Capítulo 2: A chegada

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"Aí, eu padeço de amor,
Meu peito está cheio de luz e de dor!
...
Eu cherei um dia um aroma de flor
E vai, fiquei doendo de apenas de amor!"
-  Mário de Andrade

*Lorena*

-Lorena! Lorena!- escuto a voz de meu pai me chamar, mas ela está sendo abafada pelo zumbido em meu ouvido.

Aos poucos meus sentidos vão voltando,ao abrir os olhos percebo que estou dentro da casa pois tudo está escuro e inspirando forte sinto poeira entrar em minhas narinas. Começo a tossir e sinto uma fincada forte na nuca, onde encosto a mão e percebo que está molhada. É sangue.
-Lorena o que deu em você? Está bem? Está tonta? Lembra a data de hoje?

- Sim pai, estou bem. Não estou tonta. E hoje é dia sete de Abril, sábado.

- Meu Deus minha filha! Você não pode me assustar assim. O que houve? Você tropeçou?

- Não... eu acho. Só me lembro da minha visão escurecer e cair. Talvez tenha sido só uma queda da pressão. Porque minha nuca está sangrando?

- Uai filha, você bateu a cabeça na quina do portal da porta. Me deu um baita susto. Eu mal tinha me afastado do carro quando vi você despencar no chão.

- Ah pai, já está tudo bem. Não precisa se preocupar. Só preciso fazer um curativo nesse corte - digo  ao me levantar.

Percebo a insegurança em seu rosto. Isso muda muita coisa, ele não vai querer me deixar aqui sozinha, não depois de ter desmaiado de forma estranha. Preciso resolver isso logo antes que ele crie mais idéias na cabeça para não me deixar morar sozinha.

- Pai, acho que sei o motivo do desmaio. Lembro que por estar arrumando as malas acabei esquecendo de almoçar- minto- Não se preocupe, não vai acontecer de novo.

E assim que digo as mentiras, posso ver seu rosto se iluminar me enchendo de esperança.

- Tem que me prometer que não vai esquecer de comer.

- Eu prometo- e ao dizer isso um sorriso surge em meus lábios.

- Agora vem, temos muito o que arrumar aqui.

*Teodora*

Caída no chão, sinto uma grama macia sob mim e a luz que me cega começa a ser mais fraca, me permitindo enxergar vultos no horizonte, meu instinto me deixa em alerta, pede pra fugir ou atacar mas ainda tenho dificuldades para me mexer. Onde estou?
Com muita dificuldade consigo me levantar e aos poucos meus olhos começam a se habituar com toda essa claridade. Estou em um pasto, um diferente do qual estava acostumada a ver nos últimos anos. Este é vívido, sem aspecto de morte por perto e sem o odor prutrido. Toda essa paisagem me faz relembrar algumas memórias nevoadas de quando eu vivia lá em cima, no Mundo dos Vivos. Memórias felizes. Sei disto pois sinto em meu peito uma fagulha de felicidade, mas isso me traz medo. Nada aqui está correto, onde estão os uivos? Os gritos de dor? Os gritos de raiva?

E nesse instante escuto, mas não aquilo que eu desejo ouvir. Escuto passos de alguém correndo e gritando algo.

- Lorena! Lorena! - grita uma voz masculina acompanhada de um grunhido de dor de outra pessoa, uma criatura feminina, suponho.

E atenta escuto o diálogo entre os dois. A fêmea parece estar machucada, posso sentir o doce odor de sangue de donde estou.
Com passos leves sigo até a residência que está em minha frente, entro pela porta dos fundos e me dirijo para um cômodo com mobílias cobertas por panos brancos encardidos e encobertos de poeira. E espio pela porta.

O macho está agachado ao chão, aparenta preocupação com a fêmea. Possui pele clara, mas com um tom mais comum, menos etéreo do que o que estou acostumada a ver. Seus cabelos são de um tom vermelho vivo, mas que começa a se apagar pela presença de fios grisalhos.Pela posição de seu corpo não consigo ver a fêmea, mas posso sentir o seu cheiro.

Não me lembro da última vez de ter sentido um odor tão magnífico assim. Fecho os olhos e inspiro profundamente. E sinto uma mistura de cheiro cítrico com o doce de seu sangue.

Meus pensamentos são interrompidos pelo som de passos e movimentos. Eles se levantam e quando o macho se move, posso observar a figura da fêmea em minha frente. Nunca vi algo tão belo.

Sua pele é de um tom negro que brilha quando o sol a toca. Seus cabelos são vermelhos vívidos, belamente cacheados e armados, com uma fita amarela com folhas verdes em volta. Meu peito palpita, meu corpo pede para me entregar a ela mas algo me segura: o medo.
Retraindo todas as minhas vontades, me dirijo a escada no cômodo ao lado com cuidado. Preciso me esconder e tentar voltar para onde não devia ter saído. Se bem que, não seria uma péssima ideia poder ficar.

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Demônio sedento, sedento amor.Onde histórias criam vida. Descubra agora