Capítulo 47

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Maratona 1/

Alguns dias depois

Débora narrando

Desde o início do curso aprendi que eu precisaria lidar com as notícias ruins e pior, precisaria abrir o jogo com os familiares e amigos. Eu me preparei para isso.

Me preparei para dizer palavras de conforto, para apoiar e principalmente, para fazer o meu trabalho. Mas em momento algum me preparei para estar do outro lado da história.

E mano, sinceramente, a dor é a absurda. Ver uma das pessoas que você mais ama nesse mundo em uma cama de hospital e não poder fazer absolutamente nada para mudar é revoltante.

Minha mãe tava mal, mesmo que ela não admitisse, era nítido o quanto ela estava sofrendo. Não apenas em relação a questão de saúde. O seu físico e a estética também estavam mexendo com seu emocional, o que é totalmente compreensível.

Diferente de mim, ela sempre foi uma mulher vaidosa, sempre contou de se vestir bem, de se arrumar. Mal posso imaginar o quão difícil foi para ela perder todo o seu cabelo, o mesmo que ela sempre cuidou com tanta dedicação.

Dona Helena também estava perdendo peso dia após dia, muito por conta das fortes medicações que ela ingeria diariamente e que lhe faziam ficar sem apetite.

Eu achei que enquanto ela tivesse reagindo bem ao tratamento, assim como está, as coisas não iriam piorar.

Engano meu.

Tudo começou a alguns dias atrás, eu tinha acabado de chegar da faculdade, a casa estava totalmente silenciosa, achei que todos estariam dormindo. Tentei fazer o mínimo de barulho possível para não acordar ninguém, mas me surpreendi quando minha irmã entrou em casa.

Quando eu vi a situação me assustei tanto que até derrubei o copo que estava segurando. Quase desmaiei. Ela estava completamente machucada.

Vários hematomas cobriam a sua pele de seus braços e seu rosto estampava um mancha roxa enorme ao redor do olho esquerdo, aqui com certeza iria inchar e seria impossível cobrir com alguma maquiagem. Ela estava literalmente acabada.

Eu me desesperei e a coloquei contra a parede, supliquei para que ela me dissesse o que tinha acontecido, e quando ela finalmente falou, foi como se meu sangue começasse a borbulhar.

Um misto de culpa e raiva me consumiu. Culpa por não ter percebido tudo que acontecia debaixo do meu próprio nariz e uma raiva descomunal por ver que minha irmã estava passando exatamente pelo mesmo que eu.

Parecia ser um carma.

Mas vez eu não permitiria que aquilo continuasse. Minha irmãzinha passaria por isso também, nem que precisasse morrer pra impedir.

Eu cuidei dela, fiz curativos nos machucados, passei pomada em alguns hematomas, lhe dei um remedio e coloquei algumas compressas de água quente para diminuir a dor.  E quando ela finalmente dormiu, eu sair de casa.

Eu sabia onde iria encontrá-lo, e foi pra lá que eu fui.

A raiva me transformou. Aquela Débora passifica e gentil foi pra casa do caralho. Meu corpo estava possuído por uma versão minha que até então, eu nem sabia que existia.

Quando eu pisei meus pés na boca principal, fui logo perguntado por ele, mas vendo o meu estado, ninguém quis me falar.

E foi ali que o meu show começou. Eu desci do salto, larguei a pose de lado e fiz o maior barraco.

Naquele momento eu irmã mais velha cumprindo o seu papel.

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Meu Ponto FracoOnde histórias criam vida. Descubra agora