três.

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Passei à frente Doyong segurando alguns potes de ramyeon e um suco. O garoto sorriu, logo se inclinando.

-Como andam as coisas MiSuk?

-O mesmo de sempre. Trabalhando arduamente. -respondi, colocando os produtos na esteira-. E você, como está?

-Eu vou para o exército mês que vem.

-Nossa.-disse surpreendida-. Você acabou de terminar a faculdade.

-Eu preciso de um tempo pra relaxar.-respondeu passando as mãos pelos cabelos negros-. Não que vá ser fácil. É que a faculdade é tão estressante, e também preferia ir antes de arrumar um emprego.

-Você já pensou em ser modelo?-perguntei, eu estava literalmente desesperada-. Quer dizer, você daria bem nesse ramo. Estou precisando de alguém pra posar pra revista.

-Eu? Nunca.- ele riu-. Convenhamos que eu não levo jeito pra isso.- começou a passar os produtos-. Aliás, acho que TaeYong serviria muito bem pra isso.

-Já tentei.-revirei os olhos me apoiando sobre uma das minhas mãos-. Ele não quer.

-Deve ser por causa da mãe dele.

-O que tem a mãe dele?- perguntei me aproximando-.

-Ela não anda bem, está no hospital.-ele soltou o ar, claramente triste por TaeYong-. TaeYong tem aproveitado todo o tempo que pode para ficar com ela. Tanto que ele voltou a trabalhar em Yeongdeungpo pra poder pagar um tratamento.

-Céus.-exclamei, chocada-.

-Eu não pude o ajudar em questão de dinheiro mas algumas noites eu passei por lá quando TaeYong tinha que fazer horas extras.

-Tome.-olhei no visor a quantia e recolhi as compras colocando na sacola-. Pode ficar com o troco, nos vemos depois. - eu saí apressada mas lembrei de que não tinha informações suficientes para poder ir visitar a Sra. Lee-. Doyong, você pode me mandar as informações sobre a Sra. Lee por mensagem? Estou indo pra lá agora.

-Tudo bem. Nos vemos depois.

Eu me sentia culpada, não sei porque. Era como se eu precisasse ajudar, TaeYong. Não como se isso fosse desculpa para vê-lo, mas eu gostaria que alguém me ajudasse numa situação como essa.

Cheguei ao hospital e chequei o horário, já ia dar oito horas. Eu estava nervosa, não sabia a reação que teria TaeYong ao me ver. Talvez me mandasse

embora, mas eu esperava que fizesse o contrário. Passei pela recepção com meus documentos e fui indicada ao quarto no sexto andar.

Parei em frente ao quarto pensando se realmente devia fazer isso. Eu já tinha visto a mãe de TaeYong de longe, na verdade não tinha passado muito tempo com ela. Dei algumas batidas na porta e respirei fundo antes de entrar. Encontrei a Sra. Lee sentada a cama olhando para um vaso de flores que ficava perto da porta. Se assustou com a minha presença repentina e então resolvi cortar o silêncio.

-Boa noite.- me curvei-. Sou Jung MiSuk.-disse após ver seu semblante confuso-. Sou amiga de TaeYong e Doyong.

-Amiga? TaeYong nunca comentou sobre nenhuma amiga. -respondeu desconfiada-. Meu filho na verdade não é de comentar muito sobre meninas.

-Eu o conheço.-disse desapontada-. TaeYong é como um cofre. Ele mantém todos seus pensamentos pra si.

-Você parece o conhecer bem.- disse sorrindo de leve mostrando leves rugas nos olhos-.

Ela foi interrompida por uma sequência de tosses e se deitou um pouco. Me aproximei rapidamente e ofereci um copo d'água que estava em cima da mesa.

-Me desculpa querida, estou exausta.-ela disse baixo-.

-Não tem problema, a Sra. devia descansar. Devemos conversar mais quando melhorar.-eu sorri enquanto acomodava o lençol em cima do seu corpo-. Vou ficar aqui caso precise de algo.

Eu acho que não conseguiria ser como ela, mesmo estando doente. Não confiaria numa pessoa desconhecida, mas agradeço mentalmente por ela não se incomodar.
Sentei na poltrona e me assustei quando a enfermeira entrou no quarto.

-Que bom que está aqui.-disse ela, espontaneamente-. Você é a filha da Sra. Lee?

-Sou amiga. -respondi-.

-Tudo bem. Preciso que assine aqui, como acompanhante, que está ciente que ela será transferida para um hospital público em Bucheon. -disse me estendendo a prancheta com um papel-.

-Transferida? Porque?- perguntei lendo o papel na minha mão. Ela estava sendo despejada por débito de pagamento. Era como se eu tivesse sido atingida em cheio.-. Porque em Bucheon? Não tem nenhum mais próximo?

-Na verdade, o único hospital público que consegue tratar fica em Bucheon, o mais perto no caso.

Passei as mãos no rosto só de pensar que TaeYong teria que deixar Yeouido todos os dias para vir visitar a Sra.Lee. Um hospital público também não tinha o mesmo compromisso com os pacientes como um hospital particular. Eu estava extremamente agoniada.

-Leve esse papel de volta e eu passo no setor financeiro quando estiver de saída.

-Tudo bem. -respondeu-. Só peço que seja breve pra poder garantir a reserva do quarto.

Eu assenti e me sentei novamente na poltrona enquanto a enfermeira deixava o quarto. Notei que no papel ao lado da cama todas as especificações estavam escritas. Tuberculose ganglionar. Era mais sério do que eu pensava.

Já era dez horas quando a enfermeira passou novamente pra dar alguns medicamentos. A Sra. Lee estava dormindo desde que cheguei e então aproveitei para ir acertar as contas no financeiro. Pedi para que a enfermeira ficasse por lá enquanto eu ia até lá. Esperei o elevador até que abrisse e então aguardei as pessoas saírem. Senti um perfume característico e então tirei os olhos do meu celular. TaeYong parou à minha frente e me analisou por somente um segundo, até tomar seu caminho de volta. Me deixou plantada na frente do elevador. Nem pra perguntar o que estava fazendo lá, ou qualquer coisa do tipo. Ele estava levando essa coisa de me ignorar bem à sério. Resolvi que falaria com ele ao voltar para o quarto.

Cheguei à recepção e aguardei poucos minutos até me encontrar com a diretora do setor financeiro. Cinquenta mil wons por dia. Era muita coisa. Passei o cartão pra pagar diretamente o mês que começava e os cinco dias que TaeYong não tinha pagado. Não sabia quantos dias ao certo seriam necessários mas tive certeza que caso não precisasse de reserva, meu dinheiro seria ressarcido. Deixei a sala enquanto guardava minha carteira até ser puxada bruscamente até sair do hospital. Não consegui nem fechar a bolsa quando TaeYong me arrastou até a saída. Olhei ao redor notando alguns olhares sobre nós, principalmente dos funcionários. De repente senti o vento frio daquela noite me atingir em cheio. Olhei a mão grande de TaeYong em volta do meu braço e então ele soltou assim que atingimos um ponto mais longe do tumulto.

-O que pensa que está fazendo, TaeYong?

-O que você pensa que está fazendo?-disse alto e claro-. MiSuk, você não precisa fazer essas coisas. Não quero que faça.

Seus olhos pretos me puxavam pra cair no infinito, eram grandes orbitas pretas que condicionavam ao mais profundo que eu conseguia ir. Seu corpo falava muito mais do que ele deixava sair. E eu adorava ouvir cada expressão sua.

the 7th sense » lee taeyongOnde histórias criam vida. Descubra agora