Cap 05 - Zumbaaaa

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Eu estou realmente irritada quando entro em meu carro. Aquela hora perdida e aquele dinheiro pelo ralo!!!

Resolvi dar sinal de vida pelo WhatsApp.

Valerie: Preciso socar alguma coisa!!!
Alice: Espero que não pense no meu rosto, fiz limpeza de pele ontem.
Valerie: Agora você é engraçadinha?!
Alice: Vixe, o caso é sério.
Valerie: Ta na academia?
Alice: Chegando agora
Valerie: Que aula?
Alice: Zumba.
Valerie: To indo agora praí!

Dirigi a todo vapor e pelos atalhos que eu conhecia. A academia da Alice era um pouco longe de onde eu estava, mas eu precisava de um escape para não bater o carro no primeiro idiota parecido com Alex, que cruzasse meu caminho!

O lugar era movimentado e eu não tinha um cartão de acesso. Expliquei que ia ver uma amiga, mas eles tinham uma política irritante. Já ia desistir quando Alice apareceu, me deixando entrar. Ela parecia meio rainha do lugar. Os homens babavam por ela.

-Você pretende fazer Zumba com essa roupa?

Eu estava de calça jeans, camisa de seda e sapatilhas. Tinha vindo do trabalho... Ou quase!

Olhei para ela com cara de poucas amigas, eu ainda não estava pronta para facilitar as coisas. Ímã de traste era um apelido pesado!

-Venha, sua sorte é que sempre deixo uma roupa reserva em meu armário. Pro caso de uma emergência.

Segui ela por entre os aparelhos, até um vestiário feminino. A porta do armário que ela abriu, era a única que tinha nome, o dela. Alice sempre garantia seus privilégios.

Troquei a roupa super rápido e não disse nada, enquanto ela me levava ao andar de cima. Chegamos a uma sala toda espelhada, uma música latina tocava em som ambiente e uma pequena multidão feminina começava a se aglomerar. Aquela aula devia ser mesmo muito boa.

O professor logo chegou. Ele tinha um sorriso acolhedor e parecia ser cheio de energia, ligado na tomada mesmo.

E não deu moleza. Começou a todo vapor com uma música que eu definiria como salsa, passando por rumba, cumbia, merengue, samba, hip hop, dança do ventre. A dança se misturava a movimentos aeróbicos e já na terceira música eu estava suando.

Alice me mostrou um bebedouro no canto da sala e fui me hidratar, mas a música era tão atrativa que não demorei parada. Logo voltei para me balançar. Não era difícil, o professor conseguia passar as coreografias com cuidado e deixava claro que cada um dançava do seu jeito.

Foi uma hora intensa e eu pude sentir meu corpo relaxar a cada novo movimento. Não pensei em nada, não me preocupei, apenas segui o ritmo. Ao final o professor agradeceu e eu me sentia outra!

-Quer tomar um banho? - Perguntou Alice.

-Por favor!

Fomos novamente em silêncio até o vestiário. Alice me deu uma toalha e o sabonete líquido dela, depois entrou no chuveiro ao lado do meu. Algumas mulheres que terminavam de se arrumar, saíram, nos deixando sozinhas.

-Desculpe Vale. Fomos idiotas.

-Eu sei.

-Mas...

-Mas?

-Também demos um apelido ao Rico.

-Continuamos idiotas. - Disse e ri.

Ela também riu.

-De qualquer jeito, fiquei com mais raiva por estarem certos. Eu sou um maldito ímã de traste.

-Tem certeza? - Ela parecia pisar em ovos, o que não é comum pra Alice.

-Sim, eu fiz a lista.

-De todos eles?

-Todos!

-Isso é mesmo uma droga. Talvez a teoria do Rico esteja certa. - Disse ela parecendo reticente.

-Que seria?

-Ele acha que você tem a síndrome da salvadora.

Virei-me em direção à ela no chuveiro, parando de passar o condicionador no cabelo. Ela arregalou os olhos e eu tentei parecer apenas curiosa e não irritada. Eu não sabia ao certo.

-Continue. - Pedi voltando a passar o condicionador.

-Acho melhor você perguntar a ele. - Esquivou-se - É uma teoria do Rico.

-Farei isso.

Respirei fundo e fechei os olhos embaixo da água quente.

-Tudo está virado para baixo. - Falei por fim.

-Vamos encontrar uma forma de consertar.

Havia na voz dela o tom familiar que me acalmava. Alice sempre esteve lá nos piores momentos. Quando meu pai morreu, foi ela que segurou minha mão todo o enterro. Eu sabia que ela enfrentaria o mundo, para impedir que outro babaca quebrasse meu coração. Eu que tinha de me proteger do mesmo jeito.

Alice tinha um compromisso com Marcus e eu garanti que ficaria bem. Não consegui falar da visita desastrosa à tal Magda Luz, ela ia rir de mim, com toda razão. Eu só não estava preparada.

Cheguei a meu apartamento e parecia que tinha saído dali há mil anos. Tanta coisa tinha acontecido naquele dia, nada que eu tivesse imaginado!

Achei que voltaria com todas as respostas, só me parecia ter mais perguntas.

Peguei o celular e liguei.

-Ainda me odeia? - A voz familiar me preencheu.

-Menos do que ontem.

-Isso quer dizer?

-Que se você trouxer pizza e chocolate, o resto da raiva vai embora.

-Palmito com calabresa?

-Isso.

-Chocolate trufado de menta?

-Exatamente!

-Me dê 40 minutos!

-Rico?

-Sim.

-Traz vinho também.

-Mas você não bebe!

-Não... Mas hoje eu preciso.

Ímã de Traste (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora