Capítulo 4

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Ravena Villin
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— Ela irá ficar boa, doutor?

Sinto meus sentidos voltarem fazendo com que uma dor agonizante recaia sobre mim e fico de olhos fechados pela dor escutando as vozes.

— Ainda não tem como saber, majestade, ela teve uma queda feia pelo visto, mas teremos que esperar ela acordar.

— Parabéns, irmãozinho conseguiu quase matar nossa criminosa em um dia.

A voz de Ethan me faz abrir os olhos instantaneamente e suspiro com dor quando tento me mexer.

— Ei — sinto Alexander passar a mão em minha bochecha e me olhar nos olhos — Julguei que fosse demorar a acordar, fiquei preocupado.

— Se ele era o calmo não quero nem ver o menos calmo — falo baixo.

— Sinto muito, não deveria ter deixado você subir nele, não queria te ver machucada — fala acariciando minha bochecha e sorriu pegando em sua mão.

— Não é como se eu não tivesse levado pancadas piores.

— Bom, senhorita você levou uma pancada feia, e como já está acordada terei que examina-lá para ver se não tem nenhuma lesão.

Vejo Alexander se afastar de mim, dando espaço para o médico que começa a me examinar, as dores são grandes na parte da minha costela, mas nada que fosse demorar muito para melhorar. Sinto ele levantar minha blusa e passar um creme na região que doía, ele abaixa minha blusa e se afasta de mim.

— Pelo que pude perceber não houve uma fratura de nenhuma região do seu corpo, mas irá ficar dolorida por pelo menos uma semana, recomendo que saia da cama o mínimo possível e que... — o médico é interrompido com um dos guardas entrando no quarto, ele chega até Alexander dizendo algo baixo em seu ouvido, o olhar de Alexander passa a ser aflito e ele vem até mim, encostando seus lábios em minha testa.

— Terei que resolver um assunto importante, mas prometo não demorar a voltar — Fala baixo e se vira para Ethan — Pode ficar com ela até eu voltar meu irmão? — O olhar de Ethan mostra sua satisfação pela situação que eu me encontrava, me pergunto se quando Alexander saísse ele faria questão de me sufocar com o travesseiro.

— Pode ficar tranquilo, irei cuidar muito bem da nossa criminosa — O tremor em meu corpo reaparece e eu tinha certeza que ele iria me matar. Alexander se levanta da cama saindo do quarto acompanhado pelo médico e vejo Ethan trancar a porta e vir até mim.

— Penso que você ainda não entendeu como as coisas funcionam, quero saber o motivo do meu irmão ainda estar vivo — Era incrível a tamanha falsidade que ele tinha, agir como se amasse Alexander e, ao mesmo tempo, desejar sua morte.

— Ainda não tive oportunidade de fazê-lo — Falo baixo e o encaro.

— Sei que ontem vocês ficaram sozinhos, sei que teve oportunidade e não o fez.

— Cheguei não tem nem três dias, se eu o matasse ontem iriam desconfiar, preciso ganhar mais a confiança para assim acabar com a vida dele — As palavras saem de forma amarga de minha boca, apesar de demonstrar certeza no que eu faria, no fundo, eu não tinha certeza de absolutamente nada, a mão de Ethan vai de encontro em um roxeado que havia em meu braço o apertando.

— Fico satisfeito em saber que tenho uma criminosa tão inteligente — seu aperto é firme fazendo com que eu soltasse um murmúrio de dor — Mas acho bom ser inteligente o suficiente para saber que não deve brincar comigo, pois, pode ter certeza, se não matar Alexander irá viver muito pior do que vivia nos últimos dois anos. — Ele solta meu braço e se levanta da cama e vai até à porta a destrancando e gira a maçaneta a abrindo.

— E tenha sempre em mente quem você é, um nada — Quando ele sai do quarto olho para o travesseiro e lamento o fato de eu não ter tentado o enforcar, pelo menos não ouviria mais a voz dele. Não havia conseguido matar Alexander ontem, mas agora acrescentava uma certeza na minha lista. Eu tinha pouco tempo para fazê-lo.
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As memórias da Prisão Oculta me atormentam quase todas as noites, era difícil eu dormir durante toda a noite, e durante a semana que se passava não era diferente, começo a me remexer na cama e sinto alguém me chacoalhar.

— Senhorita Ravena acorde, acorde — Quando sinto a mão da pessoa entrar em contato com a minhas costas, abro meus olhos rapidamente e ignoro a dor jogando a pessoa na cama ficando por cima dela e seguro em seus braços.

— Ah! É você — falo bufando vendo Isabel assustada e solto seus braços saindo de cima dela e me levanto da cama sentindo ainda dor, mas menor.

— Desculpe incomodar senhorita, bati na porta e não escutei sua voz, quando entrei você estava se remexendo atordoada — Ela se levanta da cama e passa a mão nos cabelos os arrumando — Está se sentindo bem?

— Relaxe, isso acontece sempre, é normal — me viro para ela enquanto me encosto na penteadeira — Mas e então, o que tinha de tão importante para vir aqui?

— Bom hoje é o baile anual, o rei Alexander pediu para vir trazer isso para a senhorita - ela pega um vestido azul-escuro com alguns brilhantes na longa saia, suas mangas eram curtas e laterais com pequenas borboletas nelas, sorriu levemente passando a mão no vestido.

— Parece que o rei gosta bastante de você, o vestido é lindo — Diz ela sorrindo e me viro para ela.

— Ele gosta? — falo sem acreditar

— Claro, todos já perceberam, durante essa semana ele veio todos os dias ver você enquanto dormia, parece até que está apaixonado

Fico quieta negando com a cabeça e rio baixo olhando para ela.

— Alexander é meu melhor amigo, ele é apenas gentil — Falo a encarando — Bom, penso que devo começar a me arrumar, já irá começar a escurecer.

Eu estive apenas uma vez no baile anual, antes de meus pais morreram eu tinha 6 anos e Alexander 7, no dia do baile anual inventamos de dar banho no cachorro de um dos ministros naquele dia, o resultado foi nós encharcados no meio do salão. Rio com a lembrança vendo Elisa terminar o coque em meu cabelo deixando alguns fios rebeldes soltos, ela faz uma leve maquiagem em mim, coloco dois brincos pequenos e um anel. Por fim ela me ajuda a colocar o vestido. Quando me olho no espelho quase não me reconheço, eu poderia até ser confundida com uma nobre, mas as palavras de Ethan invadem minha mente me lembrando que apesar da roupa ou do cabelo, eu era apenas um nada.

— Está linda senhorita — Elisa me olhava admirada, diferente do primeiro dia ela não demonstrava medo.

— O que houve com você garota? No primeiro dia parecia que iria se borrar nas calças por estar perto de mim e agora está sem medo.

— Quando a senhorita caiu todos ficaram aliviados em saber que você não poderia machucar ninguém, mas vi como todos da família real ficaram, você é importante para eles, contaram para algumas pessoas sobre a morte de seus pais e comecei a pensar que talvez tenha te julgado mal.

Julgado mal. Se ela soubesse tenho certeza que se borraria agora, mas, por outro lado, é reconfortante saber que alguém sem ser da família real também conhecia minha história e que acreditava que eu pudesse mudar.

— Que bom garota porque não quero ver ninguém se borrar na minha frente — Falo sorrindo levemente e vou até à porta a abrindo e me viro para ela — Além disso, obrigada pela ajuda de hoje — sorriu de forma agradecida e saio pelo corredor indo até o salão principal, quando chego nele e os guardas abrem as portas todos me olham me fazendo sentir uma imensa vontade de sair dali.

A Assassina do Rei Onde histórias criam vida. Descubra agora