Las Vegas

Point 22: Arcanjo Gabriel.

Na manhã de sábado eu acordei com a cama vazia.

Abri os olhos e a primeira coisa que vi no quarto escuro foi uma pelúcia no lugar onde Richard havia dormido.

"Volto antes do almoço. Te quiero. RC".

Li o bilhete junto ao Yoshi, a letra rápida e a simples frase aquecendo meu coração. Senti o cheiro do perfume dele no papel e na pelúcia. Sorri, pegando Yoshi e me levantando.

Meu celular indicava ser nove da manhã, e enquanto me arrumava eu aproveitei para ligar para minha mãe.

— Oi mãe.

— Bom dia, meu amor.

— Bom dia. Te acordei?

Eu sabia que Miami estava três horas a frente de Seattle, mas não sabia que horário minha mãe costumava acordar. Já fazia sete anos que eu não morava mais com ela.

— Não, já levantei. Seu pai decidiu reformar o porão, não sei se seu irmão falou. Impossível dormir com aquela furadeira.

— Quem diria que o senhor Harrison finalmente faria uma reforma na casa.

Meu pai sempre foi uma pessoa que detesta mudanças no geral, por isso sempre morou na mesma casa desde que casou e as únicas mudanças que fez foi pintar os quartos meu e de Gabriel quando cada um nasceu.

Mesmo não morando mais lá meu quarto continuava intacto, já que apesar da minha mãe dizer que tinha ótimos planos para ele — como uma sala para seu pilates — ele negava. Gabriel até podia ser o mais velho, mas atualmente ainda morava com nossos pais. Ele sempre foi uma confusão de idas e vindas, e sem duvidas o fato de seu quarto sempre continuar lá o confortava. Ele tinha para onde volta quando precisasse.

— Ele decidiu que precisa de um espaço para ele — disse com uma voz que me fez rir. Eu podia visualiza-la revirando os olhos.

— Bom, a senhora monopolizou o único cômodo da casa que era livre.

— Ninguém nunca usou aquele escritório.

Porque no final de tudo minha mãe conseguiu sua sala de pilates.

— Como estão as coisas por ai querida? Seu irmão e Clarissa chegaram bem?

— Chegaram. A senhora sabia que eles estão namorando?

— Sim! Não é ótimo?

— Mãe!

— Ai filha, eu sei que você não gosta que ele namore suas amigas, mas eu acredito que dessa vez ele realmente toma jeito.

— A senhora acha isso toda vez.

— Mas agora é sério. — Ela suspirou. — Seu irmão é difícil de lidar, e todas as garotas que namorou não entendiam isso. Mas Clary entende. Ela o conhece há anos e sabe lidar com ele.

— O saber lidar da Clary é na base do grito, mãe. Quando o Gabbe começar com as gracinhas dele, ela não vai aceitar desaforo.

— Exatamente. Seu irmão precisa de uma mulher que o coloque no lugar. Confio que Clarissa é a ideal. Além disso, ela é uma ótima menina.

Respirei fundo, sabendo que eu era a única ali que não apoiava aquilo. Eu conhecia os dois bem de mais, já tinha acompanhado todos os relacionamentos deles, e sabia que uma hora as coisas iriam pegar fogo.

Se eles brigassem ou até transassem na minha casa eu iria jogar água nos dois. Dividi parede com Gabriel por dezessete anos, e com Clary por cinco anos, já tinha ouvido demais deles transando por cinco vidas para ouvir eles transando juntos.