Capítulo 2

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Ravena Villin

Alexander. Era quase impossível esquecer. Lembro que antes dos meus pais falecerem trabalhavam para a família real na confecção de joias e enquanto eles tinham conversas duradouras sobre a vida chata de adulto eu e Alexander brincávamos por todas as partes do castelo. Eu gostava de fingir que éramos guerreiros e que tínhamos que fazer tudo que era possível para sobreviver, mal sabia eu que essa seria minha realidade ao longo dos anos.

— Poderá até ser considerada uma dama vestida dessa forma, sem aquela calça e capa.

Fico quieta olhando para o espelho que havia na carruagem constatando verdade na fala de Ethan, o azul-índigo que compunha a saia do vestido até as longas mangas tinham um destaque em minha pele pálida que durante dois anos não sabia o que era um raio de sol. Meu cabelo estava semi preso com uma presilha de pedras azuis que havia ganhado da minha mãe aos dez anos, acredito que era a única coisa que eu não havia roubado e que realmente tinha valor.

— E então, como fez com que me aceitassem no castelo? Tenho certeza que seus pais não se incluem no seu plano - Relaxo minhas mãos em meu colo vendo Ethan tirar os olhos da paisagem da Floresta do Perdão e me olhar.

— Quando seus pais morreram meus pais ficaram sabendo apenas um ano depois, minha mãe queria encontrar você, mas ninguém sabia do seu paradeiro, apenas ficamos sabendo que você havia fugido de um orfanato após cinco anos nele - Sinto a carruagem dar um solavanco fazendo com que me segurasse na barra do assento ainda o ouvindo - Pesquisei sobre sua história e contei pros meus pais quando sai da sua cela a uma semana e minha mãe exigiu que ficasse no castelo para poder cuidar de você, todos se comoveram, principalmente meu amado irmão - Sorri maldosamente e reviro os olhos

— Cuidado, com tanta inveja irá contaminar o reino - sorriu ironicamente.

Era verdade. Quando éramos pequenos eu e Alexander vivíamos nos divertindo enquanto Ethan se trancava no quarto por nos considerar idiotas, era poucas as minhas lembranças com ele comparadas as minhas lembranças com seus pais e seu irmão.

— Meu irmão não é um bom rei, ele acha que o povo o obedecerá sendo gentil e diminuindo a carga horária dos trabalhadores. Eu sim sempre mereci esse cargo, eu sei o que é melhor para o povo.

— Acredito que um bom rei é aquele que se preocupa com seus súditos e coloca o
bem-estar deles acima dos dele - Falo com firmeza o encarando.

— Como eu disse, sei o que é melhor para todos, tire a vida do meu irmão e ganhará a liberdade que tanto almeja - o vejo tirar uma adaga do seu bolso e me entregar - Pelo o que fiquei sabendo você gosta bastante de uma adaga - Sorri

Subo a saia longa do meu vestido e guardo a adaga no interior da minha bota, escuto barulho de música e olho janela afora vendo que já havíamos saído da floresta a um tempo e que estávamos passando pelo centro, dou um sorriso leve vendo a animação das pessoas em plena luz do dia, fecho meus olhos sentindo a brisa e me perco em meio a pensamentos até que após um tempo sinto a carruagem parar fazendo com que abrisse meus olhos.

— Trate de ser uma boa menina e pense no que está em jogo - Fico quieta diante de sua fala e vejo o cocheiro abrir a porta, Ethan estende sua mão para mim após sair da carruagem, coloco meus pés sobre o chão

Abro um sorriso leve olhando envolta percebendo a beleza da entrada do castelo, era grandioso ao ponto de eu ter certeza que me perderia dentro dele. Continuo observando envolta vendo o jardim da entrada composto por rosas-brancas e com um chafariz em seu centro. Com uma imensidão dessa sinto vontade de rir, existia dinheiro suficiente para todos, mas poucos nasciam com a sorte de herda-lo. Escuto Ethan pigarrear em meu lado me fazendo olhar para a escada de entrada vendo a família real descer.

— Sorria! - Exige baixo e abro um leve sorriso vendo eles terminarem de descer as escadas e se aproximarem de mim.

— Minha querida, que bom tê-la aqui conosco - fala a rainha Anastácia me abraçando fortemente me fazendo me assustar de primeiro momento e acabo retribuindo o abraço sem muito jeito - Ethan me contou tudo que passou, eu sinto tanto por seus pais, te procuramos por tanto tempo - Se afasto um pouco de mim, segurando em minhas mãos.

— Vocês não têm culpa, não tinham como saber onde eu estava - tento suavizar a onda de euforia que ela se encontrava, estava no castelo para matar Alexander, não ela.

— Mas agora está segura, iremos cuidar de você como você merece - escuto a voz de James o vendo sorrir para mim ternamente.

— Muito obrigada aos dois, sempre foram como pais para mim - pela primeira vez consigo ser sincera, Anastácia e James sempre me trataram bem, como se eu realmente fosse da família, familia aquela que eu estava prestes a trair.

— Espero que não tenha se esquecido de mim - Solto minhas mãos de Anastácia vendo ela é James darem espaço revelando aquele que era meu confidente quando criança o vejo sorrir para mim e sinto um arrepio em meu corpo olhando para ele, os anos haviam o melhorado muito, não que ele precisasse de alguma melhora, desde pequeno Alexander era o principal alvo das meninas e como qualquer melhor amiga eu fazia questão de mate-las bem longe dele. Uma coisa era fato. Ele poderia ter mudado, mas seus olhos continuam da mesma forma que era quando éramos crianças, transparecendo toda gentileza e bondade que ele tinha.

— Seria impossível isso acontecer - Sorrio o olhando e o vejo me segurar com força me abraçando, retribuo o abraço fechando meus olhos sentindo meu coração acelerar e peço aos céus que fossem gentis comigo para que eu não me arrependesse do que o destino havia preparado para mim.

A Assassina do Rei Onde histórias criam vida. Descubra agora