Apaixonados sem preconceito

Seu tempo

Desde que me conheço por ser humano, tenho competido, em todos os aspectos, com minha melhor amiga, Jade. Quando éramos menores, costumávamos perseguir meninos até que se trancassem no banheiro masculino fora do nosso alcance, quem conseguisse "capturar" um antes que isso acontecesse, era a vencedora. A primeira a parar de correr atrás de garotos foi ela, depois acabei descobrindo que, se tentasse com garotas, nunca mais precisaria correr.

A escola terminou, mas, nossa competição sem-sentido não. Faz mais ou menos um mês que vamos à mesma balada por causa de uma garota que lá frequenta. Jade disse que a conhece do trabalho, mas não trabalham no mesmo setor. Ela está na vantagem de conseguir chamar a garota para sair, mas não iria desistir só por isso, àquela garota era linda demais.

Suas pernas eram longas, provavelmente era mais alta que eu; seu rosto deixava qualquer modelo no chinelo; seu rosto era bem esculpido, maxilar marcado e maças do rosto altas;  seu cabelo longo era muito bem cuidado, independentemente de ser mega-hair ou não, era muito bonito. Enfim, tudo nela era atraente, fazia um tempo que não encontrava uma garota como aquela.

– Quer apostar quanto que ela vai pedir pra ficar comigo hoje? – Perguntei, abrindo os primeiros botões da camisa que estava usando.

Jade me encarou em silêncio por alguns instantes, com sua expressão julgadora que tanto conhecia, até responder:

– Nada, ela é toda sua.

Antes que pudesse perguntar o porquê de ela ter desistido, a garota já tinha entrado no clube. Talvez estivesse cansada das apostas, admito que também estava, mas nossa amizade sempre foi baseada nisso, é como se fosse a razão da existência de um vínculo entre nós duas.

Decidi dar lhe espaço e fui procurar a garota na qual estava interessada, não foi difícil acha-la devido ao seu tamanho e as roupas coloridas – além da quantidade de pessoas ao seu redor, provavelmente eu não era a única tentando algo com ela essa noite.

– Olá, está sozinha? – Movia levemente meu corpo para fingir estar dançando, já que estava mais concentrada em analisar a mulher de perto, era realmente tão bonita quanto eu pensava.

– Ninguém fica sozinha em noite de festa – Ela sorriu e desacelerou a dança. Seus lábios formavam um coração em volta de seus dentes, era realmente adorável –. Mas, se estiver tentando me paquerar, temo que tenha que negar sua companhia, sabe, eu já tenho namorada...

– Oh, me desculpe... – Admito que fui um pouco ingênua ao pensar que fosse solteira. Pelo menos eu tentei.

–... e você, já não tem alguém também? – Percebi que estava mirando alguém atrás de mim, segui seu olhar e vi Jade com uma bebida na mão em meio a outras garotas.

– Nós entramos juntas aqui, mas somos só amigas.

– Sério? Ela fala muito de você, pensei que tivessem algo a mais.

– Não... nos conhecemos desde o primário, não combinamos em nada.

– Você não está entendendo né?

– Desculpe?

– Ela é apaixonada por você, está na cara.

Lancei um olhar confuso para a mulher, que mal conhecia nos duas e já falava coisas que nem nós mesmas falávamos sobre a nossa amizade.

– Se você não se importa, eu preciso ir.

Não enrolei muito para cortar caminho entre a multidão e chegar até o bar do local. A noite mal tinha começado e já estava indo por água abaixo, o que me restava era aproveitar bebendo o que a casa oferecesse.

Depois de alguns drinks e um longo momento de reflexão, concluí que a garota deveria ter me enganado quando disse que tinha desistido, afinal ela estava praticamente se esfregando na moça bonita, e deve ter convencido ela a me negar fazendo algum trabalho chato para ela. Eu sabia que era uma competição injusta.

Larguei o copo e fui me esgueirando até chegar nas duas, não pareciam muito felizes em me ver, mas o álcool fazia com que pouco me importasse.

– Vem, eu preciso falar com você – Segurei Jade pelo pulso e a puxei para a porta dos fundos, agradecendo por sair do ambiente fechado e tomado por gelo seco e sentir a brisa da noite em meu rosto –. Você me enganou, a mulher tem namorada, você sabia, não?

– O quê? Está falando da Katlin? Ela é solteira e, além do mais, eu disse que tinha desistido.

– Então por que estava com ela?

– Não preciso te dar satisfação sobre as coisas que eu faço. Agora, se me der licença, eu vou voltar lá pra dentro.

– Não! – Agarrei seu pulso com mais força, para que pelo menos não se afastasse – Mais uma coisa... – Era uma pergunta idiota de se fazer, mas poderia usar a desculpa de que estava bêbada no dia seguinte – Você gosta de mim?

Ela arregalou os olhos e ficou imóvel, até pensei que estava passando mal, mas provavelmente só estava pensando.

– Quem te contou isso?

– Sua amiguinha do trabalho.

Seu olhar melhorou, não muito, mas pelo menos agora parecia apenas com tédio, e não surtando.

– Ela quer sair comigo, sempre inventa uma desculpa, mas eu dizia que tinha alguém, então ela desistiu, mas continuou falando comigo. Eu estava esperando por você, Ana, todos esses anos eu esperei por você...

Era muita coisa para processar, até porque eu sequer duvidei disso. Ela negou logo a garota que eu achava linda, isso era demais, sendo que minha ex me traiu na primeira oportunidade, mas era difícil saber o que fazer, não queria descobrir que não combinamos e estragar nossa amizade.

– Jade, você quer ir lá pra casa?

– Não – Dessa vez fui eu quem arregalei os olhos, toda essa declaração para me negar no final? –. Eu esperei por você tempo demais, mas você nunca vai olhar pra mim como eu olho para você, ou como você olha para qualquer garota que passa na rua. Eu tenho que ir agora, tem alguém me esperando lá dentro.

Não a segurei ou disse para que não fosse, estava em choque, atordoada, mas acima de tudo, com medo de ter perdido a mulher mais importante da minha vida.