Quarto dia: Ver o que há de bom

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Muitos dizem que amar é sofrer. Mas deveria ser mesmo? Já existem tantas coisas na vida que nos fazem sofrer, diariamente. Contas para pagar, metas para alcançar... fora os problemas em comum que todos temos, como... sei lá, buraco da camada de ozônio, fome na África, derretimento das geleiras, a Terra plana... Por que sofrer mais por amor do que sofrer pelos problemas da humanidade?

O quarto passo é sobre isso, e sobre pensamento positivo. Então, vamos direto a ele:

Passo 4: Veja o que há de bom à sua volta.

Amiga, você não precisa só ter o cara na cabeça. Ele não é a unica coisa que existe no planeta. Você tem ainda amigos, familiares, e sua vida! Por que não começar a focar nas coisas que te interessam, que tem a ver com você, ao invés de só perder todo o seu tempo do dia pensando em quem não ta nem aí pra ti? 

Quer um bom motivo? Assim como o mundo não gira só em torno do crush, ele também não gira só à sua volta! Se todo mundo parasse de pensar no próprio umbigo e começasse a pensar no próximo, claro que teríamos um mundo melhor. E acredite, deixar o cara um pouco de lado de seus pensamentos é um passo pequeno, mas é um passo. E é um passo de cada vez que vamos chegando lá.

Depois que me irritei com a ideia de que o Bernardo era um tremendo safado, achei mesmo que o ódio que criei dele me faria esquecê-lo. Mas não foi assim que aconteceu. 

No dia seguinte, a mesma garota peituda passou em frente a casa dele, e ele nem sequer deu bola. Tentei lembrar se no dia anterior ele realmente tinha olhado pra ela, mas não tinha nada disso. Talvez ele nem ligasse. E mesmo se tivesse olhado, o que eu tenho a ver com isso? Ele ta solteiro, e é um garoto, quem sou eu pra ter ciúmes dele? Qualquer cara olharia!
Mas, naquele dia em questão, ele não olhou. Isso foi um motivo pra me deixar preocupada com ele... O que estava acontecendo com o Bernardo?

Coloquei isso na minha mente, mas admito, meu erro foi querer dar esse passo com a razão de todo esse tutorial: o Bernardo. Pensei que ajudá-lo me ajudaria a esquecê-lo. – Sério, o que deu na minha cabeça pra chegar nessa conclusão? – E até então não sei bem se ajudou ou atrapalhou no meu objetivo. Mas, eu não podia vê-lo daquele jeito e não fazer nada. 

Abri meu Facebook. A mensagem dele daquele primeiro dia ainda estava lá, sem resposta. Respirei fundo e tomei coragem. Coloquei na cabeça que o objetivo seria apenas ajudá-lo, nada de bater papinho e ficar flertando. Aqueles amigos dele não deviam saber como ajudá-lo, nem aquelas garotas peitudas. Se ele se abriu comigo, então ele viu em mim alguém que seria capaz de entendê-lo sem julgá-lo. Eu precisava tentar.

Mandei um 'oi':

– Oi Bernardo! Desculpa não ter respondido antes... só vi agora. Obrigada por me add. Precisei fazer outro.

Não demorou muito e logo veio a resposta dele:

– De nada. Imaginei que fosse isso.

Pensei numa forma de puxar assunto, mas nada vinha na cabeça. Não dava pra perguntar diretamente. Talvez um 'Tudo bem?' fosse o suficiente. Enquanto pensava, ele já tinha mandado outra mensagem:

– Obrigado por me ouvir aquele dia. 

Era a deixa que eu precisava. 

– Aquilo não foi nada. Se precisar conversar, sobre qualquer coisa, pode contar comigo. Eu não sou uma garota muito inteligente, mas acho que posso ajudar em algo. E as vezes, só da gente se abrir com alguém já é uma ajuda, né?

Meu coração disparava conforme eu escrevia cada letra daquela mensagem. Lá estava eu, me fazendo de 'a garota compreensiva' com o cara que roubou meus pensamentos por 10 anos. Quem eu estava querendo enganar? Estava me fazendo de caridosa, mas no fundo eu queria mesmo um motivo pra flertar. Reparei que me fazer de boa samaritana não ia ajudar a esquecê-lo. – Dããã, óbvio que não! – Mas, já era tarde. A mensagem tinha sido enviada, carregada com meus sentimentos reprimidos, disfarçados discretamente com um 'pode contar comigo'. 

Logo veio a notificação da resposta dele, que me deixou sem chão:

– Tem razão. Só está errada em dizer que não é inteligente. Você é a garota mais inteligente que já vi. Lembro daquele dia que meu pai passou mal e você e seus pais vieram nos ajudar prontamente. Aquele dia, mesmo criança, você disse que ele tinha apendicite só de vê-lo com dor na barriga, e acertou em cheio. Já pensou em ser médica?

Como responder a isso? Ele me via como uma garota inteligente, por causa de um chute? 

Lembrei do dia que aquilo aconteceu. Eu tinha 9 anos. O pai dele caiu no quintal, e eu logo vi. Chamei meus pais para ajudá-lo, e fomos os três até lá. O pai do Bernardo se contorcia com a mão na barriga, suando frio. Eu já tinha visto aquilo antes, aconteceu o mesmo com um tio meu, então logo pensei que fosse o mesmo. Como quem não quer nada, disse que poderia ser apendicite, morrendo de vergonha do Bernardo ouvir. Mas até então não imaginei que alguém tinha reparado, já que todos estavam preocupados com o pai dele. Mas, parece que o Bernardo ouviu. 

Fechei meus olhos. Meu peito aqueceu ao saber daquilo. Ele prestou atenção em mim alguma vez na vida, só que eu não era tudo aquilo que ele tava imaginando. Eu não era mesmo tão inteligente, só dei sorte aquele dia. Tinha que responder e mostrá-lo que eu só era uma garota normal:

– Aquilo foi pura sorte... Eu só achei que fosse porque já tinha visto um tio meu do mesmo jeito. 

Ele rapidamente respondeu:

– Mesmo assim, graças a você o médico soube que era isso, e logo fizeram a cirurgia. Por isso quis falar com você aquele dia, sei que só você vai entender...

O que ele estava querendo dizer com aquilo? O que eu tinha de tão especial que só eu iria entendê-lo? As peças do quebra-cabeça estavam começando a se encaixar. Decidi deixar um pouco de lado a ideia de tirar o Bernardo da cabeça, e coloquei meus esforços em ajudá-lo. Agora era uma meta: descobrir o que o estava incomodando, a todo custo. E pra isso, eu teria que mostrá-lo que eu sou alguém que ele pode confiar. 

Como esquecer um garoto em 7 diasOnde histórias criam vida. Descubra agora