Sexto dia: Procurar ajuda

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Ninguém é completamente sozinho no mundo. Todos nós temos pelo menos uma pessoa que sabemos que podemos contar pra tudo. Pode ser uma mãe, uma irmã, uma melhor amiga... E mesmo se você não tiver realmente ninguém, a tecnologia também ajuda nisso. Falar com alguém e pedir conselhos é uma forma de ter uma segunda opinião sobre determinada situação. 

Então, esse próximo passo é de grande importância para o sucesso do plano. Vamos a ele:

Passo 7: Procure ajuda

Pedir ajuda não é vergonhoso. Às vezes estamos com a cabeça tão cheia que não conseguimos chegar a uma solução, então pedir ajuda de alguém confiável é necessário. Um amigo vê como as coisas estão acontecendo por fora, e muitas vezes enxergam coisas que não conseguimos. Então, pedir conselhos é super válido.

Eu só tinha uma pessoa que poderia me ajudar nesse quesito: Mariane. Ela conhecia tanto eu quanto o Bernardo, e sabia do meu interesse por ele por todos esses anos. Mesmo me achando doida, ela não me julgava, e sempre que me via morrendo de amores por ele, era ela quem me amparava. 

Liguei para ela depois da caminhada e contei que estava tentando esquecer o Bernardo. Ela respondeu com uma gargalhada:

–  Sei... Amiga, não acho que isso seja possível. – Ela disse. – Faz 10 anos! Por que isso agora?

– Eu só cansei! Isso não vai dar em nada, Mari. Eu agora entendo que nosso destino não é ficarmos juntos, e decidi tirar ele da cabeça de vez.

– Sei não, hein... E o que quer que eu faça?

– Sei lá, só me ajuda! Me diz, o que eu posso fazer pra conseguir esquecer ele?

– Ai, Julia... Não acho que você vai esquecer ele de um dia pro outro. Mas, se fosse eu, a primeira coisa que tentaria seria ir numa festa e ficar com outro cara. Não é o que dizem, nada que um novo amor para curar o outro?

Percebi que estava no caminho certo quando Mari disse isso, o passo do dia anterior. Sim, talvez fosse a solução. Decidi ir a uma festa com ela.

Mariane arrumou a primeira festa que viu. Nos arrumamos na minha casa e partimos para lá. Eu não me lembro da última festa que tinha ido. Na verdade, eu nem gostava de festas, a não ser as de aniversário. Pensei se estava fazendo a coisa certa mesmo... eu nem sabia dançar. Imagina o mico que poderia pagar?

Dei meia volta. Mariane fez cara de quem não entendeu nada:

–  Hey, Julia! O que foi? Vai amarelar agora? – Ela perguntou.

–  Esquece isso! Foi uma péssima ideia!

–  Deixa de ser frouxa! Não quer esquecer o Bê? Então, lá com certeza vai ter caras mais bonitos que ele.

–  Eu também não tô tão desesperada assim! Não dá pra esquecer ele dentro de casa? Sei lá, me apaixonando por algum carinha da internet? Até por um ator de cinema eu tô aceitando.

–  Deixa de ser besta, Julia! Você precisa beijar alguém de verdade! Contato físico!

–  O QUÊ? Be-beijar? Não, fora de questão! Não vou trocar salivas com nenhum estranho. Eu só quero parar de pensar naquele garoto, mas não achei minha boca no lixo!

–  AAAH, tem razão! Essa ideia foi idiota. Fica em casa, Julia! Amanhã na escola a gente arruma alguém de lá pra você. Um cara da balada não vai dar certo contigo...

Então, no sexto dia eu fui à escola pronta para procurar um alvo. 

Lembrei do Alberto, mas ele já estava namorando.

Lembrei do Vitinho, mas... o Vitinho me confessou que jogava vôlei para ficar mais perto dos caras, se é que me entende... ele gostava da mesma fruta que eu!

Lembrei do Gabriel. Gabriel era uma ótima opção. Contei a Mariane sobre ele:

– Gabriel gosta de outra garota, chamada Evelyn, faz muito tempo. –  Ela disse. – Parece até você. Ele pode ser uma opção. 

–  Então, como faço para tentar algo com ele? Eu só chego e pergunto se ele quer conversar?

– Amiga, se todo esse tempo você mal foi capaz de dar um 'oi' para o Bernardo, o que te faz pensar que com outro cara você conseguiria tomar uma atitude como essa?

–  Porque ele não é o Bernardo!

–  Nossa, vai ser mais difícil do que pensei. Fica aqui. Eu vou até lá te dar um empurrão.

Mariane foi até o garoto, falou algumas coisas e me chamou em seguida. Depois, ela nos deixou sozinhos. Gabriel começou a falar:

– Tudo bem?

Eu tentei muito ouvir o que o garoto tinha a dizer, mas minha atenção foi roubada totalmente quando Bernardo passou com um semblante bem depressivo ali perto. Meus olhos fixaram nele ao ponto de que eu quase não conseguia disfarçar. Minha expressão de preocupação era nítida. Algumas vezes ele percebia, e dessa vez eu não tive vergonha nenhuma. Eu queria que ele soubesse que eu estava preocupada. 

Então, ele olhou de volta e sorriu, com certeza era para disfarçar. Pedi desculpas para o Gabriel, então chamei Mariane para discutir sobre:

– Mari, tem algo de errado.

– O que você tá fazendo? Deixou o Gabriel de lado?

–  Esquece o Gabriel. Eu tô falando de uma coisa mais importante agora.

– Ah, claro que está! O que foi?

– Não acha que o Bernardo tá esquisito ultimamente?

– Não acho não. O que você tá vendo de estranho nele?

– Sei lá... ele tá mais afastado dos amigos, e parece tão cabisbaixo.

– Ah, ele sempre foi assim, Julia!

– Assim como? Triste?

– Bom, triste não. Mas ele sempre foi um cara discreto, de poucos amigos. Achei que soubesse disso.

– Discreto? Ele não é o mais popular da escola?

– O quê? Hahaha claro que não, boba! O Jean é muito mais popular! O Bê é gente boa, e bonitinho, mas só você vê ele assim, como um garanhão. Ele é um garoto normal.

– Mas, e todas aquelas garotas que ficam em cima dele?

– Ele só teve duas namoradas. E apesar de elas serem bonitinhas, não tinham nada demais. Eu sempre te disse isso, você sempre endeusou todos eles!

Fiquei chocada. Ela estava falando sério? Será que... eu imaginei tudo aquilo, dele ser rodeado de amigos, e pegador?

Assim, descobri que nossa imaginação é capaz de tudo, até de nos enganar com uma mentira tão profunda que se torna uma verdade na nossa mente. Eu tinha criado um Bernardo que não existia! Tudo isso como desculpa idiota pra não chegar nele. Do que eu tinha medo? E se na verdade ele pudesse ser um bom amigo, e eu desperdicei longos 10 anos com uma bobagem de amor platônico só porque não confiava em mim mesma? Como fui estúpida!

Eu precisava ver isso com meus próprios olhos. Então, deixei tudo o que me prendia de lado e fui até ele, ali mesmo. Que se dane os tutoriais, que se dane se vou esquecê-lo ou não. Eu iria descobrir quem é o verdadeiro Bernardo e aí sim ia decidir se iria esquecê-lo. 

Como esquecer um garoto em 7 diasOnde histórias criam vida. Descubra agora