02. Maldita depilação

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Acordei com a luz do sol entrando pela janela do meu quarto. A TV ainda estava ligada. Passei a noite toda assistindo Netflix e nem percebi quando peguei no sono. Pelo menos, dessa vez não apaguei toda tronxa no sofá.

Alcancei meu celular e verifiquei as horas. Já passavam das 10h. Me encaminhei para o banheiro enquanto checava minhas notificações. Algumas mensagens da Lisa e algumas da minha mãe, com fotos do Chico, o cachorro que eles adotaram quando se mudaram. "Nosso irmão mais novo", como neles falam.

Resolvi ligar para meus pais, como sempre faço nos finais de semana. Estava escovando os dentes quando dona Helena atendeu ao telefone.

– Oi filha, bom dia! – disse minha mãe com animação. – Espera um pouco que vou botar no viva-voz pra seu pai te ouvir.

– Oi mãe, oi pai. Como vocês estão? – falei com a boca cheia de espuma da pasta de dente.

– Marília, eu já te disse pra não falar enquanto escova os dentes, você pode se engasgar, querida. – reclamou minha mãe. Eu disse que ela era tão dramática quanto a Lisa.

– Helena, deixa a menina. – ouvi meu pai se aproximando do celular e rindo. – Não foi trabalhar hoje querida? – emendou.

– Não pai, estou de folga. Vocês vão poder vir no próximo final de semana? A Lisa quer fazer um jantar. – perguntei.

Faz uns dois meses que não nos vemos. Normalmente, eles vêm nos ver, por causa da nossa rotina agitada, exceto nos feriados, que fugimos para o interior, para curtir um pouco de paz, ar puro e comida de mãe.

– AI MEU DEUS, ARTHUR! – gritou minha mãe. – Será que vamos ter casamento? – ouço as risadas e latidos e já imagino os dois dando pulinhos de alegria, junto com o Chico, que faz festa por tudo.

Meus pais estão querendo casar o casal simpatia desde que decidiram morar juntos. Eu agradeço pela obsessão deles nos dois, assim esquecem que a filha mais velha está longe de desencalhar.

- Mãe, meu ouvido! – digo rindo. – Acho que ainda não é dessa vez. A gente só quer matar a saudade de vocês. – falo manhosa. Às vezes eu também sei ser dramática. Eu disse que era coisa de família.

Minha relação com meus pais é ótima e eu sei que poucas pessoas podem dizer isso. Eles sempre foram nossos maiores incentivadores e nos deram liberdade para ser quem queríamos. Meu pai era nosso cúmplice e sempre deixava a gente aprontar sem que minha mãe soubesse, mesmo eu achando que ela sempre sabia. Aquela mulher deve ter algum poder paranormal, tenho certeza.

Seguimos conversando por quase uma hora. Ouço a campainha tocar e aviso os meus pais. Nos despedimos enquanto estava me direcionando para abrir a porta.

– Entrega para Srta. Gárcia. – diz o jovem na minha porta.

Agradeço e pego a sacola que eu reconheço até de olhos fechados. Pego e cartão que veio amarrado numa das alças e leio.

Mamá, esse é o Marília. 

Fiz inspirada em você. Espero que goste.

Com amor, 

sua irmã preferida.

A Lisa sempre me manda sua peça favorita quando finaliza uma coleção, mas dessa vez ela se superou. Eu ainda estou emocionada com a homenagem que ela me fez e sigo boquiaberta enquanto abro a caixinha de veludo azul claro, que faz parte da identidade da sua marca.

É um colar duplo em ouro branco. A primeira correntinha tem algumas bolinhas pequenas por toda sua extensão, enquanto a segunda, um pouco mais comprida, possui um pequeno pingente de coração, com uma pedra na mesma cor dos nossos olhos.

Te prometo uma noite (Em Pausa)Onde histórias criam vida. Descubra agora