“Trata-se de existir, mas manter-se preso e obrigado por necessidade a uma única trilha não é viver”
- Michel de Montaigne, Filósofo*Teodora*
Posso ouvi-la em seu quarto. Escuto o som de seus dedos passando entre os cachos, o leve deslizar de sua roupa roçando em teu corpo e após um tempo, seus passos vindo em direção a porta.
- Venha, vou te mostrar onde é a sala.
E ela passa por mim, deixando por onde anda sua doce fragrância.- Eu estou com uma dúvida. Como você sabe o que é um quarto mas não sabe o que é uma sala? - ela diz enquanto anda em minha frente, sem ao menos olhar pra trás.
- Eu só sei o que eu lembro ou então o que os recém chegados gritam aos quatro ventos enquanto ainda se lembram de sua vida.
Percebo que com minha fala ela vacila o passo, mas não para de andar. Ela deve estar confusa, assim como os recém chegados ficam quando vêem o Mundo Sombrio pela primeira vez.
Quando chegamos em um cômodo com um pequeno acento e uma mesa pequena ela diz:
- Bom, chegamos. Sala está é Teodora, Teodora está é a sala.
- Não entendi. O que quer dizer?
- Deixa pra lá, me conte o que tem pra dizer antes que eu perceba que isso é realmente uma loucura e chame a polícia.
Olho com dúvida para ela, pois não sei quem é essa tal de Polícia mas suspeito que seja alguma fêmea. Não gosto disso.
- Vai ser algo conturbado, mas tem que me prometer que não vai ficar exasperada.
- Uai, não vou prometer nada não. Mas vou tentar não gritar ou te xingar de novo.
- Tudo bem, isso já é algo bom- respiro fundo - Certo, eu venho de um lugar que não sei ao certo o nome mas eu já fui como você. Já fui viva. Pelo menos viva como você e não essa criatura gelada e diferente que sou agora. Demorei um bom tempo pra entender o que sou e como fui parar no Mundo dos Mortos. Precisei me acostumar muito com tudo o que via lá e demorei pra conquistar a confiança daqueles que já viviam lá antes de mim. Com o passar do tempo eles vão juntando pedaços desse quebra-cabeça e tentando entender quem somos. E repassam a informação adiante, para que a história não se perca. Somos humanos, que morreram e foram parar lá. Alguns dos recém chegados ou recém mortos nos chamam de Demônios, dizem que estão no inferno e lamentam por onde estão. Quando cheguei não tinha lembrança alguma da minha vida. As memórias foram aparecendo com o passar do tempo, uma delas foi o meu nome. Outras são coisas inúteis que fazem aínda menos sentido do que meu estado atual. E hoje mais cedo eu estava lá, ainda estava no meu mundo. Mas algo estranho aconteceu e eu apareci aqui. A primeira coisa que vi foi sua moradia e a primeira coisa que ouvi foi aquele macho chamando o que suponho ser teu nome. Lorena.
Depois de derramar um mar de informações sobre ela, eu esperava que estivesse em choque ou com medo, mas assim que acabo de contar tudo ela solta uma gargalhada.
- Tudo bem, tudo bem- ela respira fundo e se dirige a mim- e como você veio parar aqui?
- Um círculo de fogo se formou por mim.
- Okay, não me leve a mal mas acho que você é doida. E um demônio? Porquê pensariam isso de ti? Você é uma mulher bonita, o máximo de diferente que tem são dentes um pouco maiores mas isso é normal.
- Normal? Você acha que ter presas é normal? E minha pele? Se isso fosse algo normal não teria passado por tanto sofrimento durante os dias em que meu corpo se adaptava àquela terra maldita!
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Demônio sedento, sedento amor.
RomanceApós passar por conturbadas situações e ser magoada por quem mais amava, Lorena decide trancar a faculdade e mudar de cidade, indo morar na velha casa da família abandonada no interior. Durante sua estadia na nova residência ela descobre que o véu...