salto, mas mesmo assim estava deslumbrante.
Minha chefe coçou a garganta e arqueou uma sobrancelha, e então eu percebi que havia perdido tempo demais analisando-a. Corei de imediato e desviei o olhar.
— Vocês precisam de mais alguma coisa, Miranda? – Questionei afim de mudar completamente o foco do meu deslize.
— Isso é tudo. – Ela disse e fechou a porta na minha cara.
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Run(a)way
FanfictionE se a gente pudesse reescrever "O Diabo Veste Prada" de uma outra forma? E se a Andréa não largasse a Miranda em Paris? E se o Nate não existisse? E se a Emilly não fosse a Emilly? Bom... Andréa tinha apenas 23 anos quando resolveu se mudar para No...