01. Sexta é o pior dia da semana

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Lisa - Oi sumida, aqui é sua irmã preferida, se é que você se lembra que ainda tem uma. Tô te mandando mais uma mensagem pra garantir que você não esqueça da minha festa amanhã. É naquela boate perto do meu apê, 20h em ponto. Vê se não esquece, estranha!

Não eram nem 7h da manhã quando meu celular notificou mais uma das 32 mensagens da Lisa me lembrando da festa de aniversário dela. 

Minha irmã mais nova - e a única que eu tenho - sabe ser dramática. Deve ser coisa de família, minha mãe é do mesmo jeito. A diferença é que a Lisa não me convence com a conversinha dela, ou pelo menos eu a faço pensar que não.

A gente é bastante unida e, com certeza, ela é minha melhor amiga. Acho que por causa da pouca diferença de idade, apesar da diferença enorme de personalidade. Enquanto a Lisa é uma força da natureza desde pequena, eu sou somente uma brisa leve, daquelas que nem refrescam no calor.

Lisa – Eu vi que você visualizou minhas mensagens. Não tem como fugir de mim Marília! Prometo que vai se divertir amanhã. Qual é?! Não é todo dia que eu faço 23 anos.

Marília – Até porque a gente só faz aniversário uma vez por ano, a não ser que você tenha descoberto uma maneira de voltar no tempo.

Lisa – Até que enfim criatura! Já que a florzinha acordou, que tal café naquela padaria perto do seu trabalho? A gente aproveita pra combinar direitinho. Te encontro às 8h.

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Marília Maria Lima Gárcia, ou Mamá, como minha família e amigos me chamam. Aos 24 anos, estou trabalhando numa das melhores revistas de economia do país, o que pra mim não é uma realização de um sonho, mas paga as contas. O trabalho é um pouco puxado? Sim. Tenho pouco tempo pra viver? Sim. Me importo com isso? Não. Talvez um pouco.

- Vamos lá, Marília, mais um dia à frente. Pelo menos amanhã você tá de folga. - Falei sozinha. Juro que não sou louca. É só uma mania que tenho desde pequena.

Me levantei e tomei um banho gelado, pra despertar logo. Fui dormir um pouco depois das 1h da manhã, terminando de finalizar um artigo que precisava mostrar hoje para Patrício, meu editor. 

Terminei de escovar os dentes e secar com muita paciência o cabelo, que já estava quase chegando à cintura, fazendo uma nota mental pra passar a tesoura o quanto antes. 

Coloquei a roupa mais confortável que achei: uma calça jeans, uma camisa levinha com um blazer preto por cima, e um pouco de maquiagem, pra não deixar tão claro o quão mal eu dormi. Coloquei meu scapin preto de todo dia – um dia esse sapato ainda vai sair andando sozinho – e sai já pensando no quanto minha irmã vai encher minha paciência sobre a festa.

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Avistei os fios dourados iguais os meus de longe. As pessoas costumavam pensar que éramos gêmeas quando crianças de tão parecidas. Ainda temos os mesmos cabelos loiros - sendo os da Lisa curtos na altura do pescoço - e os mesmos olhos cor de mar, como o papai costuma dizer, iguaizinhos os da mamãe.

Assim que me viu entrar, acenou pra mim com um sorriso de orelha a orelha e uma energia que não sei de onde ela tira a essa hora da manhã. 

A Lisa é design de jóias, e assim como as jóias que ela faz o seu jeito de se vestir faz parecer que saiu de uma floresta encantada, com seus vestidinhos em tons pastel e suas blusinhas floridas.

Fui ao encontro dela, demos um abraço apertado. Mal sentei e a metralhadora de perguntas começou.

– Mamá, que saudade! Não te vi a semana toda. Você trabalhou muito? Aquele teu chefe ta pegando muito pesado. Você teve alguma folga essa semana? Tá com uma cara de quem acordou pelo avesso. Dormiu bem essa noite? – perguntou em um fôlego só.

Te prometo uma noite (Em Pausa)Onde histórias criam vida. Descubra agora