Cap 07 - Saudade do Traste

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Depois da noite de teorias com o Rico, os dias seguiram quase normais, não fosse por uma dorzinha insistente de saudade que me angustiava. É, eu sei... Sou uma idiota completa por sentir falta de um traste como o Alex, mas não consigo evitar.

Tudo terminou tão de repente, tão sem explicação que me sinto num vazio, muito difícil de assimilar.

Talvez eu devesse ligar pra ele, tentar conversar. Ele pode ter pensado melhor, sentido minha falta ou apenas possa me explicar o motivo disso tudo. Sempre tive uma pontinha bem racional, que insiste em entender tudo. Explicações lógicas me acalmam.

Clico no ícone do WhatsApp e procuro pelo contato dele. É..  Eu não excluí. Ele tinha visualizado há poucos minutos. Senti uma pontada sufocando meu peito.

Com quem estava falando? Será que tinha olhado o meu também?

Pairei o dedo no teclado do celular, pensando no que eu poderia dizer, como chamar a atenção dele?

-Não faça isso!

Tomei um susto e quando levantei a cabeça, Clara me olhava.

-Não fazer o que?

-Mandar mensagem pra ele.

Fitei-a confusa. Como ela sabia?

-Sua cara de indecisa, a mão inquieta e o olhar perdido. Você sempre fica igual Valerie.

-Pelo visto me conhece mais do que eu imaginava.

Clara sorriu complecente.

-Você é uma boa garota, com escolhas muito erradas.

E saiu. Como se não tivesse jogado uma bomba no meu colo. Definitivamente: ímã de trastes!

O dia se arrastou. E quase no fim do expediente, Mon me ligou.

-Vem jantar comigo?

Apesar de amar Mon e seus filhos, eu não queria dois pirralhos fazendo barulho no meu ouvido.

-Jonas vai sair com os meninos, boliche e pizza. - Ela disse parecendo ler meus pensamentos - É a noite dos garotos, tô de folga.

-Tudo bem, eu vou. Levo alguma coisa?

-Tenho tudo que precisamos aqui. Só traga seus ouvidos.

-E você mantenha os seus abertos!

Rimos e eu desliguei, talvez um pouco de drama familiar de Mon, me fizesse esquecer aquele incômodo. Problemas de Heitor com matemática ou de Júnior pra dormir eram mais fáceis de lidar.

****************

-Que bom que veio.

Mon parecia estranha. Diferente de seu brilho natural, havia certa tristeza em seu olhar, que ela estava falhando em esconder.

Fomos até a cozinha e uma lasanha estava no forno, exalando um cheiro convidativo. Na mesa central da cozinha, dois pratos e uma salada. Ela começou a organizar e servir nossos pratos e a familiaridade daqueles gestos, me acalmou. Mon era a dona de casa mais exemplar que eu já tinha conhecido, com tudo impecável, bolinhos sempre assados e um cheiro de lavanda em todos os banheiros da casa.

Que por sinal, é uma casa linda, grande e elegante. Jonas é um grande advogado, especialista em divórcios e ganha bem o suficiente, para que Mon se ocupe do ofício de esposa, mãe e dona de casa em tempo integral.

-Escuta isso? - Perguntou ela quando se sentou relaxada de frente pra mim.

-O que?

-Silêncio. Calma. Os grilos podendo cantar livremente.

Ímã de Traste (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora