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Sakura

Abri os olhos. Não tinha dormido. Nem ficado acordada. Tinha me perdido num sonho que tinha há muito tempo. Um sonho no qual sou livre. Só eu. E mais ninguém.

Senti a pele de Sasuke tocar a minha, quando me mexi para me sentar. Ele era tão quente! Eu quase me sentia confortável daquele jeito.

Peguei meu roupão e vesti, amarrando-o bem forte para que não soltasse.

- Posso te fazer uma pergunta? – pediu ele, baixinho, ainda deitado.

Virei-me para ele só o suficiente para ver seu rosto. Ele estava sério, mas tranquilo.

- Claro.

- O que são essas cicatrizes? – perguntou ele, puxando a manga de meu roupão para cima e passando os dedos sobre as cicatrizes dos cortes em meus braços. Cicatrizes distantes, mas ainda vivas ali.

- Itachi... – Engasguei ao dizer o nome. Pigarreei. Comecei de novo. – Tem duas cobras grandes. Yani e Oiamy. Elas gostam de morder.

Sasuke franziu o cenho.

- Elas não fariam cortes ao morder.

Mordi o lábio inferior.

- Elas não mordem convencionalmente. Elas pregam os dentes e depois puxam, rasgando a pele – expliquei, sentindo um arrepio na coluna ao pensar na dor.

Sasuke ergueu as sobrancelhas, entendendo também a dor. Suas cobras apareceram, então. Uma delas mordeu o braço dele e puxou a pele, exatamente como eu tinha explicado.

- Assim? – perguntou ele.

Uma gota de sangue escorreu pelo braço de Sasuke e então o machucado se fechou, deixando só a marca vermelha do sangue na cama como lembrança.

- Você... O machucado se curou! – espantei-me. – Que jutsu é esse?

- Não é jutsu nenhum. Todo machucado que elas provocam em mim, é auto curável. Só isso.

- Interessante...

Sasuke abriu um meio sorriso, interessado.

- Você não sabia disso? Itachi também tem cobras.

- Ele nunca se machucou na minha frente.

Sasuke fez um "ah" silencioso com os lábios.

- Ele só machucava você... – constatou.

Fechei a cara. Não queria falar de Itachi. Não queria falar de mim. Em geral, queria evitar assuntos que me entristecessem e enfraquecessem. Eu já estava fraca e vulnerável o suficiente. Já tinha descoberto novidades demais. Já me sentia suficientemente sem ação para conversar sobre meus machucados. Físicos ou mentais.

Desci a manga do roupão e levantei da cama baixa, séria e quase profissional outra vez.

- Tenho que ir agora. Quero tomar um banho – decretei.

Sasuke fechou a cara também, entrando outra vez em seu personagem forte, poderoso e neutro. Levantou da cama e segurou a maçaneta.

- Eu te mostro o banheiro – disse e abriu a porta. E Naruto e Kakashi caíram dentro do quarto.

- Er... Hm... Não é nada disso do que vocês estão pensando – tentou explicar-se Naruto.

- É. Nada disso.

Sasuke prendeu uma risada.

- Me admira você, Kakashi, um ninja treinado não perceber que eu estava me aproximando.

Kakashi deu de ombros, se levantando do chão.

- Estava concentrado buscando informações – soltou ele. Depois percebeu o que falou e tentou se redimir. – Informações sobre a madeira dessa porta. É muito forte, sabia?

- É, e grossa – reclamou Naruto. – Só pra informar.

Prendi uma gargalhada. Sasuke segurou minha mão e me puxou, passando pelos dois curiosos, e me levou até uma portinha meio escondida, dentro da cozinha. O lugar era escuro e tinha uma banheira, uma pia e uma latrina. Só. Ah, e minhas toalhas. Três sendo usadas e a preta, minha predileta, seca e limpa. Esperando por mim.

- A água está sempre quente e em constante renovação na banheira. Eu desviei a fonte de uma piscina termal natural para cá, então não precisa se preocupar com nada.

- Não vou – tranquilizei-o.

Sasuke assentiu. Ele começou a sair do banheiro, mas parou na porta e se virou para mim. Ficou me olhando por cinco segundos antes de dizer:

- E... Me deixe saber...

- Se der certo – interrompi-o. – Pode deixar.

Então Sasuke se foi. Deixando-me sozinha. Tirei o roupão, deixando-o cair no chão, e entrei na banheira, sentindo a água deliciosamente quente me alcançar. Deitei-me na água, deixando-a lavar tudo. A culpa, o medo, a dor, o sofrimento. Deixei ficar só o prazer... E Sasuke. Ah como eu era boba! Achava que o tinha esquecido. Que o odiava. Tinha me convencido disso. Mas, é o que dizem: a pior mentira é aquela que contamos para nós mesmos.

Permiti que uma lágrima caísse. Só uma. Por tudo. Por tudo o que tinha passado, por mim, pela minha mãe, por meu pai, pela minha vida... E por Sasuke. Porque ele tinha me dado a chance de fugir daquele sofrimento. De Itachi. Do inferno.

Acariciei minha barriga, então, sentindo um calorzinho dentro dela. Sorri sozinha ao pensar que, em breve, alguém poderia estar vivendo ali dentro. Um menino ou uma menina. Meu filho. E de Sasuke.

- Se você já está aí dentro... – murmurei para minha barriga. – Saiba que eu vou fazer de tudo para te manter em segurança. Tudo mesmo.

Um mês depois

Sasuke

- E então, Sakura? – perguntei.

Ela continuou andando de um lado para o outro no quarto, sacudindo o tubinho na mão.

- Demora cinco minutos para dar o resultado, Sasuke – reclamou ela.

- Mas você já tá sacudindo isso aí há meia hora.

- Sério, você está me deixando nervosa!

Ela olhou o tubinho. Nada. Voltou a andar de um lado para o outro.

- E agora?

- Nada, Sasuke. – Ela revirou os olhos.

E voltou a ficar para lá e para cá. Até que parou e olhou o tubinho. E sorriu. Me entregou o objeto. Peguei-o, nervoso e analisei. Franzi o cenho.

- O que significa quando tem dois tracinhos? – perguntei.

Sakura sorriu, como não sorria desde que era pequena.

- Deu positivo. – Ela suspirou. – Eu estou grávida.

TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora