Capítulo 1: O início

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"Pela noite de barulhos espaçados,
Neste silêncio que me livra do momento
E acentua a fraqueza do meu ser fatigadíssimo,
Eu me aproximo de mim mesmo
No espanto ignaro com que a gente se chega pra morte"
- Mario de Andrade

*Lorena*

Pela janela do carro, eu observo a paisagem nova. Casas que se perdem em meio a plantações e pastos, em alguns lugares é possível ver de relance crianças brincando e o cheiro de grama úmida e ar puro invadem as narinas.

Mesmo que meus pais sejam donos da casa, nunca cheguei a morar nessa cidade por muito tempo. Eu nasci aqui, mas quando ainda tinha alguns meses nos mudamos para a área mais urbana de Minas. É um lugar lindo e tranquilo.

- Ei mocinha, tudo bem aí atrás?- diz meu pai, chamando minha atenção enquanto me olha pelo retrovisor.

- Tudo bem pai, só observando a paisagem nova.

De onde estava pude ver que em seu rosto havia uma tristeza mascarada.    Depois do ocorrido, ele se tornou muito mais preocupado comigo. Não o julgo, se algo assim tivesse acontecido com minha filha eu não sei o que eu poderia me tornar.

- Bom, melhor se preparar, já estamos quase chegando- papai diz sorrindo.
A animação toma conta de mim e meu coração já começa a palpitar. Mal posso esperar pra conhecer a casa nova, a minha casa.

E de relance consigo ver uma casa surgindo no horizonte e mesmo um pouco velha, ela é linda.

Como toda casa aqui no interior é assim, a minha não seria tão diferente. Sem muros pra proteção, só uma cerca feita de arame e madeira ( que é possível perceber que antes foi pintada de branco) e ao fundo uma casa grande, feitas de tijolinhos expostos com uma varandinha com um lindo cercado de madeira escura.   A casa era simples mas tinha suas belezas.

O carro mal estaciona na entrada e já vou descendo e andando em direção á casa,sinto a emoção fervilhando em mim. No momento em que piso na varanda sinto minha visão escurecer e o meu mundo desabar.

*Teodora*

E do alto do Penhasco, observo a vida lá embaixo. Criaturas de diferentes formas e trejeitos vivendo sua vida, ou melhor, sua pós vida. Algumas gritando amarguradas, outras só observam a sua volta e existem àquelas, as novas almas, que tentam entender qual importuno as trouxe a esse lugar repleto de miséria e sofrimento. 

Todos nós passamos por isso quando chegamos aqui, mas muitos como eu param de tentar entender o motivo para o qual viemos para esse lugar de aparência tão fúnebre.

Sinto um arrepio na espinha, alguém estás a me observar e pelo farfalhar das folhas cada vez mais alto sei que está chegando perto.
Se não fosse pela nova fisionomia de minhas orelhas, isso não seria possível. Até que que esse buraco apresenta coisas boas àqueles que o respeita.

Quando percebo que a coisa está mais perto, solto uma pequena gargalhada e me viro.

- Tu acha mesmo que dessa vez seria diferente das outras? Acha que tem culhão o suficiente pra me atacar? Tu não passa de uma mísera escória!

Ao dizer isso vejo que uma criatura sair de trás da árvore seca que jaz morta. Ele é um dos poucos que como eu, ainda apresentam uma figura mais humana, mas sua alterações são notáveis. Olhos com pupilas vermelhas estriadas, pele preta e cabelos escuros. Seu rosto apresenta maçãs salientes e queixo quadrado, que combinam perfeitamente com seu ótimo físico. E enquanto o observo, percebo que uma fina camada de pelo preto começa a surgir em seus braços. Ele ainda utiliza as roupas humanas e rasgadas que tinha ao corpo quando chegou aqui. Uma blusa cinza simples e com botões, uma calça de corte fino preto, mas os sapatos percebo que já se foram há algum tempo pois seus pés se encontram descalços.

Dando um passo a frente percebo irá em seus olhos, o que torna tudo tão mais divertido.

- Se eu fosse você, tirava esse sorriso bobo do rosto - branda ele - isso me dá ainda mais vontade de te estraçalhar.
- Ora, que pena que ficará só na vontade - digo com um tom de sarcasmo na voz.

- Teodora, não me provoque! Sabe que posso ser perigoso, preciso só de mais um tempo para completar essa metamorfose e aí irei te caçar, até o fim.

- Deixe de ser um palerma! Não cansa disso? Eu não sou a culpada e muito menos o motivo de te causar tanta dor. Eu nem ao menos lembro quem sou, como poderia saber o que te fiz quando estava a viver? Nem mesmo tu sabes!

- Eu não preciso saber, eu sinto. Sinto todas as noites! E a única pista da dor que sinto é seu rosto retratado em minha mente todas as vezes que me torturam. A culpa é sua!

Ao dizer isso Pablo avança sobre mim e eu preparo para poder ataca-lo, mas antes que ele chegue mais perto um círculo de fogo se forma a minha volta.

Penso que é alguma artimanha dele, mas em seu semblante só vejo dúvida e espanto. Ele também não sabe o que está acontecendo.

E antes mesmo que eu possa fazer algo, o chão sob meus pés somem e eu vejo uma luz forte brilhar, que por um momento segam meus olhos.

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Demônio sedento, sedento amor.Onde histórias criam vida. Descubra agora