uma pseudo carta de amor ao que restou

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carta aberta a mim e a você
serei sincera entre lágrimas e
sensações estranhas que cercam
meus pensamentos ao anoitecer

ao mesmo tempo em que Fernando Pessoa
lamenta muito a minha escrita
que nada finge, apenas explícita
tudo o que está dentro do meu ser.

querido mocinho,

em nenhum momento eu te culpo
dentro do meu coração
quando eu sei e sempre soube
que não devemos esperar nada dos outros, nem mesmo do vilão.

na intenção de evitar decepções
espero o pior ou o minimo
de todos os habitantes
deste pequeno planeta chamado Terra

espero pouco de todos,
inclusive de mim
não sei como ousei esperar algo diferente de ti

acho que foi a confiança nas
mensagens bonitinhas e
no que sempre chamamos de sintonia.
ou apenas na sinceridade que aparentava ter.

com estes escritos não quero te machucar
quero apenas poder me expressar
livremente e sem medo de errar.
estou cansada de cada palavra moldar.

eu sei que errei
por esperar demais
eu sei que errei
por pensar demais

e por acreditar por um momento
em todas as palavras que me eram ditas
e que facilmente se apagaram com a bebida
enquanto para o corpo de outra pessoa corria.

não precisa me dizer novamente
o inexistente significado das ações
que se repetiram mais de uma vez
porque...

se não significasse nada
por qual motivo faria? e o repetiria
uma ou outra vez

qual a graça em me contar e me fazer contar
coisas da própria vida
e depois despedaçar
e jogar para o ar

uma e outra vez.

eu errei em esperar demais
mesmo sabendo que não devia
eu errei em me agarrar
na possibilidade de ser diferente ao menos um dia.

o quão tola eu fui por não enxergar
o enredo de filmes adolescentes se desenhar
bem na minha frente.

o quão tola eu fui
por enxergar sim,
mas assistir errado
cada cena lado a lado.

eu nunca fui a personagem principal.
eu sou a amiga que espera o mocinho
chegar em casa após uma noite repleta de corrida
em direção a corpos bonitos e aleatórios

para se sentir melhor.
porque sua amiga não é suficiente
mesmo quando ele sabe que gosta dela
e ela sabe que não basta para ele.

o mocinho geralmente evita a solidão
de uma vida
enquanto a da amiga
é inteira só
por não o ter completamente.

e então ele, e você, volta
como se não significasse nada
porque sua amiga está lá
esperando você retornar

logo após jogar no lixo tudo o que construíram,
por um momento não significativo?

mas como amiga nós compreendemos
e começamos tudo de novo
juntando os nossos pedaços e o de vocês
como um brinquedo de Lego

passamos por cima de nós mesmas
e no filme não aparece as inúmeras noites
em que ficamos acordadas
chorando por não significarmos nada

não me diga que estou errada
não me diga que não é bem assim
quando ambos sabemos que
é sim

e então o mocinho aparece outra vez
geralmente no final
e percebe o quão incapaz ele foi
de ser decente o suficiente
para alguém que fez tudo para ele
poder viver contente

um dia ele acorda sozinho
sem aleatoriedade
sem carinho
sem caminho
e percebe enfim
os erros cometidos do início ao fim

então anote bem,
para não repetir:

da próxima vez
que se apaixonar por alguém
seja sincero
pare de brincar

deixe os brinquedos para as crianças
seja adulto e se responsabilize
pelos sentimentos que você deixa criar
pelos atos que você teima em justificar

não diga que sempre me amou
porque se amasse
isso não teria existido

não diga que sempre a amou
porque ela sempre soube
tudo o que passou

e ela está cansada de fechar a janela
antes do fim e de ouvir que não é bem assim.

As almas que tenhoOnde histórias criam vida. Descubra agora