Um ano depois
Sakura
- Sasuke, pega a mamadeira da Akemi para mim? – pedi.
Akemi estava enorme. E a cada dia que passava ficava mais parecida com o pai. Era quieta, educada, inteligente, linda e poderosa. O sharingan dela já aparecia, e ela tinha menos de dois anos.
Sasuke entrou no quarto, segurando a mamadeira, e me entregou-a.
- Fique em casa hoje – pediu ele, mas sua voz tinha um tom de exigência.
- O que houve? – perguntei, já desesperada. – Me conta logo.
Sasuke puxou o ar com força.
- Os ninjas que fizeram a ronda de hoje já avisaram que viram ninjas forasteiros entrando na floresta sem autorização.
- E Naruto? – perguntei.
- Está vindo do Centro. Já avisou os ninjas, Kakashi, enfim... A guerra está começando.
Naruto agora estava no controle de Konoha. Ele e Kakashi trabalhavam em conjunto na organização e na política e Sasuke era o encarregado do controle dos ninjas e do treinamento daqueles que tinham poderes passados geneticamente.
Levantei do chão, onde estava brincando com Akemi, trazendo minha filha comigo, no colo, e abracei Sasuke. Sabia o que ia acontecer e sabia o que podia acabar acontecendo por causa das conseqüências. Não queria perder Sasuke, nem nenhum amigo meu. Queria viver em paz. Definitivamente.
Sasuke me beijou, beijou a testa de Akemi, e acariciou meus cabelos.
- Eu vou voltar, Sakura. Isso é uma promessa – proferiu ele.
- Vai voltar vivo! – exigi, já sentindo as lágrimas chegando. – E vitorioso.
Ele assentiu.
- Você já sabe o que fazer – disse e virou as costas. Antes de ir embora, parou na porta do quarto de nossa filha e se virou. – Eu te amo.
- Eu também te amo – respondi, entre as lágrimas.
- Ama papai – Akemi disse, com sua vozinha de neném, tão doce e suave.
- Eu também amo você, meu anjo – respondeu Sasuke, num sorriso. – Volto logo.
Sasuke
Senti quando chegaram. Vinham de toda a parte. De todos os lados. Pelo céu, pela terra, pelas águas... E paravam todos atrás de mim. Bem perto. Bem em meus flancos. Prontos para lutarem. Comigo.
Sakura
Quando comecei a ouvir os passos – e não tinha como não ouvir, eram como um terremoto – corri com Akemi para o porão e nos tranquei lá. Tinha comida, roupas e água a nossa espera. Não sabia quanto tempo essa guerra duraria.
Sasuke
Itachi liderava o "time" deles. Eram muitos. Milhares. Mas éramos mais. Éramos uma vila revoltada. Um povo devastado. Éramos famílias arrasadas, ninjas machucados, mulheres viúvas, homens mutilados... Éramos o significado da guerra. E respirávamos dor e ódio. E vingança. Queríamos o que era nosso. E íamos conseguir.
Saquei minha espada. Os ninjas atrás de mim gritaram, mas não se moveram.
- Espero que goste de calor, Itachi – proferi, sério e frio. – Porque acredito que não faça frio no inferno.
- Experiência própria?! – devolveu ele.
- Não. Mas você vai conhecer o local logo, logo.
- Veremos.
Soltei uma risada, sem humor.
- Você, meu irmão, não verá nada!
Sakura
Ouvi a guerra começando da minha casa. Os gritos. O choro. A dor. Fiquei abraçado em Akemi, secando as lágrimas com as costas das mãos. Ela não entendia o motivo do choro, mas sentia meu desespero. E logo começou a chorar também.
Fiquei me perguntando quantas famílias estariam como eu. Escondidas, esperando que a guerra acabasse. Quantas mães estariam abraçadas a seus filhos esperando que seus maridos voltassem da guerra. Quantas mais estariam ansiosas pelo fim daquele combate? Meu Deus, quantas? Quantas ficariam viúvas? Quantos maridos sobreviveriam?... E quantos morreriam?
Será que o meu seria um dos sobreviventes?
Ou um dos mortos?
Naruto
Havia sangue por todo o lado. Mortos. Dor. Choro. Mas era o fim. A raposa de nove caudas já estava presa em mim outra vez, os sharingans apagados... Eu só não sabia qual dos dois estava vivo ainda. Ambos estavam jogados no chão, machucados, sem respirar. Fiquei com medo de tocá-los. Fiquei com medo de saber. E se os dois tivessem morrido? E se não houvesse mais nada? E se eu tivesse de continuar sem meu amigo? E Sakura? Como ficaria? Meu Deus!
Sakura
O silêncio reinou lá fora. Mas fiquei com medo de abrir a porta e sair. E se fosse só impressão? E se a guerra ainda estivesse acontecendo? E Sasuke? Onde ele estava?
Akemi se mexeu em meu colo, ainda chorando.
- Cadê papai? – perguntou ela, secando, com as mãozinhas pequeninas, as próprias lágrimas.
- Ele já vem, meu amor... Ele já vem – embalei-a com minha voz, repetindo isso para mim mesma e para ela.
A questão era que eu não sabia se ele já vinha mesmo.
Ficamos em silêncio. Akemi dormiu, eu não. Não conseguiria relaxar enquanto não tivesse uma resposta.
Alguém, lá fora, abriu a porta. Tremi de medo, mas saí mesmo assim, levando Akemi comigo de modo protetor. Abri, com cuidado, a entrada camuflada do porão e saí devagar. Havia um vulto lá fora. Andava devagar, visivelmente debilitado. Saí, então, com um pouco mais de confiança. Fosse quem fosse, estava machucado e eu tinha mais chances de vencer.
Então andei com mais firmeza até a sala e vi. Era um homem. Usava a capa da família Uchiha. A capa do patriarca da família Uchiha. Eu só não conseguia ver seu rosto. Então não sabia qual dos dois era. Sasuke ou Itachi? Qual tinha vencido?
Então ele baixou o capuz. E vi seu rosto.
Soltei um suspiro.
"Ele está vivo."

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Tempo
FanfictionAbri e fechei os olhos outra vez. Ele não sumiu. Era real. Ele estava mesmo à minha frente outra vez, depois de tudo o que tinha me feito. Depois de eu ter certeza de que ele estava morto. "Ótimo", pensei. "Era tudo o que eu precisava agora."