LIVRO REVISADO ✅
Melina é uma criança que se vê sozinha no mundo após a morte de sua mãe. Agora, aos vinte e dois anos, devido as dores e as lutas que já passou, a moça não acredita mais no poder do Leão da tribo de Judá, Aquele em quem sua mãe conf...
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Trilha sonora do capítulo: Voices - Aguenta firme
2 - Melina Soares - O início do caos
... Anos depois
— Melina acorda, acorda, você vai se atrasar! — Ouço Bianca gritar entrando freneticamente em nosso quarto.
— Nossa, que horas são? — Sento-me na cama ainda desnorteada, sentindo minha cabeça prestes a explodir de tanto que doía.
— Faltam vinte e cinco para as sete, ainda deixei passar cinco minutos, viu?! — Bianca responde enquanto calça seu tênis de forma descontraída já pronta para ir trabalhar.
— Obrigada por me acordar! — Deixo a preguiça de lado, me levanto e começo a arrumar minha cama.
— Você não está com uma cara nada boa. Não dormiu bem? — Bianca questiona, enquanto analiso minha cara de acabada no espelho.
— Tem como dormir bem com aquele som infernal tocando a noite toda, Bianca? Isso já está passando dos limites. — Bufo impaciente e inconformada.
Como dito, passei a infância em um orfanato, foi a pior fase da minha vida. A princípio assim que entrei no abrigo, não fazia a mínima questão de ser adotada, estava tão triste e abalada com o que aconteceu... mas à medida que passei a ver as outras meninas indo embora e eu ficando para trás, comecei a desejar muito que alguma família me levasse também. Porém, nenhum casal tinha interesse em mim, fiquei me perguntando o que poderia haver de errado comigo. Mas com o tempo descobri que o motivo não era nada mais, nada menos que a minha cor de pele. Ainda anseio entender como há pessoas que descriminam e inferiorizam as outras por algo tão banal, já que somos todos iguais. Diante disso, eu fui a última a sair, não por ter sido adotada, mas por ter completado a maioridade. Quando o meu padrasto me abandonou lá, achei que não poderia me sentir mais rejeitada, estava errada.
Com dezoito anos, sem saber o que fazer, para onde ir... em uma noite fria, encontrei a Bianca. Vendo meu estado e o quanto eu precisava de ajuda, ela me estendeu a mão. Ela tinha acabado de chegar à cidade e alugar um quarto em uma república e alegou ter espaço suficiente para dividir comigo. Se Deus existe mesmo, a Bianca foi um anjo que caiu do céu para mim. Estamos juntas desde então, há quatro anos dividindo o mesmo espaço, passando por apertos e dificuldades, mas sempre unidas.
De início estava tudo a mil maravilhas, o lugar era ótimo, bem frequentado, na mais perfeita paz, mas ultimamente virou um inferno. Pelo que sabemos o síndico faleceu e deixou o lugar nas mãos do filho, que por sinal é um irresponsável. Desde então, tem festas, baderna, bebedeira, som alto durante toda a madrugada todo santo dia, a república virou um verdadeiro caos.
Bianca e eu já cogitamos a possibilidade de ir para outro lugar um milhão de vezes, mas não é tão fácil quanto parece. O salário que ganhamos não dá para pagar nem dois meses de aluguel de um apartamento. Sendo assim, estamos empurrando com a barriga e vendo no que vai dar.
