À luz da manhã

Capítulo 3

Na manhã seguinte acordamos com nosso amigo Joel nos ligando.

- Acordem, acordem! Olhem, por favor, o que está passando na televisão agora no canal 4.

Levantamos aturdidos, pois o tom de voz do nosso amigo era de tamanho desespero, e corremos para a sala ligando imediatamente a televisão, que para nossa surpresa mostrava uma figura estranhíssima no canal 4, o canal que era mais popular em nosso Estado e exibia as maiores estrelas da televisão.

Max era o nome daquele cara, com jeito estranho de falar, gestos grotescos típicos de uma pessoa que nunca falara na televisão e olhar fixo na câmera. Nós estranhamos muito aquilo, nunca vimos aquele homem no canal e muito menos entendemos o porquê de Joel ter-nos acordado para vermos aquilo logo cedo.

- Sim, Joel, por que você nos acordou para ver esse homem estranho?

- Silêncio! Preste bastante atenção no que ele está falando. Acho que você vai se interessar.

"Vim aqui expor que algumas situações estão deturpando nossa sociedade e, principalmente, a juventude de nosso Estado. Um professor vem ganhando seguidores de todas as idades que têm questionado as formas de governo e o sistema em que vivemos. Temos o mais perfeito sistema do mundo, onde as pessoas podem adquirir o que querem da forma que querem, sem muitos esforços. É certo que temos que trabalhar para isso, pagar os deveres e tudo mais, porém que sociedade viveu e permaneceu até hoje fora desse sistema? Nenhuma! Então, caro professor, se você me vê agora, ai da televisão da sua casa, saiba que o sistema começa em sua vida quando você comprou essa televisão, quando adquire uma tecnologia e tudo o que você tem e adquiriu faz parte desse sistema que você tanto condena. Inclusive você!"

Mariana ficou abismada, e eu sem reação ao perceber que ele falava de mim. Eu estava sendo citado por uma personalidade estranha que nunca vimos na televisão, e o pior é que estava sendo criticado pejorativamente por esta pessoa. Joel, em poucos minutos, chegou a minha casa com o rosto mais branco que papel.

- Eu estava vindo para cá e percebi um carro me seguindo. Desde a madrugada vejo pessoas e comerciais defendendo o sistema de uma forma descomunal. Nunca vi acontecer coisas de uma forma tão rápida como esta. Estamos vivendo o Apocalipse!

Durante uns quinze segundos eu fiquei como estátua. Nunca eu pensara que minhas ideias e pensamentos, com simples palavras contra o sistema, poderia causar tanto impacto social. Esperava um despertar além das simples manifestações e quebra-quebra sem efeitos sociais, eu queria mais das pessoas. Uma consciência crítica quebra paradigmas e eu pretendi sempre despertar isto em meus alunos. Mas o sistema e seus subordinados não desejavam isto. Para quem governa o sistema enganador as pessoas mais fanáticas são as mais importantes. Elas têm valor porque não questionam o motivo de tantos preços altos, tanta corrupção e tanta injustiça social, e eu queria tirar aquilo daquelas pessoas.

- Gabriel, me responda. – Disse Mariana, que em seus olhos demonstrava um pequeno desespero acompanhado pelo medo do que poderia acontecer conosco.

- Calma pessoal. Precisamos pensar primeiro: Tudo começou há menos de 24 horas quando o reitor Daniel me excluiu do quadro de professores da faculdade. Mas penso que não foi exatamente assim que começou tudo isto. Eles têm planejado tudo há mais tempo. Creio eu que eles vêm me observado desde quando comecei a instigar nossos alunos.

Sentamos e começamos a discutir quando aquilo tudo supostamente começou. Sempre pensei que o ser humano é esperto demais para, de uma hora para outra, querer eliminar quem considera como seu inimigo. Com certeza o reitor da faculdade, juntamente com políticos corruptos e personalidades poderosas, conversou e planejou o meu desligamento da faculdade há muito tempo. Sem contar que eles, com certeza, já haviam lido meus trabalhos e conheciam as minhas ideias, o que os levou a planejar mais ardilosamente tudo o que queriam fazer.