MARIANA COBRE O CORPO da amiga com o tapete enquanto enxuga as lágrimas que molham o chão. Davi ajuda José a limpar o sangue que cobre a maior parte do seu corpo e tenta fazer alguma coisa para melhorar seus ferimentos. O céu vermelho lá fora começa a escurecer e se tornar um azul escuro informando que a noite paira sobre a cabeça deles agora e uma forte chuva começa a cair com a intenção de apagar todos os vestígios de fogo ou chorar em luto por Thaís e Katarina, não se sabe.
–Obrigado. – José sussurra com dificuldade enquanto Davi passa um pano encharcado com água na perna dele.
Ele responde apenas com um sorriso.
Não tem muito o que ser feito, eles não sabem como manusear as coisas medicinais que trouxeram da mansão. Thaís lidaria com essa situação com maestria. Limitam-se apenas a limpar o ferimento com água e sabão, enfaixar as áreas que podem sofrer infecções e ajudá-lo a tomar alguns comprimidos relaxantes.
–Ela saberia o que fazer... – José continua. –Nunca vou esquecer o que ela fez por mim quando eu fui baleado. – a voz dele é incompreensível e as palavras saem arrastada. Seus olhos ainda estão inchados e fechados e seu rosto parece mais desfigurado agora que está limpo.
–Você a ajudou primeiro, lembra? – Davi responde. –Tenta ficar quieto agora, para eu terminar de te limpar.
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Me esforço para carregar sozinho o corpo de Katarina para o lado de fora depois que a chuva para de lavar a terra. Mariana me acompanha para fora da cabana segurando uma tocha para iluminar o caminho, ao redor a paisagem que era deslumbrante quando chegamos agora está deplorável e destruída. Sem folhas, sem grama, sem troncos saudáveis e sem nenhuma fruta intacta. Ele deixa o corpo empacotado embaixo do que sobrou de uma árvore não tão distante da cabana e volta para fazer companhia a Mariana que espera um pouco atrás. Ela está com frio mesmo com a presença do fogo e treme um pouco, Davi coloca seu braço direito em volta da nuca dela, abraçando-a.
–Eu deveria ter desconfiado. – ela diz.
–Não se cobra tanto. Ela era a única pessoa que estava com você desde o início, estamos frágeis aqui dentro... não tinha o que ser feito! – ele tenta consolá-la.
–Ela poderia ter me matado! Passamos muito tempo juntas, sozinhas, dormíamos no mesmo quarto...
–Ela se aliou a pessoa mais forte. – Davi sorri para Mariana e ela pensa sobre o que foi dito. –Se acontecesse alguma coisa com você ia cair sobre ela.
–Eu sinto muito por Thaís!
Davi não responde. Talvez não tenha o que ser dito, pela primeira vez o silêncio não é um invasor.
–Como vamos prosseguir?! – ele pergunta.
–Davi, eu estou tão cansada disso tudo. – ela volta a chorar baixinho e ele abraça todo o corpo dela tomando cuidado com a tocha. –Eu sinto saudade da minha vida lá fora e da minha família. Sinto falta de estar segura, de não ter medo o tempo todo e de não precisar arrancar sangue das pessoas ao meu redor... eu não aguento mais isso. – ela chora cada vez mais e ele, como sempre, não sabe o que dizer e continua ali, guardando-a sobre seu peito.
¨¨
Não conseguem dormir, nenhum dos três. Seus horários estão desconfigurados novamente e fechar os olhos é sinônimo de viver um pesadelo. José passa a maior parte do tempo gemendo de dor enquanto Mariana e Davi se consolam deitados na mesma cama. Ele chora pela amiga morta, lamenta e quase se mutila por causa disso. Ela pensa no quanto foi enganada, no quão morta poderia estar agora e no quanto foi burra em confiar numa pessoa que nem conhecia direito. A madrugada não é nada fácil para nenhum dos sobreviventes.
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Apreciados A Ascendência do Traidor [CONCLUÍDO]
Mistero / ThrillerMorrer não é uma alternativa. Em um futuro distópico seis pessoas completamente distintas e desconhecidas acordam confinadas dentro de uma mansão bizarra. Sem saber o que fazer ou como chegaram ali elas seguem a ordem que aparece em uma televisão no...