dois.

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Merda. Eu estava atrasada. Pela primeira vez em semanas eu havia dormido o suficiente. Saí correndo de casa esbarrando em todos os milhares de executivos que andavam pelas ruas movimentadas. Droga, eu ainda tinha que pegar o metrô. Era fato, eu tinha que tirar mais meu carro da garagem caso eu voltasse a ter minhas noites de sono completas. Não vou negar que andar de metrô era bom quando eu não estava atrasada. Esbarrei em algumas pessoas até chegar na faixa de pedestre. Esgueirei por entre elas, andavam tão devagar que pareciam estar paradas. Olhei para minha pasta que continha todas as minhas ideias para a readaptação da revista. Eu estava animada. Quando voltei a olhar para frente apenas senti um baque enorme me fazendo quase cair no chão. Pronta para encarar a pessoa que quase passou por cima de mim com furor, meus olhos encontraram novamente com o que eu menos esperava ver. Eu sorri fraco para TaeYong que desviou o seu olhar o mais rápido possível e sumiu na multidão. Eu só queria saber o que TaeYong fazia em Yeouido. Com o fluxo, fui obrigada a continuar meu caminho. Seria um dia bem longo.

-Como assim sem verba?- perguntei indignada-.

-Você sabe que na última edição, nós gastamos milhões com quem a gente contratou.- respondeu HanGil, meu supervisor-.

-Eu disse que era uma na idéia.-disse KangDae, o diretor de marketing-.

-Você que veio com a ideia de contratar o grupo mais famoso da Coréia.-respondi, irritada com tamanha hipocrisia-.

-Foi um palpite, vocês que aceitaram.

Rolei os olhos quase desistindo daquela reunião. Minho era insuportável maior parte do tempo.

-Eu gostei da proposta da MiSuk.-acrescentou YuBin-. Mas não podemos contratar três pessoas, aliás até os atores menos destacados cobram mais do que nós calculamos.

-Tudo bem. Então o que vamos fazer?-perguntei-. Não é possível que não tem ninguém que se encaixe nesse perfil da nova linha. Como vamos dizer pro designer que não temos dinheiro pra contratar um modelo pra divulgar a marca dele?

-Podemos tentar convencer algum artista, sei lá, dar algo em troca, tipo propaganda grátis.- KangDae disse-.

-Porque mesmo que o Sr. Park KangDae participa das reuniões mesmo?- perguntei para YuBin, e ela riu-.

-Precisa ser um famoso?- perguntou ShinHye, fiquei até surpresa por ouvir a voz dela pela primeira vez no mês-.

-Nãs estamos podendo nos dar muitos luxos, mas acho que não faria mal ser alguém que de fato parecesse um modelo.

Alguém que parecesse modelo. Visual. A primeira coisa que eu pensava era em TaeYong. Ele de fato parecia ter saído de um anime, seus traços eram fortes e fazendo qualquer coisa dava muito bem como uma foto conceito.

-Eu conheço alguém.-disse sem pensar duas vezes-.

-Conhece? - perguntou Sr.Park-. Achei que você nem saísse de casa MiSuk.
Claramente só ele riu, uma vez que todos já sabiam que meu ódio por Park KangDae estava acumulado e a qualquer hora eu podia explodir. O pior de tudo era que ele era mais velho, eu não podia desrespeita-lo. Infelizmente eu sempre liguei muito sobre o que as pessoas pensavam sobre mim.

-Continuando, preciso ver se a pessoa aceita a proposta.

-A revista vai ser lançada semana que vem. Seja breve MiSuk.-disse HanGil-. Se conseguir salvar essa edição e não perdermos o cliente, podemos conversar sobre o que você havia me pedido.

A promoção. Dessa vez eu estaria mais um passo próximo do meu tão esperado sonho de ser produtora executiva da revista. Teria que lidar com muito menos complicações, além de ser o que eu sempre quis alcançar. Todos deixaram  a sala aos poucos e eu decidi que queria passar mais um tempo na rua.

Decidi jantar num restaurante de comida chinesa, o lugar não era muito movimentado, o que me ajudaria muito a pensar como pediria para TaeYong ser modelo por um dia. Pedi uma mesa e logo fui encaminhada para a mesa do canto, próxima a janela. Tinha uma ótima vista das pessoas caminhando na rua, todas como eu, trabalhando horas e horas a fio. Mas isso podia ser uma meta da vida né? Talvez eu levasse a sério de mais por minha educação ter sido baseada nisso. Meus pais nunca foram ricos, e por isso desejavam que tudo que eles não pudessem me dar um dia eu pudesse ter. Com sorte eu consegui entrar numa boa universidade e cá estou eu, trabalhando para uma revista quase falida. Assim que me acomodei, peguei meu celular e mandei uma mensagem para TaeYong.
Assim que puder me ligue, preciso conversar com você. É sobre trabalho.

Caso tenha apagado meu número, sou eu, MiSuk. Por favor não ignore.
Levei as mãos no rosto já imaginando que ele me ignoraria. Eu merecia, não?

flashback.
Ele estava sentado na minha frente e eu não conseguia olhar diretamente pra ele.

-MiSuk, está tudo bem?-perguntou pousando sua mão sobre a minha-.

-TaeYong, acho que não devíamos nos ver mais.

-Do que está falando?-vi ele abrir um sorriso-.

-Eu tenho que focar no trabalho, meu rendimento está caindo logo agora no final do mestrado.

Ele silenciou. Enquanto isso eu rezava pra que minha vontade de chorar cessasse. Lembrava das palavras ditas pelo pessoal da revista, afinal eu que promovia a revista mais vendida no país em todas as palestras e realmente as perguntas eram cruéis. A promotoria de imagem me impedia de fazer certas coisas, ter uma imagem na Coréia era essencial.

-Meus planos do trabalho andam sufocando meus horários.

-Você está falando sério, Jung MiSuk? - ele me encarou já parecendo furioso-.

Apenas assenti com a cabeça observando seus cabelos tingidos de branco. Seus olhos fitavam os meus procurando alguma resposta, ou algo mais que eu tivesse a dizer. Seu maxilar travado e punhos cerrados em cima da mesa mostravam o quão furioso TaeYong estava. Eu apenas sentia muito.

-Então eu estou ocupando seu tempo.

-Não..- ia responder até ser interrompida-.

-Não precisa se justificar. Gostaria que tivesse me dito antes, não perderia meu tempo.

Ele se levantou abruptamente me deixando sozinha no restaurante.

the 7th sense » lee taeyongOnde histórias criam vida. Descubra agora