Vermelho e Azul

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(Mikhael)

  Já era de noite, o rapaz olhava o céu e as estrelas, essa noite seria longa, ele não conseguia pregar os olhos, igual a todas as outras noites, suas olheiras já estavam ficando aparentes; não conseguia parar de pensar naquela noite, na noite do ataque ao castelo.

Flashback
“Aquela noite o reino iria a chamas, e Mikhael não sabia como ele sabia disto, mas ele sabia.
Ele era o arqueiro protetor da rainha, mas aquela noite, não mais...
Ao som alto de uma corneta, todos na parte de fora do recinto levantaram suas espadas, e gritaram juntos como um coral: “Morte a rainha!” traidores e invasores gritavam e repetiam, eles iriam derrubar os portões do castelo, era para eu os atacá-los e proteger o castelo, mais não ao invés disso, eu...”
Fim do Flashback

Não me lembro de nada...
Pensou Mikhael, um pouco trêmulo, se desencostando do para-peito da janela, o jovem arqueiro estava cansando de pensar nisso e resolveu caminhar, pela floresta em meio as árvores e a escuridão, antes de sair de sua cabana, pegou seu arco e sua bolsa de flechas, não que ele tenha que se preocupar com os perigos da floresta a noite, pois suas maiores preocupações eram os lobos que rodeavam as redondezas, mas por algum motivo eles nunca o atacaram, na verdade quando os via na maioria das vezes eram dóceis, e até faziam companhia a ele... Por que será?
Mikhael então pegou seu cavalo e foi cavalgando até uma clareira ali perto, lá se sentou as margens de uma nascente e começou a olhar seu reflexo na água. Era ele, ele mesmo Mikhael Linnyker, o ex arqueiro real, que por sua traição de quase ter matado sua rainha, agora era condenado a vagar em meio a floresta.
Mikhael encarava as águas, e lá conseguia ver o reflexo do brilho da lua e das estrelas, era fascinante, mas aquilo... Aquilo ecoava em sua mente era tão irritante quanto um disco arranhado, “Morte a Rainha” o que ouve com ele naquela noite, ele não se lembrava, sua única lembrança daquela noite foi uma voz; familiar? Talvez... Não como os outros que gritavam, “Morte a Rainha” mas... era diferente porque essa voz, era uma voz que vinha de sua cabeça.
O rapaz continuava a encarar seu reflexo nas águas, tentando entender o que havia acontecido, até que...
Um lobo, foi possível ver um lobo ao lado de seu reflexo, o arqueiro então se virou rapidamente para a criatura peluda e o encarou. O lobo fez o mesmo que Mikhael. O rapaz encarava o lobo, logo percebendo que os olhos daquele lobo emitiam uma forte luz vermelha, eram eles, eles aqueles lobos que eram doces com Mikhael, e que faziam companhia na solidão; O rapaz não sabia o porquê mas ele podia sentir uma conexão com aquelas criaturas, era uma conexão estranha, não era como se fosse algo bom, mas ele sentia.
Vozes... No momento em que o lobo se sentou ao lado do rapaz e o encarou novamente, Mikhael pôde ouvir vozes, as mesmas vozes que ele ouvia quando ia dormir e as mesmas vozes que ele ouviu na noite do ataque ao castelo; malditas vozes, não dava para entender o que elas diziam, eram apenas grunhidos e alguns gemidos baixos, era como se a mente de Mikhael fosse uma TV fora de sinal. As vozes continuaram em sua cabeça, o impedindo de pensar em qualquer outra coisa, até mesmo em sair dali...

(Felipe)

  Ele balançava uma taça de vinho, em quanto olhava para o fogo de sua lareira, ele pensava em como ficou tão solitário em todo esse tempo.
O jovem burguês pensava em seus bens e em seu negócio, mas não era isso que ele queria... Fazia tempo que ele não saía e se divertia, com amigos... Mas que amigos? Felipe era solitário, o solitário cão de guarda da rainha, sempre ocupado com negócios e nunca tendo tempo para si.
Cansado de observar o fogo, Felipe revirou os olhos, entediado, colocando a taça em cima de uma mesinha e se levantando da poltrona onde sentará, ele não queria deixar sua vida entediante o atrapalhar, o rapaz então dirigiu-se até a enorme varanda de sua mansão, ele então olhou calmamente seu relógio de pulso, 05:21am daqui a pouco as pessoas do reino acordam, os pequenos comércios se abrem, e então tudo começa outra vez. Felipe então olha a vista de sua enorme mansão, era possível ver grande parte do reino de lá, e já a essas horas pessoas já estavam acordadas, indo de lá para cá.
O rapaz já cansado de se sentir aperreado, saiu de sua varanda, e correu até o andar de baixo. Ele então saiu de sua mansão e começou a caminhar tranquilamente pelo reino. Eram tantas pessoas já circulando, isso fez Felipe quase desistir e voltar para sua solitária mansão. Logo gritos de uma mulher foram ouvidos, Felipe seguiu aqueles gritos e notou uma senhora caída ao chão, ele a ajudou a se levantar, e sem demora perguntou:
— A senhora está bem? – Aquela não respondeu e continuou gritando, apenas apontou para alguém encapuzado que corria, que cada vez mais se distanciava dali.
  Felipe pareceu entender a situação, pensou em pegar seu cavalo, porém iria demorar demais, logo resolveu seguir aquela pessoa. Aquela pessoa não percebeu ter sido seguida, ao chegar em uma esquina, parou e abaixou o capuz. Felipe notou que o mesmo era loiro. Ele aproveitou que aquele se notava distraído e se aproximou, rapidamente o imobilizou, agarrando um de seus braços e colocando-o para trás, o loiro em sua vez soltou um baixo gemido por conta da dor.
— O que você roubou?! – Disse Felipe, pressionando o braço do mesmo.
— N-nada! – Respondeu o outro com dificuldade. Aquele não acreditou e continuou a pressionar o braço do rapaz. Por conta da dor, o loiro balançou o corpo, fazendo algumas pedras coloridas caírem de um de seus bolsos. —Me solte! – Disse o rapaz em um tom alto. Felipe suspirou e levou a mão até um dos bolsos daquele que estava imobilizado, tirando dali um frasco. O loiro tentou se mexer, porém a dor o fez gemer novamente.
— Pedras coloridas e um frasco? O que tem dentro? ... Você quer que eu devolva seus brinquedos? – Brincou Felipe, balançando aquele frasco na mão, o líquido que havia dentro era meio avermelhado, deixando Felipe um pouco curioso. Ainda sem soltar o rapaz, insistiu:
— Responda... Você quer suas coisas de volta?
— D-devolva! E-eu só roubei as p-pedras! – Respondeu o ladrãozinho. Felipe arqueou a sobrancelha, pegou as pedras que haviam caído do bolso daquele ladrão e as guardou no bolso, deixando apenas uma na cor azul para o loiro. Felipe colocou calmamente o frasco de volta no bolso do rapaz e suspirou. Com a mão que estava livre, tomou o rosto do mesmo, podendo apenas notar que o mesmo tinha olhos azuis.
  — Se eu lhe encontrar roubando algo novamente... Irei adorar arrancar seus olhos e tê-los como enfeite, ladrãozinho. – Ele riu, voltando o braço do rapaz, o soltando. Aquele ladrão rapidamente se levantou e correu o mais rápido que podia. Felipe revirou os olhos e voltou até onde aquela senhora se encontrava.
  —Você é um anjo, jovem. Não é a primeira vez que ele rouba algo daqui. – Felipe pôde notar que as coisas que aquela senhora vendia eram um tanto estranhas. — Não se preocupe... São apenas amuletos de proteção, gostaria de levar um? – Disse a senhora, oferecendo suas mercadorias. Felipe negou e apenas devolveu aquelas pedras, a senhora sorriu de forma gentil, porém insistiu para Felipe levar uma das pedras coloridas, logo de tanto insistir, o rapaz acabou por levar uma pedra na cor vermelha.
  Ao voltar para sua mansão, ele colocou aquela pedra em algum canto qualquer e se jogou na cama, colocando os braços atrás da cabeça.

O Inimigo Da Coroa - MitwOnde histórias criam vida. Descubra agora