Teoria do caos: O universo tende ao caos.
Essa é a frase que sempre está em minha cabeça, não importa o porquê, como e onde. Ela sempre esteve lá, no fundo do meu cérebro. E é exatamente essa mesma frase que passava em minha cabeça enquanto olhava os pinheiros e eucaliptos de dentro do carro. No rádio, tocava alguma música do Queens e minha mãe cantarolava no ritmo da música. Fazia 3 horas de viajem e estava começando a ficar com fome, o balanço do carro me deixava enjoado e a ideia de mudar de cidade girava em minha cabeça como um tornado, levando todas minhas esperanças para longe.
- Mãe, podemos parar pra comer? - digo, sem tirar os olhos da janela.
- Claro, deve ter algum restaurante por aqui. - pela forma de sua fala percebo que ela está sorrindo. Não é como se eu estivesse brigado com minha mãe, só estava chateado pelo fato dela não ter me contado antes que iriamos nos mudar de cidade. Ela dá um longo suspiro antes de continuar:
- Edward, escute, você sabe que desde que seu pai morreu tem sido difícil. Então não me culpe por não ter te contado tão cedo ok? - a observo falar. Seu cabelo castanho escuro, iguais ao meu, está preso em um coque frouxo atrás da cabeça, alguns fios brancos aparecem no topo, marcando sua idade. Seus olhos da mesma cor que o cabelo ainda trazem o brilho jovial, assim como seu sorriso que marca o rosto com rugas.
- Não te culpo, mãe. Só acho que poderia ter me falado. - respondo, virando minha cabeça para a janela novamente. Ela suspira de novo e depois de alguns minutos de silêncio uma placa com o anúncio de um restaurante a 3 km aparece.
- Pense pelo lado bom filho, você vai conhecer novas pessoas! E já que é a cidade natal do seu pai, seremos bem acolhidos. - eterna otimista. Já que começaríamos do zero, não teríamos uma casa então passaríamos algum tempo na casa dos meus avós paternos (que só vi umas duas vezes nos meus 16 anos) que não mantém contato desde que era uma criança.
- É, pessoas novas. - respondo, sem nem um interesse. Sempre fui antissocial, até tinha amigos, mas nada como "melhor amigo" ou intimo o suficiente para ir na minha casa.
Antes que minha mãe pudesse responder, provavelmente com alguma censura, o posto de gasolina com um restaurante ao lado entra no nosso campo de visão. Ela estaciona o carro no estacionamento na frente da entrada e saímos do carro. O lugar em si é bem arrumado e aconchegante, com várias mesas espalhadas e bancos longos e acoplados na parede, mas a frente à um balcão com vários salgados expostos e uma mulher atrás dele.
- Vão querer o que? - a mulher diz, com um tom seco e mal educado.
- Bom dia, pode ser 2 pasteis de carne e duas latas de Coca-Cola, por favor. - minha mãe responde, sorrindo. A mulher parece querer revirar os olhos, mas desiste e pega os pasteis com um pegador e coloca em um saquinho, o pondo em cima do balcão. Pego um dos sacos e tiro o pastel, morrendo de fome o mordo com vontade "É, não está tão ruim" penso.
Depois da minha mãe pagar A$ 2,73 pegamos as coisa e entramos no carro novamente, cada um com seu pastel e uma lata de Coca. Enquanto como, olho para fora da janela, vendo os vales se estenderem até onde meus olhos alcançam, o sol que estava bem fraco graças a grande quantidade de nuvens, alcançava apenas o topo das árvores deixando tudo em um degrade de claro para escuro.
- Austrália é bem bonita né? - minha mãe sussurra, olhando para mesma direção que eu estava.
- Sim, é sim. - dessa vez sou eu que sorrio, naquele momento aleatório senti que talvez não fosse tão ruim mudar os ares.
No resto da viagem acabo pegando no sono e só acordo quando ouço minha mãe praguejando:
-Merda!! - ela soca o volante – a gasolina acabou, por que eu não abasteci perto do restaurante?!
"Estava demorando para algo dar errado." Penso. Ao olhar em volta pela janela, percebo que estamos literalmente no meio do nada. Maravilha.
-Não tem sinal aqui... - Minha mãe diz com o celular na mão
-Então o que vamos fazer. Sentar e esperar uma alma boa aqui. No meio do nada. No país em que praticamente todos bichos são venenosos!
-Boa ideia! Daí aproveitamos para apreciar o local. Olhe que lindo os pássaros.
Após vários minutos, ou talvez horas, de espera ouvimos um som de motor se aproximar. Minha progenitora não se demora em abrir a porta do carro e começar a gritar por ajuda.
A caminhonete preta 4x4 para bem próxima ao nosso carro. E dois homens mascarados saem falando um idioma que reconheço na hora.
-Sai do carro e passa a chave! - consigo escutar um deles falando do lado de fora e abro minha janela.
-I don't speak feijoada!! - grito para os brasileiros
-Olha o respeito filho!!! E sai do carro pela porta do outro lado. - minha mãe diz com a voz trêmula e eu saio do carro pela porta do lado oposto aos bandidos.
-And we don't speak canguru!! - o homem mascarado mais alto puxa a chave do carro da mão da minha mãe, rebocam o nosso carro na caminhoneta e vão embora. Levando consigo definitivamente tudo que tínhamos, enquanto gritam "Aqui é só tem tei tei ta ligado?" (seja lá o que isso significa)
Minha mãe senta no meio fio e cobre o rosto com a palma das mãos. Sento ao lado dela. Completamente sem palavras.
-Me desculpe Ed... - ela diz quase chorando. - Eu ainda estou com o meu celular, só isso, mas você perdeu tudo.
-A culpa não foi sua, mãe. Vamos caminhar até um lugar com sinal e ligar para o vô. - Eu estava com um nó enorme na minha garganta, se falasse mais que isso acho que choraria.
Em certo ponto creio que seria bom ter o início da minha vida adulta completamente do zero. Minha adolescência não foi como a dos outros garotos, não foi cheia de garotas, punheta e pornôs - na verdade aqueles vídeos com mulheres gritando me dava dor de cabeça e não me empolgavam nem um pouco – foi cheia de mortes e desgraças. Aos treze anos perdi a minha avó materna, a única com quem tinha um laço, e o que me desatolava da tristeza eram cálculos avançados para a minha idade e livros sobre nossa insignificância no universo.
Com quinze meu avô materno morreu nos deixando de herança uma dívida enorme que adquiriu com bebidas e cigarro, nos fazendo entrar em um grande buraco financeiro, do qual só saímos quando completei meus 15 anos, alguns meses antes de meu pai morrer e virmos para cá.
Depois de andarmos por não sei quanto tempo em uma rua deserta com minha mãe tentando repetidas vezes ligar para meus avôs finalmente escutamos o telefone chamar:
- Alô? - minha mãe disse, parecendo aliviada – Ah graças a Deus! Sra. Emma?! - escuto um ruído do outro lado da linha, que penso ser a voz de minha vó. - você não acredita, roubaram nosso carro... - acho impressionante a capacidade da minha mãe de recuperar o humor – estamos na Court St em Woodburn precisamos que de uma carona. - minha vó fala mais alguma coisa e desligam o telefone.
-Como vamos fazer mãe? - pergunto
- Vamos esperar a sua vó chegar, ela disse que vai dar uma carona – ela dá um suspiro aliviada e se senta no meio fio de novo. Me sento ao seu lado e olho pro céu, nuvens cinzas começas a se aproximar.
- Acho que vai chover – digo, distraído
- Talvez – minha mãe responde, totalmente focada na estrada.
*Primeiro capitulo dessa nova historia, essa não vai ter hiatos (até pq esta completa, so falta publica). Como sempre primeiro cap. só de introdução como sempre, espero que gostem. Votem e comentem aí!
É nois ✌*
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Através do Caos
RomanceEdward é um garoto que passou por muitas perdas durante sua infância, mas a morte de seu pai toca a família e Ed se muda com sua mãe para a casa de seus avós paternos em Lismore. Ele é um jovem de 16 anos inteligente porém sem esperanças de felicida...