À luz da manhã

Capítulo 2

Ainda estava absorto em meus pensamentos, em como consegui aquela suspensão e os planos para o futuro. Havia anos eu plantando em alguns alunos a ideia que o sistema e a neo-democracia eram ideias falidas, e agora eu consegui chegar a algum lugar. Esperava que, além de mim, Mariana e Joel, nosso amigo mais próximo, outros também se juntassem a nós. Agora era o momento certo para saber isso.

De súbito no momento seguinte chegou, batendo à nossa porta, nosso amigo Felipe, também professor na faculdade. Ele ainda não entendera aquilo tudo que estava acontecendo naquele lugar, o porquê do reitor me excluir da faculdade, causando assim todo aquele motim.

Olhando em seus olhos, eu falei com profunda dor no coração tudo o que eu sentia a respeito do que acontecera. Toda a insatisfação e incompreensão que eu tinha do acontecido.

Mostrando uma enorme indignação ele me respondeu.

- Amigo, eu também não entendi as justificativas dele, mas o pior você ainda não sabe. O reitor deixou bem claro que qualquer professor que ensinar baseado em suas falas teria uma suspensão com justa causa, justificando assim um desacato à sociedade e injuria aos alunos e colegas da faculdade. Gabriel meu amigo, tudo o que você ensinou estão considerando uma desordem social. Você conseguiu o que muitos não conseguiram até hoje: uma revolução no pensamento da juventude.

Eu sempre quis mudar a história daquela juventude. Em doze anos de profissão eu nunca tivera uma gama de alunos interessados em mudar seu sistema como aqueles daquele tempo, e após muito discutir, meus alunos e ex-alunos se maravilharam mais ainda com meus ensinamentos.

- Gabriel, eu não entendo. Seus pensamentos serem o motivo de sua demissão? Por quê? Você falou o que de errado? – Senti nas suas palavras uma curiosidade ardilosa. Felipe era um bom amigo, sempre ia à nossa casa, no entanto naquela manhã seus olhos me diziam outras coisas além dos motivos dele ter ido apenas motivar e compreender o que acontecera comigo. Ele parecia curioso demais. Eu sempre gostei de observar os olhos dos meus amigos quando conversavam comigo, seus olhos me diziam mais do que as suas palavras, e Felipe me dizia mais, só que eu ainda não descobrira o que era que ele me dizia.

- Eu não sei Felipe. Eu sempre mostrei e nunca fiz questão de esconder que não estou contente com as operações do sistema em que vivemos. Políticas corruptas, leis, economia estranhamente estável demais e tantas outras coisas como a mídia, vida social e religiões sempre me tiraram o sossego e eu sempre fiz de tudo para que todos saíssem desse comodismo social. Não sou sociólogo nem filósofo, sou matemático, mas estes meus atributos não me cegaram do meu compromisso com o social.

Felipe parecia encantado com meu pequeno discurso.

- Se alguém debatesse com você com certeza sairia de cabeça baixa e envergonhado, nunca vi um cara tão bem argumentado como você.

A noite ia adentrando e Felipe continuava ali, na nossa sala querendo mais argumentos meus. Não fiz questão alguma de dizer palavras contra o reitor Daniel, embora eu tivesse a certeza que ele estava errado em me excluir da faculdade por causa dos meus ensinamentos.

Deu meia-noite e Felipe ainda continuara lá, na nossa sala, para ele a conversa não estava nada cansativa e parecia que não teria nada a fazer no outro dia. Alguém bateu na porta, Felipe deu um salto de susto no sofá, como quem tivesse medo de ser pego fazendo algo errado. Observei cada movimento dele.

- Quem será à uma hora dessas? – Exclamou Mariana, assustada. Indo em direção à porta olhou e viu que era Joel, outro amigo nosso e professor da faculdade.

- O que houve, Joel, você nunca vem aqui essas horas. Algum problema?

- Está começando meu amigo, aquilo que nós mais esperávamos está começando.