Saga de Candalus: A Sombra da Luz

Prólogo: A Guerra dos Sóis Gêmeos

      Há muitos anos atrás, existia duas cidades élficas em Candalus, Tharandil e Shalduril. Sua arquitetura era de uma beleza sem igual, nenhuma cidade se comparava as construções colossais e casas feitas de luz sólida, um tipo de material criado pelos próprios Elfos da Luz, seres mágicos e majestosos, altos de orelhas pontudas, olhos muitas vezes totalmente amarelados e com cabelos que sempre variavam entre tons claros do branco, amarelo, ou vermelho com algumas raras exceções de cor preta. Tharandil era conhecida pela sua lendária frota naval, por sua economia desenvolvida e por ser o principal local de moradia dos elfos enquanto Shalduril era conhecida pela sua produção bélica e treinamento militar. As cidades eram conhecidas pelas outras raças como "Os Sóis de Candalus" e sempre foram governadas por dois Filhos da Luz, os reis élficos que tinham poderes e habilidades que os tornavam os seres mais poderosos e o aproximavam de sua divindade, a Luz, uma entidade poderosa que abençoa e presenteia os verdadeiros merecidos de seu poder. Farlis governava Tharandil, um elfo de aparência delicada, com cabelo vermelho claro, magro, e era conhecido por ser o Filho da Luz mais ambicioso e esperto que já existiu, enquanto Baralis, o Filho da Luz de Shalduril de cabelos negros, corpo definido, digno de um guerreiro, era conhecido por sua honra, suas habilidades em combate e sua lealdade, quando próximos um do outro, eles pareciam irmãos inseparáveis. Porém, existe entre os elfos uma profecia que conta que um dia, um elfo ascenderia entre os outros, e entraria em uma longa campanha para encontrar a imortalidade que os aproximaria por completo de seu deus. Farlis acreditava ferrenhamente nisso, e enviava diariamente grupos de batedores para procurar o objeto, local, ou qualquer coisa que fizesse sentido e com o objetivo de o próprio se tornar o herói que a lenda mencionava.

     Após alguns anos sem nenhum resultado, um grupo de batedores encontrou uma ruína do que seria um templo élfico no Deserto dos Exilados, a região a oeste do continente, essa notícia logo se espalhou pelas duas cidades e Farlis foi falar sobre a nova descoberta com Baralis e convidar o mesmo para uma missão de exploração na ruína. Apesar de não acreditar na lenda, Baralis aceitou. Os Filhos da Luz partiram com seus soldados de escolta, batedores que sabiam a localização e seus conselheiros mais fiéis para a tal ruína. Foram longos dias de viagem pelo deserto hostil até encontrarem o local. Ao chegarem lá, o clima era estranho e sombrio, mas isso não os intimidou e de fato, era um templo élfico em ruínas. Mas algo estranho chamava a atenção de todos, havia túneis embaixo do templo que levavam a uma espécie de masmorra no subsolo. Conforme a comitiva, acompanhadas por tochas que nem pareciam iluminar tanto dentro daquele local, descia em direção a escuridão subterrânea, uma voz sussurava na mente dos Filhos da Luz. Baralis a ignorava enquanto Farlis se abria para ela, que os guiou pela escuridão

     Alguns minutos depois de caminhada na masmorra sobre a luz trêmula das tochas, eles entraram em um salão e um som extremamente alto de algo sendo rasgado agrediu os ouvidos dos elfos que ali estavam, o som parecia causar um arrepio não só no corpo de todos ali presentes mas em suas almas enquanto suas cabeças doíam. Os guardas caíram no chão, gritando de dor, todos desmaiaram com exceção de Farlis. Quando recobraram suas consciências, os soldados e Baralis se armaram enquanto observavam Farlis olhando para uma fenda no espaço, como se algo tivesse rasgado o tecido da realidade. Farlis se aproximou da fenda, Baralis estava logo atrás, preocupado e prevendo o pior. Porém, Farlis apenas mexeu sua cabeça, como se concordasse com algo e a fenda se fechou.

     Durante a viagem de volta e ao chegar em casa, Baralis, sentiu como se o sofrimento que o atormentou dentro da masmorra o tivesse seguido até lá. Ele purificou sua alma através de um ritual de vinculo com a Luz e seguiu com o pressentimento de que o pior estava por vir. Os próximos meses depois disso foram os piores, por algum motivo, Farlis não mais mantinha contato com Baralis. Depois, o rei foi impedido de entrar no castelo real de Tharandil, em seguida na cidade. Não demorou mais que um mês para os dois sóis de Candalus não manterem mais contato e muito menos trocarem produtos. Contudo, certo dia Farlis visitou seu irmão rei em Shalduril e ele estava diferente... seu cabelo estava branco como neve, ele estava mais magro que de costume, parecia não se alimentar a dias e sua expressão era sombria. Eles brigaram e discutiram naquele dia. Baralis se preocupava com o bem estar de seu povo enquanto Farlis não parava de mencionar sobre "um novo senhor" que ele tinha que servir. Ele ofereceu a Baralis um lugar em sua corte mas ele recusou. O rei élfico sombrio então, declarou guerra a Shalduril.

     Os dias seguintes foram de muita morte e desgraça, irmãos lutavam uns contra os outros no fronte, mulheres perdiam maridos e maridos perdiam suas esposas. Civis não foram poupados por nenhum dos lados, uma corrupção sombria parecia pulsar por todos os corredores e pelas tropas de ambas as cidades mas no fim Tharandil sucumbiu, as tropas de Shalduril eram muitas e muito mais experientes. Baralis desafiou o seu irmão em um combate pelo fim da guerra, a batalha foi sangrenta e culminou na morte de Farlis. Parecia que tudo havia acabado, mas um ataque covarde do conselheiro do finado rei contra o campeão fez com que o mesmo fosse envenenado, o conselheiro de Farlis morreu na hora pelos vários ataques das tropas vencedoras mas isso não foi o suficiente. Baralis havia vencido a guerra mas a mesma sensação que o acompanhou no dia em que voltou daquelas ruínas veio à tona, ele havia matado seu irmão, ceifado a vida de inocentes, investido contra uma cidade que com certeza não havia defesas o suficiente para um ataque em larga escala dos seus próprios parentes. A corrupção não estava apenas em seu irmão, ela havia se alojado nele também, eles foram usados para se matar, um plano que ele nem sabia quem havia arquitetado, só sabia que era um ser de pura maldade. Ele se recusou a receber tratamento das sacerdotisas e aceitou a morte lenta causada pelo envenenamento. Antes de morrer, enquanto havia fôlego, ele indicou o seu sucessor, um dos campeões da guerra dos Sóis Gêmeos - como assim ficou conhecido esse acontecimento - chamado Tauriel.

     Nos últimos dias de Baralis, ele ficou sentado no trono de sua cidade que ficava de frente a uma enorme janela que, em seus dias dourados, proporcionaram uma visão de tirar o fôlego da cidade à frente, Tharandil.