Capítulo 6: O início de uma amizade

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“O prazer é uma das principais espécies de proveito”
-Michel de Montaigne,  Filósofo

*Lorena*

- Para o seu teste, você terá que ficar o mais longe possível de mim. Irei dizer algumas palavras e você terá que repetir. Simples, não?

- Concordo, não vejo nenhuma dificuldade em fazer isso.
Sorrindo eu digo:
- A parte difícil é que estarei em meu quarto, com as janelas fechadas e você próxima a cerca da casa. Acha que consegue?

- Claro que sim. Não é uma distância tão longa pra mim.

- Tudo bem! E ah, mais uma coisa. Você sabe escrever?

- O que é escrever ?

- Já desconfiava. Venha, vou te mostrar. Talvez ao ver você consiga lembrar.

Ela olha pra mim com as sombrancelhas juntas e com uma expressão de dúvida, mas me segue.
Abro a caixa que está apoiada no canto da sala. Nela tem meus cadernos e livros da faculdade, com certeza vou achar alguma folha e um lápis.

Enquanto vasculho a caixa, Teodora me observa curiosa e não consigo deixar de sentir um arrepio correr pelo meu corpo. Seu olhar me faz corar, sua respiração me faz tremular sobre minha pernas e quando ela se move em minha direção sinto uma eletricidade percorrer cada parte de meu corpo, me mandando correr, só não sei se é correr pra longe ou em direção a ela.

Assim que acho um bloco de notas e uma caneta, me levanto e viro em direção a ela.

- Isso é papel -digo levantando o bloco de notas- e essa é uma caneta.

- Papel eu conheço, caneta creio que não - ela diz e com suas mãos curiosas pega a caneta. Por um breve momento suas mãos encostam na minha e me assusto. Por onde anda ela deixa um rastro frio, mas seu corpo é extremamente quente.
Tento me recompor e digo a ela:

- A caneta você usa para escrever no papel, desse modo.

Retirando levemente a caneta de sua mão eu a mostro como se escreve.

- Ah, isso eu sei fazer! Mas não sabia que era esse o nome. Es-cre-ver. Nome interessante. Posso tentar?

Surpresa entrego a ela o bloco de notas e a caneta. De forma lenta ela apoia o bloco na mesa e vejo a caneta percorrer o papel. Depois de algum tempo ela me mostra o que escreveu.

"Teodora. Lorena"

-Você escreveu nossos nomes?

- Sim. São como palavras né? Nomes são palavras.

Um pouco sem jeito eu aceno com a cabeça, concordando.

- Parece que você já está pronta, sabe como chegar até a cerca?

- A entrada?- concordo com a cabeça- Sei sim.

- Tudo bem, então vou para o meu quarto e irei esperar um tempo para ter certeza que você está pronta.
Isso tudo está sendo bem divertido.

- Certo. Então vou indo - e antes de se virar e sair ela abre um sorriso, um lindo sorriso.

Assim que ela se vai, eu me dirijo ao quarto e fecho as portas atrás de mim. Após esperar o que me pareceu uns três minutos, eu comecei a dizer as palavras.

-  O rato roeu a roupa do rei de Roma - começo a rir, pois tudo isso me parece mais brincadeira da minha época de escola - Na bruna leve das paixões que vêm de dentro, tu vens chegando pra brincar no meu quintal.

Após dizer tudo isso em um tom baixo, espero alguns segundos e me vou em direção a porta do quarto e aí sair me dirijo a entrada para encontrá-la.

Quando abro a porta da varanda, a vejo em pé próxima a cerca. Ela está observando o céu, parece perceber minha presença mas não desvia os olhos da lua. Quando chego mais próximo, ela me olha. Seus olhos estão com lágrimas mas em seus lábios vejo um sorriso.

- Eu tinha esquecido como o céu podia ser lindo.

Enxugo as lágrimas de seu rosto com um das mãos. Não me restam dúvidas de que tudo o que ela disse sobre seu mundo é verdadeiro, percebo isso agora.

Ela estica o bloco de notas em minha direção, me assustando com o movimento repentino.

- Aqui estão as palavras que disse. Algumas não pareciam fazer sentido, mas es-cre-vi como disse.

E lá estava, tudo o que eu havia dito. Tinha até mesmo uma nota, que eu havia gargalhando entre as frases. Não pude evitar sorrir.

- Bom, você passou no teste. Vou te ajudar sim, Teodora.

- Eu fico agradecida por sua ati...- ela interrompe sua frase e vira o rosto para a esquerda ao mesmo tempo que solta um baixo rosnado e mostra suas presas. Observo para onde ela olha, procurando o que chamou sua atenção.

- Teodora? O que foi?

- Há alguma criatura ali, próximo a sua casa.

Ao dizer isso sinto medo. E se for algum maníaco? E se for outro demônio mas que não seja tão bacana?

- Quer que eu o mate? É sua propriedade que ele invade.

- O quê? Matar? Não! Tá doida?
E mal terminei a frase quando ela correu em direção a tal criatura. Tentei ir atrás dela, mas seu passo era muito mais rápido que o meu.

- Teodora! Para!

E por incrível que pareça, ela parou e me olhou.

- Não vá até lá! - tento dizer de forma calma- Pode ser perigoso.

Ela sorri e com um tom de deboche disse:

- Querida, é ele que deve temer a mim.

Com um pouco de raiva eu concordo, ela realmente está certa pois não existe nada por aqui que conseguiria deter essa mulher.

- Só não machuque ninguém e não se machuque, tudo bem?

Ela concorda e dá alguns passos lentos na direção que antes ela corria. E com rapidez mas cautela ela se abaixa e levanta em suas mãos algo. Essa coisa faz um barulho estridente mas conhecido....

Quando ela se vira pra mim vejo que em suas mão tem um gato. Um  filhote pequeno e laranja.

Não consigo segurar a risada e Teodora me olha confusa enquanto o filhote em suas mãos mia pra ela com ódio.

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⏰ Última atualização: Jul 25, 2020 ⏰

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Demônio sedento, sedento amor.Onde histórias criam vida. Descubra agora