06. Bem vindo ao clube

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- Tudo bem. Eu te disse que ia me explicar, então vou te contar tudo.

O incômodo de falar sobre o assunto estava nítido no rosto dele, que agora mirava o chão.

Como prática da profissão, aprendi a ler pessoas. Consigo identificar quando alguém está sendo sincero ou não, ou se um assunto é delicado, como no caso.

Ele passou novamente uma das mãos sobre os cabelos. Acho que deve ser alguma mania dele, e aquele gesto me desconcertava, não sei porquê.

- Eu não sei se o Sérgio te falou... - continuou.

- Nem ele, nem a Lisa me falaram nada. - interrompi. - Eles disseram que era algo que você deveria contar.

Ele volta a me olhar, com um sorriso de agradecimento que, com certeza, era em resposta ao casal, mas depois volta a encarar nada em específico a sua frente.

- Uma moeda pelos seus pensamentos. - digo em tom amigável, para tentar diminuir a tensão que se instalou no momento.

Acho que funcionou. Ganhei mais um sorriso dele.

Talvez ele estivesse falando sério quando disse que me daria sorrisos a noite toda e eu, sinceramente, não vou reclamar.

- Eu estava noivo. - diz inclinando o corpo para ficar de frente a mim. - No dia do nosso encontro, fazia dois meses que a gente tinha terminado.

- Sinto muito. Eu não sabia. - digo tocando em sua mão, num gesto involuntário.

- Está tudo bem agora. - respondeu, olhando sorridente para minha mão sob a dele.

Aquele simples toque me causou arrepios. Eu não sei o que está acontecendo. Nunca me senti intimidada com a presença de alguém como me sinto com ele.

Pareço uma adolescente, corando por tudo e com borboletas no estômago.

- Então, o que aconteceu? - falo enquanto me separo do toque.

- Bem... ela me traiu. Na verdade, ela já vinha me traindo há um bom tempo, mas eu só descobri quando cheguei mais cedo do trabalho e ela estava bem confortável no nosso sofá com um amigo dela. - diz com um sorriso descrente e deboche na voz.

Eu não consigo dizer nada, chocada com o que ele acabou de me dizer.

- Naqueles meses eu não fui eu mesmo. - continuou, agora me olhando. - Aquilo acabou comigo. Eu estava bebendo muito... E como você testemunhou, não estava sendo muito simpático. - sorri envergonhado.

Concordo com a cabeça, pois não sabia como agir e nem o que falar sobre aquela situação.

- O Sérgio insistiu que eu deveria sair, conhecer pessoas, para tentar esquecer. - fala sorrindo, enquanto balança a cabeça. - Aquele era o terceiro encontro em um mês que ele me fazia ir.

- Bem vindo ao clube.

Nos olhamos com empatia. Eu sabia exatamente do que ele estava falando.

- Eu imaginei que eu não era a única vítima do casalzinho. - diz e eu concordo com um sorriso.

- Eu sinto muito pelo que passou. - digo enfim. - Eu não consigo nem imaginar o que você sentiu. - continuo. - Mas mesmo assim Dante, você poderia ter me explicado no momento. Eu teria entendido. Eu me lembro de tentar conversar com você e ser completamente ignorada. Você não sabe o quanto eu te xinguei mentalmente durante todo o jantar. Até hoje você ocupa o pódio de pior encontro e olhe que minha irmã me fez ter vários.

Inspiro fundo. Eu não costumo ser tão direta, mas precisava tirar aquilo do peito ou ia sufocar.

Dante continuou em silêncio, com aquela mesma expressão que havia me dado quando pedi a conta no jantar, o que parecia ser arrependimento.

Te prometo uma noite (Em Pausa)Onde histórias criam vida. Descubra agora