Todos os caminhos levam a Roma (Desgutação | Completo na Amazon)

CAPÍTULO 2 - Problemi meccanici

Por mais que não fosse exatamente longe, Charlie demorou mais horas do que o esperado para sair de Catânia e chegar, enfim, a sua primeira parada: Castello Ursino. Obviamente que Castello Ursino não ficava muito longe da sua casa, mas demorou tanto para conseguir dar partida no carro que quase desistiu daquela loucura e comprou uma passagem de ônibus.

Não, ela iria fazer aquilo. Antonella tinha razão nisso: ela não poderia de deixar de fazer as coisas por conta de Zac, ainda que fosse exatamente por conta dele que estava fazendo aquilo, saindo de casa naquele fusca velho que mal conseguia obedecer aos seus comandos.

O Castello Ursino, por outro lado, era um local que ela conhecia, mas tinham combinado de começar por ali, pois seria a porta de entrada para as maravilhas a frente, todo o caminho que iria desbravar pela Itália inteira.

As torres cilíndricas de pedra eram imponentes desde longe. O Castelo que havia se tornado Parlamento da Sicília depois da sua grande importância durante as Vésperas. Ela tinha a intenção de entrar no museu, mas ele estava fechado para alguma manutenção agendada o que a fez dar meia volta e entrar em seu fusquinha amarelo e decadente.

Havia implorado para que Zac lhe ajudasse a comprar outro carro, seu fusquinha por mais fofo que fosse, tinha tantos problemas que era até difícil de conseguir enumerar. Só o fato de que as porta só abriam com a chave – que estava prestes a se quebrar – e que o porta malas e o capô se abriam com o mísero toque, já era o suficiente, mas ele tinha dito que não precisava, ele já tinha um carro e levaria ela para onde quisesse, não precisaria gastar seu dinheiro com aquilo.

Ela se prumou no volante duro, o entortando com tudo o que tinha para seguir para a estrada e enfim, começar a rumar em direção a Roma e passar por todos os locais que estavam demarcados no mapa no banco do passageiro. Talvez fosse obrigada a pular sua próxima parada em uma das igrejas que gostaria de conhecer se quisesse chegar a tempo de fazer o check-in no hotel em Messina, onde iria conhecer a Catedral de Santa Maria de Assunção.

Enquanto se balançava de um lado para o outro tentando se distrair com o cheiro forte que vinha do motor, deixando que a música alta lhe dominasse, o carrinho ia subindo a encosta da rodovia de forma lenta demais para que ela não se preocupasse, sendo possível somente que ela parasse em uma encosta antes de o ouvir pifar audivelmente e a fumaça começar a subir pelo capô.

Estava tão calor que suas pernas desnudas pelo short que usava estavam grudando no banco de pano, ainda que o ar-condicionado estivesse ligado. Ela pensou em tirar o tênis também, mas não seria inteligente, mesmo com todo aquele calor, dirigir descalça, os pedais eram duros demais para isso. Talvez fosse calor o motivo pela falha.

— Merda! – gritou, socando o volante antes de sair do carro e tentar erguer a tampa do capô. Seus dedos arderam assim que encostaram na lateria, ela fervia como as chamas do Monte Etna¹ que havia acabado de deixar para trás. Charlie correu até o carro de novo, pronta para pegar o celular dentro do banco, mas... Não! Não, não, não, não e não! Ela não tinha... Ela não tinha... – Merda! – gritou de novo esmurrando o vidro fechado do carro ao tentar abrir a porta e notar que ela estava travada por dentro. O celular reluzia em cima do banco, como se risse da cara dela e chave na ignição balançava a bel prazer.

Charlie apoiou as mãos em cima do veículo, respirando fundo e tentando pensar em como iria sair dali. Talvez ela conseguisse entrar pelo porta-malas, esmurrando a cortiça que prendia os dois autofalantes da parte de trás até que se soltasse e ela conseguisse pular até os bancos.

Não que ela tivesse qualquer outra opção de toda forma...

Charlie deu a volta no carro, puxando o porta-malas que se abriu com tanta facilidade que ela revirou os olhos. A mala gigantesca que havia arrumado para aquela viagem estava ocupando quase todo o espaço ali dentro.