"Vosso corpo seria encontrado nós desertos.
Sois tão linda... você é a Lei!
Você é tão mal contrária essas mil leis humanas
Que avançam cegas insensíveis sobre o horror..."
- Mário de Andrade* Teodora *
-QUEM É VOCÊ? - grita a ruiva enquanto me olha com terror
- Acredite, meu bem, se eu soubesse eu lhe diria - digo com um tom de sarcasmo - o máximo que lembro sobre mim é meu nome. Me chamo Teodora.
A fêmea em minha frente me olha com um misto de medo e dúvida em sua feição,e por um momento, vejo algo além sendo expressado em seus olhos. Seria, afeição?
Mas logo ela assume uma pose de autoridade e com a voz firme diz:
- Se não sair da minha casa, eu vou gritar para que meus vizinhos escutem e liguem para a polícia. Você não vai se safar!
- Não irei lhe fazer mal, querida. Por favor, me ajude! Preciso que me ajude - clamo por sua ajuda, pois já não sei mais como faço para voltar ao Mundo dos Mortos.
Com dúvida nos olhos, ela me analisa de cima a baixo. Tento manter meus cabelos pretos cobrindo minhas orelhas pontudas e não sorrio para que ela não possa ver minhas presas. Sei que minha aparência não aparenta ser tão humana quanto a dela, depois de tanto tempo vivendo na escuridão( ou melhor, sobrevivendo) meu corpo passou por uma metamorfose para se habituar ao novo ambiente.
- Ajudar com o quê? - ela pergunta com carinho, percebo isso em sua voz. Suas barreiras estão caindo.
- A voltar para casa. Talvez o que eu diga não possa fazer sentido, mas eu já não sei a quem recorrer e isso me envergonha. A verdade é que não pertenço ao seu mundo. Bom, não mais.
E após um breve silêncio, percebo uma expresso de dúvida surgir em seu rosto.
- Como assim?
* Lorena *
"Eu não pertenço ao seu mundo". Essa frase ao mesmo tempo que me pareceu não ter sentido, se encaixou perfeitamente com a situação. Uma mulher tão linda como ela, com aspectos tão diferentes não deve mesmo pertencer aqui.
- Como assim? - indago com curiosidade.
- Podemos ir para outro lugar? Outro cômodo, talvez. O seu cheiro está muito forte aqui.
- Você aparece pedindo ajuda e depois me insulta dizendo que estou fedendo??
- Não! Com toda certeza isso não foi um insulto, é que seu cheiro se torna muito mais forte quando está desnuda. E isso é algo bom, tão bom que me desconcentra.
Sinto meu rosto esquentar de vergonha. Por um momento esqueci que estava só com uma toalha fina em volta do corpo. Ajeito minha postura, não quero que ela saiba que isso me afetou de alguma maneira, mesmo que eu nunca tenha recebido um elogio igual a este.
- Bom, nesse caso você poderia me esperar na sala enquanto visto uma roupa?
- Sala? Onde é isto?
Incrédula olha pra ela. Penso que talvez seja deboche, mas não, por sua feição percebo que ela realmente não sabe o que é uma sala.
- É, tá sendo muito complicado. Você pode vir comigo. Mas vai ter que esperar do lado de fora do quarto enquanto me arrumo, não me sinto bem quando pessoas me observam enquanto estou sem roupa!
- Pardão, não vai mais acontecer.
Segurando firme a toalha, saio do banheiro e vou em direção ao quarto. Atrás de mim está ela, me seguindo. Não preciso olhar para saber que está próxima, pois quando mais perto ela chega mais forte fica o frio que irradia dela. O que essa mulher é?
Eu não acredito no que vou fazer. Estou confiando em uma mulher estranhamente bela que apareceu em minha casa durante a noite. O que há comigo?
Sorrio levemente pensando nessa situação toda. Se fosse em qualquer outro dia, com outra pessoa me observando no banho eu teria gritado e não deixaria que esse alguém chegasse perto de mim. Mas ela... ela é diferente. Me traz um conforto toda vez que a olho.
Chegando na porta do quarto me viro pra ela e congelo. Ela está olhando para a parede ao seu lado, onde tem um retrato antigo da casa. Na foto tudo está em preto e branco, mostrando o quão antiga ela é. A mulher em minha frente passa uma das mãos na moldura enquanto absorta em pensamento analisa o quadro. Isso me dá alguns segundos para observa- lá mais de perto.
Sua pele levemente cinza se encaixa perfeitamente com os cabelos longos e escuros. Suas roupas estão sujas de terra e rasgadas em alguns lugares, mas é possível perceber que foram lindas. Uma blusa branca fina com babados em volta do pescoço que descem em cascata formando um pequeno decote que é coberto por uma renda fina. Ela usa uma calça preta de um pano leve, que parece ser masculina. Calça do estilo que eu já vi meu pai usando, a diferença está apensas no tamanho pois ela é muito mais magra e apresenta rasgos na barra.Enquanto a observo ela vira o rosto repentinamente pra mim, me causando um susto. Seus olhos são estreitos e levemente puxados. Pupilas cinzas com um céu nublado. E lábios finos de um tom mais escuro que sua pele. Ela é realmente linda.
- É, então. Hã...acho que... que você fica aqui- Porquê comecei a travar a fala?- É, é isso. Por favor, não entre.
Me viro e entro no quarto, com o rosto fervendo de vergonha por ter sido pega a observando. Bom, nada mais justo já que a peguei me observando no banho, mesmo que não pareça ter sido proposital e com baixas intenções.Enquanto me arrumo sinto meu corpo esquentar e uma calor estranho se espalhar por todas as minhas partes. Nunca imaginei que sentiria algo assim novamente, depois do acontecido na casa de Alexandre. Por um segundo as lembranças daquela noite começam a voltar, meu corpo se abala e minhas pernas vacilam como se não conseguissem sustentar o peso de meu corpo. Tento reprimir os fantasmas daquela noite, as dores sentidas nós últimos meses e com dificuldade consigo me acalmar.
Essa é uma nova vida, um novo recomeço. Não posso deixar que isso volte e faça com que minha vida desmorone novamente.
Respirando fundo, começo a pentear meus cabelo. Tento desembaraçar os cachos com calma mas a ansiedade toma conta. Quero saber mais sobre essa estranha mulher e o que ela tem pra me contar.Decido só desembaraçar e deixar os cabelos soltos enquanto ainda estão molhados. Ele forma uma moldura vinho em meu rosto e com o vestido verde claro que coloquei, meus cachos ficam ainda mais vivos e radiantes.
Ando em direção a porta, ansiosa pelo que vem aí.
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Me conte o que achou dessa loucura toda!
No próximo capítulo tudo irá se explicar.
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Obrigada por chegar até aqui e continue a leitura com o próximo capítulo 🖤
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Demônio sedento, sedento amor.
RomanceApós passar por conturbadas situações e ser magoada por quem mais amava, Lorena decide trancar a faculdade e mudar de cidade, indo morar na velha casa da família abandonada no interior. Durante sua estadia na nova residência ela descobre que o véu...