Cap 06 - Teorias Trufadas

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-Explique.

Pedi empurrando meu pé no peito dele que está virado para mim, nós dois no sofá. Meus pés estão apoiados no peito dele, enquanto suas pernas se cruzam ao lado das minhas. Nós devoramos a pizza e agora atacamos a caixa de trufas de menta. É uma iguaria dos deuses, que Rico me presenteou quando voltou de um dos seus congressos na Bélgica. Fiquei viciada e enlouqueci quando eles abriram uma filial da loja no aeroporto. Isso mesmo, eu fiz Rico se despencar até o aeroporto só pra satisfazer meu desejo. E desconfio que ele também ame esses chocolates, porque por mais que me ame, é sacrifício demais pegar todo trânsito de Recife até o aeroporto.

-Explicar o que? - Perguntou enquanto massageava a ponta do meu dedão.

-A sua teoria sobre ímã de trastes.

-Ah... Logo vi que seu chamado tinha segundas intenções!

Ele me lançou aquele olhar de derreter qualquer uma. Eu sei disso porque já vi o Rico em ação muuuuitas vezes. Ele é bom, muito bom na verdade, o tipo de traste perfeito que conquista qualquer uma, num raio de 100 km, basta esse olhar.

-Nem vem com esse olhar 45! - Murmuro empurrando meu pé novamente.

-Não seria olhar 43?! - Ele disse rindo.

-Tanto faz!! - Fingi estar brava - Esse olhar de gelatinar corações não funciona comigo.

Ele gargalhou.

-Gelatinar corações????

-Ahhhh, você acha que é o único com teorias e apelidos senhor?

Sorri triunfante e coloquei outra trufa da boca. Uau, derreteu e faz meu corpo tremer.

- Chocolates são como orgasmos. - Falei.

-Se você faz essa comparação é porque nenhum dos seus trastes fez o trabalho direito. - Disse mordendo meu dedo com cara sensual.

-Qual é?! Para com isso!

Puxei o pé, mantendo os joelhos dobrados, ainda capazes de acertá-lo em cheio.

-E você também é um traste! - Acusei.

-Nada disso senhorita Valerie! Eu sou um cavalheiro, que dá às mulheres aquilo que elas procuram.

Enruguei minha testa irritada.

-Eu falo sério Valerie! - Argumentou ele - Eu nunca iludi mulher alguma. Todas elas sabem quem sou desde o começo. Eu não faço promessas, nem cobro nada. O jogo é limpo e aberto.

-É. Isso eu não posso negar. Elas topam sua mania de dois encontros e nunca mais!

-Exatamente!

-Aí é que está a grande diferença! - Ele parecia satisfeito com sua exposição teórica - Eu não sou um traste. Eu sou um solteiro com diferentes companhias.

-Huuuum, então essa é a nova nomenclatura para garanhão?

Ele riu.

-Talvez.

-O pior é que você tem uma parte de razão. O jogo aberto facilita as coisas.

-É o que eu digo.

-Tá! Mas ainda espero a teoria.

-Ah, ok! Mas isso pede um gole de vinho.

Levantou pra pegar a garrafa e duas taças.

-Eu não quero.

-Você que pediu!

Encheu as duas taças. Me entregando uma.

-Antes eu quero ouvir a teoria, depois eu bebo pela minha desgraça.

-Nossa Vale! Tão ruim assim?

-Pior...

Respirei fundo para segurar o choro, por mais que Rico seja um amigo maravilhoso, ele é homem, e homens raramente sabem o que fazer com o choro convulsivo de uma mulher.

-Fala, por favor. - Supliquei.

-Agora é você que ta abusando do olhar gelatinoso. - Disse ele puxando meu pé e recomeçando a massagem no dedão.

-43?

-Tá mais pra o gatinho do Shrek.

Rimos.

-Bom Vale. Na verdade to me sentindo péssimo com essa história de ímã de traste.

-Para com isso, remorso não combina com você.

Ele fez uma cara que não entendi, depois continuou.

-É só que eu não queria te machucar. Eu estava consersando com a Alice uma vez e nós dois ficamos preocupados, porque depois do Sérgio, você parecia bem destruída.

-Verdade. Achei que fosse morrer.

-E o pior foi que aquele canalha conseguiu até me enganar. - Rico parecia realmente chateado - Eu sempre vi de cara quando você me apresentava um traste.

-É, sempre me avisava.

-Só que o idiota do Sérgio me enganou também. - Tomou outro gole do vinho - Então eu falei com a Alice que você tinha a síndrome da salvadora. O que te tornava um ímã de traste por excelência.

-Isso não ta me cheirando bem Rico, síndrome da salvadora...

-Minha experiência me aproximou de várias como você.

-Ah, que ótimo!

-Calma, não fica com raiva de novo. Você que me pediu pra falar.

Levantei os braços me rendendo.

-São aquelas mulheres que acham que os canalhas e garanhões, precisam ser salvos. Como se vocês fossem capazes de mudar esses homens. Vocês serão as mulheres!

-Hum... E?

-E isso faz com que vocês sempre busquem os mais complicados para se relacionarem. -Como um instinto?

-Isso!! Um instinto salvador, que fareja os piores tipos para curar da canalhice.

-Uau!

Tomei um gole bem forte. Rico me olhava tenso.

-Droga de teoria!

-É uma droga mesmo.

-Mas faz todo sentido...

Ele assentiu.

-E como se livra disso?

-Não desenvolvi essa parte da teoria ainda.

Tomei outro gole. Não sou de beber e isso fez minha cabeça girar.

-Acho que preciso de uma terapia de verdade.

-Como assim de verdade?

Comecei a narrar meu encontro com Magda Luz e depois de muito gargalhar às minhas custas, Rico levantou a taça.

-É Vale, você precisa beber e muito essa noite!!!

Ímã de Traste (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora